Entre os anos de 2002 a 2007, o mundo viveu uma fase de grande euforia por conta do crescimento econômico expressivo. Isto gerou uma falsa ilusão de que era possível medir e evitar os riscos desse período virtuoso da economia mundial. A empolgação era tamanha, que nos Estados Unidos, por exemplo, as famílias pararam de poupar, determinando a crise a que chegamos no ano passado.
Para Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Gávea Investimentos, a crise internacional ainda não acabou e as mudanças e as incertezas provocadas por ela não são passageiras.
Fraga acredita que o pano de fundo desta crise tem dimensões imensuráveis e que o mundo lida com uma situação inédita. Diante desse cenário ainda incerto, adverte Fraga, vale o velho ditado: cautela e caldo de galinha não faz mal a ninguém. “Esta crise global é a mais violenta da história. Nunca se viu uma desaceleração econômica tão brusca”, pondera. “O PIB mundial que estava em 5% em 2007, deve cair para 1,5% neste ano. O comércio internacional já caiu 12% em volume”.
Sem precedentes – Como não há precedentes históricos, Fraga não arrisca prever quais as consequências da crise a médio e longo prazo. Como a saída da crise ainda não é definitiva, ele diz que os governos vão continuar modificando suas políticas internas. “As cargas tributárias devem aumentar, o protecionismo vai persistir, e o mundo terá que se acostumar com crescimentos menores a partir de agora”, disse. “O ambiente atual é hostil e a situação deve ser bem monitorada”.
O ex-presidente do BC explica que a conjuntura econômica mundial é cíclica, ou seja, os padrões de euforia e depressão se alternam. Com esta visão, Fraga argumenta que o ciclo da crise atual ainda não acabou, mas em médio prazo o mundo deve reagir de forma bastante positiva. “O caminho será turbulento, mas sou otimista na superação desta crise”, afirmou. “Com balanço financeiro robusto e superação das medidas protecionistas, o comércio mundial reserva boas oportunidades para todos”.
Brasil – Armínio Fraga avalia que o Brasil está passando muito bem pela crise internacional, uma vez que a política do País está abrindo novos mercados e está valorizando mais o mercado interno. “Com esta estabilidade, podemos nos diferenciar dos outros países. Nossa base econômica está consolidada”, disse Fraga. “Acho que nosso maior desafio é crescer com sustentabilidade. O agronegócio é destaque para o futuro que enxergo para o Brasil, porém, precisamos rever alguns conceitos”.