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Insumos

Crise prejudica soja

<p>Vendas antecipadas de soja referentes à safra 09/10 não chegam à 5% no Mato Grosso.</p>

As vendas antecipadas de soja referente à safra 09/10 continuam estancadas e não chegam a 5% em Mato Grosso. No ano passado, neste mesmo período, o valor negociado alcançava 23%, segundo informações do Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada (Imea). É a pior previsão para comercialização do grão verde dos últimos anos.

O Imea aponta a volatilidade dos preços como o principal fator da “crise” que emperra os negócios entre compradores e vendedores. “Simplesmente não há mercado futuro para a próxima safra de soja”, afirma o analista de mercado Seneri Paludo, superintendente do Imea, órgão vinculado à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato). A venda futura é uma prática da agricultura estadual para obtenção de recursos para fazer frente à aquisição dos insumos básicos. O produtor trava uma negociação, geralmente com uma trading – grandes empresas do segmento – pega o valor da venda da soja em dinheiro, ou mesmo os insumos, e numa data acertada para o período pós-colheita, ‘paga’ a empresa com sacas de soja. Por meio desta prática, o produtor mato-grossense chegou a negociar mais de 70% da safra antecipadamente, e em alguns casos, havia negócios próximos aos 100%. No entanto, a recomendação quando se trava este tipo de relação, é de antecipar apenas o volume necessário para cobrir os custos de produção e garantir remuneração.

“Tivemos este ano dois períodos diferentes: primeiro, quando as cotações na Bolsa de Chicago estavam em alta, as tradings evitaram as compras para não correr riscos no futuro. Agora, que estamos com preços baixos, é o produtor que não quer vender porque as margens não chegam a ser remuneradoras”.

Paludo vê cenários distintos ao comparar este ano com a mesma época, em 2008. “No ano passado, os produtores negociaram a saca de soja a US$ 18 (R$ 34,20, no câmbio atual). Este ano, já quase entrando em agosto, os preços oscilam na casa de US$ 15 (RS 28,50). Mas não dá para fazer esta analogia, pois no ano passado, quando a cotação era melhor, os custos de produção eram outros, em torno de US$ 900 por hectare. Este ano os custos caíram para US$ 650, na média, porém não chegam a compensar os baixos preços que estão sendo pagos pela saca de soja”, avalia.

Para o analista, vender agora não é um bom negócio porque o produtor não consegue “tirar” esta diferença. “Se o sojicultor vender a soja a US$ 15 e colher 50 sacas, terá uma receita de US$ 750 por hectare, para uma despesa média de US$ 650 (custos). Ganhará por volta de US$ 100 por hectare. Porém, o produtor terá de pagar arrendamento de terra (US$ 52/hectare) e outras despesas, como máquinas e equipamentos, em torno de US$ 30. No final das contas, a margem [de lucro] fica praticamente empatada com os custos, daí a cautela dos produtores mato-grossenses em antecipar as vendas neste momento de baixa do mercado”.

Margens – Eduardo Godoi, analista de Mercado da AgRural, concorda que o cenário atual é desfavorável para o produtor antecipar vendas. “O mercado está muito ruim, ninguém está fazendo nada neste momento porque os preços para o próximo ano, caso a soja seja vendida agora, na maioria das regiões – salvo no sul do Estado – terão margens negativas. Por isso, o produtor não deve ter pressa e procurar agir com a máxima cautela”.

Segundo ele, na região de Sorriso, maior produtor estadual do grão e localizado a 460 quilômetros ao norte de Cuiabá, os preços da soja para entrega em março de 2010 vão ficar no patamar de US$ 14,50 dólares por saca. No câmbio atual, com dólar valendo R$ 1,90, esse preço significa R$ 27,50 por saca. “Dependendo dos custos do produtor, ele poderá ter margem neutra ou até mesmo negativa”.

Godoi lembra que neste ano o melhor preço da soja para 09/10 ocorreu no dia 11 de junho, com a saca cotada a US$ 10,83 por bushell (US$ 17,50 por saca), ou R$ 33,25. O bushell é uma medida norte-americana que equivale a pouco mais de 27 quilos.

A recomendação do analista é esperar que os preços de Chicago se recuperem ou o real se deprecie em relação ao dólar. “Qualquer um destes movimentos poderá mudar o panorama dos preços. Se as cotações voltarem ao patamar de US$ 10/bushell e o dólar se valorizar, com certeza o cenário para o produtor será outro”.

Para João Birkham, coordenador do Centro de Comercialização de Grãos da Famato, o produtor precisa controlar a ansiedade e aprender a não ter pressa. “A tendência é o dólar se manter em queda, se a economia mundial continuar se recuperando. O produtor tem que ter cautela e paciência”.