No mercado internacional, há fatores que levam analistas e investidores a apostar que os preços da soja não permanecerão no segundo semestre em patamares tão elevados quanto os do fim do primeiro. O Brasil, em contrapartida, vê seu mercado interno às voltas com evidências de aperto no quadro de oferta e demanda, muito por conta da quebra da safra argentina.
A seca no país vizinho, a pior em pelo menos 50 anos, fez com que o Brasil tivesse que responder pelo abastecimento por parte da soja e seus derivados que originalmente seriam exportados pelos argentinos. O cenário ajuda a explicar o aumento dos embarques da cadeia da soja no primeiro semestre – e um aumento ocorrido em uma safra menor que a anterior.
De janeiro a junho deste ano, os embarques de farelo de soja somaram 6,4 milhões de toneladas, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, acima das 5,9 milhões de toneladas do mesmo período de 2008. O crescimento das vendas de soja em grão ao mercado externo foi ainda mais expressivo, passando de 13,7 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2008 para 19,3 milhões de toneladas na primeira metade deste ano.
“Existe a possibilidade de o mercado de soja do Brasil ficar ‘ilhado’ no segundo semestre. Pode haver um descolamento, com quedas lá fora e altas aqui”, afirma Renato Sayeg, da Tetras Corretora. “Os fatores de alta que surgirem no exterior poderão ser ignorados no mercado local”.
Um dos sinais de tendência de baixa nos preços no exterior – ainda que não se possa ser assertivo, já que as condições podem mudar – é a “inversão” do mercado. Os contratos com vencimento mais curto estão mais elevados que os mais longos. Ontem, na bolsa de Chicago, os papéis para julho caíram 15,50 centavos de dólar, a US$ 12,43 por bushel, e os quem vencem em novembro recuaram 9,50 cents, para US$ 10,06 por bushel.
No Brasil, vê-se alta maior que a usual dos prêmios para exportação. “Nos últimos cinco anos, a média dos prêmios para embarque de farelo ficou entre zero e US$ 5 por tonelada. No momento, os contratos para novembro estão com prêmios de até US$ 70”, afirma.
“A Argentina é que tem dado o tom do mercado neste ano”, atesta Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). O vizinho reduziu sua oferta do grão, mas as compras no exterior continuaram em alta.
A Abiove apresentou nesta quinta-feira previsão de processamento de 31,6 milhões de toneladas de soja em 2009, volume apenas 0,9% menor que o de 2008. A produção a ser consumida no período de um ano que vai até janeiro de 2010 – que corresponde, portanto, à colheita realizada na safra 2008/09 – deve, por sua vez, recuar 4,2%, para 57,4 milhões de toneladas.