Ainda que as exportações de carne suína tenham crescido nos primeiros cinco meses do ano mesmo com a crise financeira mundial e dos casos de gripe A (H1N1), a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) vai mostrar, durante o XIII Seminário Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura, de 1 a 3 de julho, em Foz do Iguaçu (PR), que o mercado interno segue como uma boa alternativa para o setor.
Em entrevista à Agência SAFRAS, o presidente da ABCS, Rubens Valentini, salienta que o setor ainda precisa visualizar a importância do mercado interno.
Ele ressalta que apesar da falta de indicadores, o Brasil teve uma boa resposta na demanda em tempos de crise financeira internacional, que trouxe prejuízos às exportações. “A crise financeira mundial provocou queda nos embarques em novembro e dezembro, com uma sobra interna de 60 mil toneladas de carne suína, que foi totalmente absorvida pelo mercado, haja vista que a oferta interna permaneceu ajustada à demanda, pois não houve sobra de animais nas granjas e aumento de peso nos animais abatidos nos últimos meses”, afirma.
Por outro lado, apesar da procura firme e da oferta ajustada, o preço pago ao produtor não teve evolução e permaneceu muito baixo de janeiro a maio, melhorando apenas no final do último mês. “Isso ocorreu por conta da falta de liquidez do produtor, que foi obrigado a vender animais para quem lhe oferecesse dinheiro, mesmo que a preços baixos. É preciso lembrar que com a quebra da Sadia, o projeto que a empresa tinha em Lucas do Rio Verde (MT) não chegou a ser concluído, o que forçou a negociação de animais no mercado spot de São Paulo.
Esse fato também trouxe dificuldades financeiras a produtores do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Mas a decisão de negociar os animais apenas ocorreu porque havia demanda para o produto, o que mostra que ela está crescendo”, explica.
Valentini sinaliza que no varejo os preços da carne suína não tiveram queda significativa neste período de crise, visto que as promoções foram raras.
“Quando ocorreram estiveram ligadas à venda de cortes `picados, de forma tradicional, sendo que o consumidor não tem o hábito de consumir carne suína dessa forma. O mesmo não ocorre com o frango, com seus cortes diferenciados. É por isso que se não houver uma mudança na maneira de apresentar o produto o setor continuará derrapando”, analisa. “Os resultados dos projetos piloto empregados nas grandes redes de varejo vêm mostrando resultados muito positivos, com uma nova forma de apresentação do produto e crescimento na demanda, com o consumo per capita aumentando para quase 14 quilos no ano passado”, acrescenta.
Em termos de exportação, Valentini considera válidas as ações do Brasil em busca de outros mercados, mas alerta que países como Rússia, China, Alemanha, Itália e Japão são produtores de carne suína e buscam o produto em outros países apenas como complemento. “Veja o caso da Rússia, que após apresentar dificuldades na economia, com o fim do regime soviético, passou a importar o produto para atender a demanda interna. Naquele momento, grande parte da população russa havia migrado do campo para a cidade. Hoje a realidade é diferente e o país está reestruturando sua produção e melhorando a genética animal, passando a produzir mais e tendo de importar menos. Além disso, eles não ficaram dependentes apenas do Brasil, país do qual compravam 70% de sua necessidade e agora 30%, buscando mercados alternativos como Canadá, Estados Unidos, México e Dinamarca”, destaca.
Por conta da disputa cada vez mais acirrada dos países por consumidores e diante da dificuldade em concretizar negócios, a suinocultura brasileira deveria concentrar suas atenções no mercado interno, com grande potencial de crescimento. “É esse caminho que continuamos buscando, pois hoje temos a certeza que estamos adotando uma abordagem correta ao consumidor. Mas é preciso ir além, buscando um modelo em que as indústrias atendam o varejo de acordo com a necessidade do consumidor, com o envio de carcaças na proporção adequada ou em cortes definidos. Temos de alterar o modelo em que a indústria envia carcaças ao ponto de venda para ser picada de qualquer forma”, avalia.
Para Valentini, a busca de recursos junto a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) visando a realização de uma pesquisa junto às indústrias de pequeno e médio porte será muito importante para levar adiante a ideia de dispor ao consumidor um produto mais adequado às suas necessidades. “Aproveitaremos o Seminário Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura para discutir ideias complementares visando o aperfeiçoamento da Campanha Um Novo Olhar em todo o País, fortalecendo a melhora na demanda interna”, finaliza.