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Comentário Avícola

Bem-estar e lucro na avicultura

<p>Valter Bampi fala sobre a relação das práticas de bem-estar animal na produção avícola com a lucratividade do negócio. Engana-se quem pensa que bem-estar animal é apenas uma moda.</p>

A tabela de indicadores abaixo, com dados fictícios, tem a pretensão de mostrar um modelo de gerenciamento de uma propriedade avícola, buscando o bem-estar das aves e de seus acionistas nos seus negócios, já que há uma errada interpretação de que as agroindústrias maltratam seus animais para auferir lucros.

A verdade é totalmente ao contrário, pois, na medida em que se proporciona um melhor conforto às aves, os indicadores zootécnicos melhoram e os lucros também aumentam. Portanto, todos nós praticamos com exaustão o bem-estar animal.

Ano 2008

I Trim.2009

II Trim. 2009

III Trim. 2009

IV Trim. 2009

Viabilidade cria e recria

95,20%

92,41%

95,00%

93,80%

93,80%

Uniformidade das Fêmeas

83,20%

86,50%

85,00%

83,00%

76,00%

Uniformidade dos Machos

92,00%

93,00%

92,00%

93,00%

85,00%

Produção de ovos

64,59%

64,10%

62,50%

62,76%

63,07%

Eclosão

81,99%

81,94%

83,01%

82,59%

83,65%

Aproveitamento na Granja

96,63%

96,57%

96,72%

96,64%

96,72%

Aproveitamento no Incubatório

94,68%

94,68%

94,81%

94,71%

94,93%

Mortalidade 7 dias

1,15%

0,74%

0,76%

0,81%

1,50%

CA

2,00

1,98

1,997

1,90

2,040

GPD

55,7

56,3

56,5

56,2

56,3

Mortalidade Final

6,09%

5,08

5,08

4,54

4,91

Lesão de Pele

3,74%

1,84%

2,09%

3,71%

3,84%

Custo Plataforma peso vivo

R$ 1,6033

R$ 1,5135

 R$ 1,6900

 R$ 1,5841

 R$ 1,6467

Custo Abatido

 R$       –

 –

 –

 –

 –

Custo ton/ração

 R$  556,34       

R$ 575,08

 R$ 539,33

 R$ 547,69

 R$ 537,28

O Brasil adota iniciativas de bem-estar animal na produção e no transporte, reagindo a pressões crescentes de importadores. O Ministério da Agricultura preparou uma instrução normativa que recomenda boas práticas aos pecuaristas, incluindo “dieta satisfatória”, transporte que reduza o “estresse” dos animais, e instalações adequadas para diferentes espécies. Com isso, o Brasil demonstra que cuida bem dos animais e que, em decorrência, sua carne é segura.

A crescente exigência de bem-estar animal em seminários sobre o futuro do comércio mundial

Leis e regulamentação vêm sendo estabelecidas em vários países e certificações adotadas por empresas ao redor do mundo, em meio à crescente demanda dos consumidores. Uma exigência que surge, por exemplo, é de que o frango seja criado livremente. A Unilever decidiu que não vai mais comprar milhões de ovos de produtores do leste europeu para fazer maionese, porque a produção é feita com as aves em gaiolas. A americana Burger King também começou a comprar 5% de seus ovos e 20% da carne suína de produtores que não confinam os animais.

Nesse cenário, a iniciativa no Brasil para proporcionar o bem-estar animal em todas as etapas, desde o nascimento até seu transporte, foi estimulada pelo próprio setor privado. Quando o setor faz isso, é considerado um “termômetro” da pressão no exterior sobre o modo de produção de carnes bovina, de frango, de suíno, além de ovos, peles, couro, mel e outros produtos envolvendo animais com finalidade comercial. Temos que sinalizar aos parceiros que melhoramos os nossos padrões e, na verdade, desde 1934, legislações de proteção de animais é um tema tratado no Brasil.
 
O decreto 24.645, de 1934, considera maus-tratos “conservar animais embarcando por mais de 12 horas sem água e alimentos” e prevê multas. Uma entidade americana de proteção de animais, a Humane Society International, afirma que 63 bilhões de animais foram criados para consumo humano em 2007. E denunciou que no Brasil, China e Índia, sistemas de proteção industrial de frangos e suínos substituem cada vez mais práticas de bem-estar.

A advogada Sarah Stewart, da entidade, mencionou estudo segundo o qual os produtores na América Latina perdem US$ 2 por carcaça de boi, por não terem cuidado bem dos animais. Na cena internacional, há duas visões sobre o tema. Os países ricos querem incluir nas regras da OMC o direito de dar subsídios para garantir o bem-estar animal. Além disso, com o tema nas regras da entidade, esses países poderiam acionar exportadores acusados de maltratar animais e fazer retaliações.

Do outro lado, exportadores do Mercosul se recusam a falar de subsídios. E só aceitam negociar o tema na OIE, a Organização Mundial de Saúde Animal, onde apenas existem recomendações e sempre por um consenso mais técnico.

Gustavo Idigoras, da Argentina, cobrou coerência dos países europeus, fazendo um vínculo entre bem-estar animal e barreiras comerciais. Disse que se a Europa realmente quisesse estimular exportadores, não cobraria enormes tarifas de importação que vão de 141% sobre a carne bovina e 93% sobre o frango. Um representante europeu retrucou que a Argentina não podia reclamar já que tem imposto restrições às exportações.

A tabela de indicadores acima mostra que o agornegócio é sustentado, basicamente, por resultado econômico. E eu incluo aqui o termo sócioeconômico,  já que milhões de empregos diretos – mais de seis milhões na avicultura brasileira, por exemplo – são gerados.

Indicadores mostram que cada organização ou país deve melhorar seus índices semanalmente ou por trimestre – exemplo acima -, mensalmente, anualmente ou no período que desejar. Essas melhorias resultarão no bem-estar propalado ao animal e aos envolvidos no negócio – acionistas, colaboradores, comunidade, etc.

A avicultura como qualquer outro setor do agronegócio precisa do bem-estar transformado em indicadores zootécnicos e econômicos para a viabilidade de suas organizações, no contexto de concorrência mundial. Portanto, a ideia da tabela proposta no topo do artigo é uma contribuição a qualquer empresa  que deseje colocá-la em prática.

Por Valter Bampi – Médico veterinário e diretor-executivo Grupo Big Frango.