A tabela de indicadores abaixo, com dados fictícios, tem a pretensão de mostrar um modelo de gerenciamento de uma propriedade avícola, buscando o bem-estar das aves e de seus acionistas nos seus negócios, já que há uma errada interpretação de que as agroindústrias maltratam seus animais para auferir lucros.
A verdade é totalmente ao contrário, pois, na medida em que se proporciona um melhor conforto às aves, os indicadores zootécnicos melhoram e os lucros também aumentam. Portanto, todos nós praticamos com exaustão o bem-estar animal.
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Ano 2008 |
I Trim.2009 |
II Trim. 2009 |
III Trim. 2009 |
IV Trim. 2009 |
Viabilidade cria e recria |
95,20% |
92,41% |
95,00% |
93,80% |
93,80%
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Uniformidade das Fêmeas |
83,20% |
86,50% |
85,00% |
83,00% |
76,00%
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Uniformidade dos Machos |
92,00% |
93,00% |
92,00% |
93,00% |
85,00%
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Produção de ovos |
64,59% |
64,10% |
62,50% |
62,76% |
63,07%
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Eclosão |
81,99% |
81,94% |
83,01% |
82,59% |
83,65%
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Aproveitamento na Granja |
96,63% |
96,57% |
96,72% |
96,64% |
96,72%
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Aproveitamento no Incubatório |
94,68% |
94,68% |
94,81% |
94,71% |
94,93%
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Mortalidade 7 dias |
1,15% |
0,74% |
0,76% |
0,81% |
1,50%
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CA |
2,00 |
1,98 |
1,997 |
1,90 |
2,040
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GPD |
55,7 |
56,3 |
56,5 |
56,2 |
56,3
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Mortalidade Final |
6,09% |
5,08 |
5,08 |
4,54 |
4,91
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Lesão de Pele |
3,74% |
1,84% |
2,09% |
3,71% |
3,84%
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Custo Plataforma peso vivo |
R$ 1,6033 |
R$ 1,5135 |
R$ 1,6900 |
R$ 1,5841 |
R$ 1,6467 |
Custo Abatido |
R$ – |
– |
– |
– |
– |
Custo ton/ração |
R$ 556,34 |
R$ 575,08 |
R$ 539,33 |
R$ 547,69 |
R$ 537,28 |
O Brasil adota iniciativas de bem-estar animal na produção e no transporte, reagindo a pressões crescentes de importadores. O Ministério da Agricultura preparou uma instrução normativa que recomenda boas práticas aos pecuaristas, incluindo “dieta satisfatória”, transporte que reduza o “estresse” dos animais, e instalações adequadas para diferentes espécies. Com isso, o Brasil demonstra que cuida bem dos animais e que, em decorrência, sua carne é segura.
A crescente exigência de bem-estar animal em seminários sobre o futuro do comércio mundial
Leis e regulamentação vêm sendo estabelecidas em vários países e certificações adotadas por empresas ao redor do mundo, em meio à crescente demanda dos consumidores. Uma exigência que surge, por exemplo, é de que o frango seja criado livremente. A Unilever decidiu que não vai mais comprar milhões de ovos de produtores do leste europeu para fazer maionese, porque a produção é feita com as aves em gaiolas. A americana Burger King também começou a comprar 5% de seus ovos e 20% da carne suína de produtores que não confinam os animais.
Nesse cenário, a iniciativa no Brasil para proporcionar o bem-estar animal em todas as etapas, desde o nascimento até seu transporte, foi estimulada pelo próprio setor privado. Quando o setor faz isso, é considerado um “termômetro” da pressão no exterior sobre o modo de produção de carnes bovina, de frango, de suíno, além de ovos, peles, couro, mel e outros produtos envolvendo animais com finalidade comercial. Temos que sinalizar aos parceiros que melhoramos os nossos padrões e, na verdade, desde 1934, legislações de proteção de animais é um tema tratado no Brasil.
O decreto 24.645, de 1934, considera maus-tratos “conservar animais embarcando por mais de 12 horas sem água e alimentos” e prevê multas. Uma entidade americana de proteção de animais, a Humane Society International, afirma que 63 bilhões de animais foram criados para consumo humano em 2007. E denunciou que no Brasil, China e Índia, sistemas de proteção industrial de frangos e suínos substituem cada vez mais práticas de bem-estar.
A advogada Sarah Stewart, da entidade, mencionou estudo segundo o qual os produtores na América Latina perdem US$ 2 por carcaça de boi, por não terem cuidado bem dos animais. Na cena internacional, há duas visões sobre o tema. Os países ricos querem incluir nas regras da OMC o direito de dar subsídios para garantir o bem-estar animal. Além disso, com o tema nas regras da entidade, esses países poderiam acionar exportadores acusados de maltratar animais e fazer retaliações.
Do outro lado, exportadores do Mercosul se recusam a falar de subsídios. E só aceitam negociar o tema na OIE, a Organização Mundial de Saúde Animal, onde apenas existem recomendações e sempre por um consenso mais técnico.
Gustavo Idigoras, da Argentina, cobrou coerência dos países europeus, fazendo um vínculo entre bem-estar animal e barreiras comerciais. Disse que se a Europa realmente quisesse estimular exportadores, não cobraria enormes tarifas de importação que vão de 141% sobre a carne bovina e 93% sobre o frango. Um representante europeu retrucou que a Argentina não podia reclamar já que tem imposto restrições às exportações.
A tabela de indicadores acima mostra que o agornegócio é sustentado, basicamente, por resultado econômico. E eu incluo aqui o termo sócioeconômico, já que milhões de empregos diretos – mais de seis milhões na avicultura brasileira, por exemplo – são gerados.
Indicadores mostram que cada organização ou país deve melhorar seus índices semanalmente ou por trimestre – exemplo acima -, mensalmente, anualmente ou no período que desejar. Essas melhorias resultarão no bem-estar propalado ao animal e aos envolvidos no negócio – acionistas, colaboradores, comunidade, etc.
A avicultura como qualquer outro setor do agronegócio precisa do bem-estar transformado em indicadores zootécnicos e econômicos para a viabilidade de suas organizações, no contexto de concorrência mundial. Portanto, a ideia da tabela proposta no topo do artigo é uma contribuição a qualquer empresa que deseje colocá-la em prática.
Por Valter Bampi – Médico veterinário e diretor-executivo Grupo Big Frango.