Redação (09/12/2008)- Terminamos o ano contabilizando os primeiros efeitos da mais grave crise mundial desde os anos 1930, que afetou brutalmente a liquidez dos mercados. Mesmo assim, para sermos coerentes com os resultados colhidos na maior parte de 2008, a avaliação sobre 2008 é positiva. O ano foi bom. Não fosse a crise financeira global, teria sido um dos melhores anos. Bons preços, mercado interno em crescimento, exportações estáveis e com perspectivas ainda melhores. Avançamos em todos os aspectos.
Entre os pontos positivos, que fizeram o setor avançar em 2008, destaco:
O Chile reconheceu Santa Catarina como região livre de febre aftosa sem vacinação;
Os EUA enviaram ao Brasil missão veterinária para coletar dados com o objetivo de realizar análise de risco, que deve estar prestes a ser concluída;
O Japão encaminhou extenso questionário como primeiro e decisivo passo para o processo de abertura do maior mercado importador de carne suína do mundo;
É possível enxergar perspectiva concreta de abertura de alguns novos mercados, em particular a China;
Do ponto de vista do mercado interno, 2008 foi um ano excelente, com aumento do consumo per capita, pouco acima de 13 kg. A produção de carne suína deverá terminar o ano com 3,03 milhões de toneladas, em relação a 2,98 milhões de t em 2007. Em 2009, estimamos uma produção de 3,1 milhões de t, o que deverá significar uma ampliação de 2,3% em relação a 2008;
No Rio Grande do Sul, sob a liderança do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos (SIPS), as ações de sanidade animal avançam muito bem, preparando o Estado para receber a missão da União Européia, que, acreditamos, deverá ocorrer no primeiro semestre de 2009. Não se exporta sem sanidade, que é ação pública, por meio dos serviços estaduais e federal, e com a participação do setor privado, apoiando e incentivando o poder público;
Somos um dos mais importantes celeiros mundiais. Produzimos alimentos e isso é um dado que merece destaque, pois, pelo efeito elasticidade, o setor sofre menos abalos com a queda de renda resultante de menor crescimento e recessão;
Em 2008, ocorreu uma maxidesvalorização no Brasil, o que sempre fortalece a nossa competitividade em relação aos concorrentes. O efeito não é imediato, pois alguns meses de exportação passada ainda tiveram câmbio fixo. No inicio de 2009, porém, seremos mais competitivos, sem sombra de dúvida;
Nossa dimensão continental e excelentes condições climáticas permitem produzir grão para ração com grande competitividade, o mesmo acontecendo com a produção de suínos.
Devagar, a carne suína brasileira começa a ir longe.
Também enfrentamos e continuaremos a enfrentar dificuldades na abertura de novos mercados. Assim, cito aqui alguns pontos negativos observados em 2008:
Lentidão dos países em reconhecer Santa Catarina como detentora de status sanitário máximo, indicando a erradicação da aftosa. A OIE – Organização Internacional de Saúde Animal concedeu esse atestado depois de importantes ações dos serviços públicos de saúde animal, estaduais e federais, e de investimentos do setor privado por meio do ICASA – Instituto Catarinense de Agropecuária, em 2005 e 2006;
Brutal falta de crédito para financiar a produção e o comércio, tanto no Brasil como nos países importadores.
O México parece ter postergado, indefinidamente, a promessa de realizar missão veterinária ao Brasil;
A Coréia do Sul, importante comprador de carne suína de União Européia, EUA, Canadá, México, Chile e Austrália, tem se recusado a iniciar entendimentos. Inúmeras reuniões ocorreram em Genebra, durante os periódicos encontros do SPS (Acordo Sanitário e Fitossanitário da OMC), e uma reunião do Ministério da Agricultura em Seul, neste ano. Mesmo assim, não conseguimos remover o protecionismo coreano;
A ABIPECS voltou a solicitar ao Itamaraty o início de consultas no âmbito do mecanismo de solução de controvérsias da OMC, visando eventual contencioso com a Coréia. É inaceitável assistirmos de maneira passiva o tratamento que vem sendo dispensado ao Brasil pela Coréia do Sul e, particularmente, à suinocultura nacional;
A grande barreira continua sendo a sanitária, mas há também a questão da discriminação das nossas vendas de carne suína no mercado russo, o principal para as exportações brasileiras, tema que nos ocupou no final de novembro, durante a renegociação dos termos de ingresso da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC). O assunto esteve em pauta com a vinda ao Brasil do ministro russo da Agricultura, Alexey Gordeev, e do presidente Dmitri Medvedev. Estamos acompanhando de perto as negociações entre as autoridades brasileiras e russas relacionadas à acessão da Rússia na OMC e à questão das cotas para a carne suína naquele mercado. A posição do setor, que o governo brasileiro apóia, tem sido a de defender que a Rússia passe a administrar as cotas sem privilegiar este ou aquele país. Deixaria, portanto, de existir cota para os EUA e cota para a União Européia (UE). O montante total de cotas seria distribuído dentro do que no jargão OMC se chama "nação mais favorecida", isto é, com base na melhor oferta.
Começamos 2008 com muitas certezas e chegamos ao final do ano com diversas incertezas! A perda dos referenciais para a tomada de decisão tornam, neste momento, difícil apostar em qualquer cenário para 2009. A volatilidade dos mercados de moeda dificultam a normalidade do comércio. A falta de crédito permanece uma constante. Mesmo assim, esperamos mais um ano de estabilidade entre oferta e demanda, com alguma possibilidade de moderada retração da demanda, que deve ser compensada por custos mais baixos. No mercado externo, temos fortes possibilidades de obter acesso a novo mercados, em contrapartida às dificuldades de prever como se comportarão nossos principais clientes, principalmente a Rússia.
Estimamos a manutenção de nossas vendas externas no patamar de 600 mil toneladas. No mercado interno, o desempenho deve se manter bem próximo aos 2,5 milhões de toneladas.