Redação (24/12/2008)- No caso da carne bovina, a retração da demanda de países tradicionalmente compradores, como a Rússia, provocou ligeira queda nos valores dos cortes dianteiros no atacado. O mercado russo tem preferência por esse tipo de corte.
Na última semana, o quilo do dianteiro teve uma redução de R$ 0,20 chegando a R$ 5,40, segundo os analistas, resultante do ajuste feito pela Rússia. Nos últimos 30 dias, a queda chegou a 12%, passando de R$ 5,00 para R$ 4,40. O traseiro, ao contrário teve ligeira alta também por causa do mercado externo. Segundo Fabiano Tito Rosa, técnico da Scot Consultoria, de Bebedouro (SP), o Brasil está gradualmente aumentando o volume vendido à União Européia (UE), depois do embargo. ""Esses países (da UE) têm preferência pelos cortes traseiros"", diz o consultor.
Ao mesmo tempo, internamente houve redução do consumo, evento sazonal no país. Normalmente, na segunda quinzena do mês, o consumo de carne cai. Segundo Rosa, a expectativa de recessão também interfere no comportamento dos consumidores, que passam a comprar menos. No entanto, segundo Rosa, a previsão de aquecimento deve se concretizar nas festas de fim de ano.
O consultor afirma que produtores e exportadores ficam na expectativa dos rumos que a economia mundial deve tomar no ano que vem e que terá reflexos para quem comercializa a produção internamente, para os que disputam o mercado internacional ou mesmo para os consumidores.
Rosa vislumbra como cenário em 2009, um menor crescimento dos países desenvolvidos. ""O crédito, agora escasso, deve voltar a circular, mas num volume menor e mais caro"", afirma. A produção mundial de carne deve recuar entre 1% e 2%, prevê.
Com a valorização do dólar nos últimos dois meses, e o espaço deixado pelos principais concorrentes – Austrália, Estados Unidos, alguns países da União Européia e Argentina – as exportações brasileiras podem crescer. Segundo Rosa, a Argentina é uma incógnita porque apesar de ter uma boa produção garantida, a política econômica do governo pode interferir no volume a ser comercializado no exterior.
De acordo com o consultor, as exportações brasileiras de carne bovina deverão ter um recuo de cerca de 15% este ano. Antes mesmo da crise, a expectativa era de redução, em função de dois fatores. Primeiro, explica Rosa, foi a diminuição da produção, resultante do ajuste da cadeia da carne. ""Com a crise enfrentada nos últimos anos, pecuaristas diminuiram investimentos e abateram matrizes"", relembra. Depois, a moeda norte-americana, em queda até dois meses atrás, também interferiu na rentabilidade. O setor, agora, também se ressente dos efeitos da crise global.
Rosa afirma que as perspectivas são boas para o Brasil. Para ele, se continuar o ritmo de habilitação de fazendas para exportação, o mercado poderá se abrir. ""Soma-se a isso o fato do preço do nosso produto ser competitivo, de termos um bom volume e qualidade"", avalia Rosa.
Com notícias de crise e recessão, o consumidor interno acaba também se retraindo e ""segura"" os gastos. ""Porém, o mercado será aquecido com a entrada do 13º salário e com os empregos temporários do final de ano"", afirma.