Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Um sistema industrial alternativo de criação de aves caipiras

<p>Veja artigo técnico feito por representantes da Embrapa.</p>

Firmino José Vieira Barbosa 1
Fábio Mendonça Diniz 2
Cíntia de Souza Clementino 3

1 Professor Assistente da Universidade Estadual do Piauí (M.Sc. em Biotecnologia e Ciência Animal), convênio interinstitucional com a Embrapa Meio-Norte. E-mail: [email protected]
2 Pesquisador da Embrapa Meio-Norte (Ph.D. em Genética Molecular). E-mail: [email protected]
3 Estagiária da Embrapa Meio-Norte (Biologia – UFPI). E-mail: [email protected]

 A avicultura, seja ela em um sistema de produção extensivo ou intensivo, é uma atividade de grande importância para o setor agropecuário brasileiro. A criação de galinhas tornou-se uma fonte de rendimentos tanto para pequenos produtores familiares nas áreas rurais como para a indústria do setor.
 As galinhas dos nossos quintais e terreiros são animais resultantes de mais de 500 anos de cruzamentos, provavelmente introduzidas no Brasil por corsários franceses antes do descobrimento (GESSULI, 1999). O produto deste longo processo de adaptação às condições impostas pelo ambiente e pelos criadores que as submeteu a um regime de subsistência, resultou em uma ave sem uma raça bem definida, e por isso denominada “galinha caipira”, “capoeiras” ou “naturalizada”, porém com características de grande interesse prático, sendo tolerantes às temperaturas mais elevadas, e mais adaptadas às circunstâncias desfavoráveis do ambiente em que são criadas.
 Novas formas de criação de galinhas vêm recebendo forte apoio dos empresários do setor avícola que visam à diversidade de um mercado lucrativo com produtos originados de um sistema alternativo de produção o qual visa atender também consumidores que exigem uma alimentação mais natural (DEMATTÊ-FILHO & MENDES, 2001). Não somente os empresários do setor tendem a se beneficiar com as novas tecnologias desenvolvidas, mas também os pequenos e médios produtores. Desta forma, foi projetado pela Embrapa Meio Norte, dentro de um Sistema Alternativo de Criação de Aves Caipiras, o modelo SACAC-Industrial, para produzir ovos fertilizados, que após a incubação artificial, tem os pintos recém-nascidos distribuídos aos agricultores familiares assentados e/ou instalados em zonas de produção. Diferentemente do SACAC-Familiar (BARBOSA et al., 2001), onde os agricultores realizam todas as fases de produção, o SACAC-Industrial, de forma inovadora, propõe práticas de manejo apenas reprodutivas, ficando as fases de cria, recria e engorda dos pintos nascidos e distribuídos sob a responsabilidade de membros associados. Outra possibilidade é de que os agricultores familiares adquiram mensalmente os ovos fertilizados e os incubem em chocadeiras instaladas nas próprias residências. Assim, diminuiriam os custos com instalações e aquisição de equipamentos para os núcleos de multiplicação.
 Para atender essa demanda, iniciou-se a montagem de um banco de germoplasma para produção de aves reprodutoras totalmente adaptadas à Região Meio-Norte, e que uma vez submetidas a um manejo apropriado, manterão todas as características peculiares de aves caipiras. O processo se iniciou por meio da formação de grupos genéticos de aves com o fenótipo predominante na região e da seleção de caracteres desejáveis, visando a formação de um grupo de “aves-avós”. Após os procedimentos de extração de DNA, verifica-se o ramo genealógico de origem e o grau de consangüinidade através do uso de marcadores moleculares (Figura 1).

Definidas as características principais e mais freqüentes, tais como plumagem, porte, coloração de membros, cristas e barbelas, o processo de seleção tem inicio com ensaios de metabolismo e desempenho, características de carcaça, formato, tamanho, peso, coloração e proporções dos componentes dos ovos. Essas avaliações permitem definir a aptidão zootécnica do grupo genético, assim como ainda possibilita o estabelecimento de um manejo que se adeque ao seu potencial produtivo (Figuras 2A-2D).

Obedecendo a mesma metodologia anterior de provocar o mínimo de danos a natureza, o SACAC Industrial também apresenta instalações e equipamentos simples e funcionais, aproveitando recursos naturais e materiais disponíveis no local de implantação do núcleo, que tem um custo máximo aproximado de R$ 4.200,00 (quatro mil e duzentos) reais (Figura 3).

A área total ocupada é de 462,00 m2, sendo que destes, apenas a área de 42,00 m2 tem uma edificação composta de 6,00 (seis boxes) de 7,00 m2. Cada boxe abriga 24 matrizes e 2 reprodutores com idade entre 6 e 24 meses e plena capacidade reprodutiva. O boxe é equipado com bebedouros, comedouros e ninhos, e tem acesso a um piquete telado de 70,00 m2, onde se mantêm a vegetação existente ou se introduz mais algum material vegetal para melhor conforto térmico das aves (Figura 4A).
 O grupo de aves reprodutoras selecionadas é renovado sempre que houver outras aves com as mesmas características genéticas mais produtivas e adaptadas ao local de instalação do núcleo. Ingredientes de qualidade, disponíveis em quantidade na região e a preços compatíveis com o tipo de exploração são utilizados na mistura dietética, para que as aves tenham as suas necessidades nutricionais supridas e possam ter plena capacidade produtiva. A estimativa anual de consumo por núcleo de multiplicação é da ordem de 7.850 quilos de ração, o que também gera emprego e trabalho nas unidades produtivas familiares.
 Todos os procedimentos sanitários e medidas de biossegurança necessárias são implementados, com destaque para limpeza e higienização sistemática dos equipamentos e instalações e controle das principais doenças viróticas por meio de periódica cobertura vacinal. Diariamente os ovos são coletados e acondicionados em lugares arejados (Figura 4B) e, a cada semana, incubados artificialmente por 21 dias (Figura 4C). Após este período de incubação, ocorre a eclosão, e os pintos enxutos são distribuídos aos agricultores familiares para as fases seguintes de cria, recria e engorda  (Figura 4D).

O SACAC Industrial possibilitará ao agricultor familiar adquirir pintos caipiras de qualidade, oriundos de matrizes naturalizadas produtivas e adaptadas à Região Meio-Norte. O sistema também impedirá, de certa forma, a introdução desordenada de pintos híbridos oriundos de raças melhoradas, não adaptadas ao meio, que uma vez utilizadas inadequadamente em cruzamentos com as nossas galinhas caipiras, extinguirão os nossos recursos genéticos e gerarão animais com qualidade muito inferior.
 A capacidade produtiva de cada Núcleo de Multiplicação do SACAC Industrial é de 15.840 ovos fertilizados anualmente, e uma produção esperada de pintos da ordem de 11.910 cabeças. Isto significa 19 toneladas/ano de carne de galinha caipira produzida com qualidade por núcleo instalado.
 Essa nova proposta de criação de galinhas caipiras não invalida o SACAC Familiar, pois ainda continua sendo a melhor opção para se obter produtos avícolas naturais, fontes de proteína animal de qualidade, quando o criador, de forma isolada, preferir racionalizar sua criação de galinhas caipiras.

Referências Bibliográficas

BARBOSA, F.J.V.; SAGRILO, E.; CÂMARA, J.A.; RAMOS, G.M.; AZEVEDO, J.N. Sistema alternativo de criação de aves caipiras. Teresina – PI: Embrapa Meio Norte, 2001 (folder).
DEMATTÊ FILHO, L.C.; MENDES, C.M.I. Viabilidade técnica e econômica na criação alternativa de frangos. In: Conferência Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas, 2001, Campinas. Anais… Campinas: FACTA, 2001. p. 255-266.
FIGUEIREDO, E.A.P.; AVILA, V.S.; BRUM, P.A.R.; JAENISCH, F.R.; PAIVA, D.P.; BOMM, E.R. Frango de corte colonial EMBRAPA 041. Folder da linhagem. EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 8 p., 2000.
GESSULI, O.P. Avicultura Alternativa. "Caipira". Gessuli. Porto Feliz: SP, 1999.
 
Breve currículo dos autores

Firmino José Vieira Barbosa
Mestrado em Ciência Animal pela Universidade Federal do Piauí. Cursa doutorado em Biotecnologia pela Rede Nordeste de Biotecnologia – RENORBIO. Atualmente é membro da Prefeitura Municipal de Teresina, Professor assistente da Universidade Estadual do Piauí e do Instituto de Ensino Superior Múltiplo (MA), e colaborador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA Meio Norte, Teresina-PI). Atua na área de Zootecnia, com ênfase em Criação de Animais.

Fábio Mendonça Diniz
Mestre em Bioquímica pela Memorial University of Newfoundland (Canadá) e PhD em Genética Molecular pela University of Southampton (Inglaterra). Atualmente é Pesquisador A – EMBRAPA Meio Norte (Teresina – PI). Tem experiência na área de Genética Molecular, com ênfase em Genética Animal, Genética Populacional, Filogenia Molecular; atuando principalmente nos seguintes temas: Filogeografia, Desenvolvimento de Marcadores Moleculares, Conservação e Caracterização de Recursos Genéticos, Melhoramento Genético, Genética na Aqüicultura e Bioquímica dos Alimentos.

Cíntia de Souza Clementino
Graduanda de Biologia da Universidade Federal do Piauí e estagiária da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA Meio-Norte) no Laboratório de Biologia Molecular e Biotecnologia, atuando principalmente nos seguintes temas: diversidade genética, caracterização molecular e melhoramento genético animal.

(Para Ilustrações, escreva para [email protected])