Redação (10/10/2008)- “Se as exportações irão alcançar, no máximo, 365 mil toneladas mensais e a disponibilidade interna não deverá ser superior a 600 mil toneladas, o setor deverá produzir não mais que 965 mil toneladas por mês”.
A Central de Informações Avícolas (CIA) e a União Brasileira de Avicultura (UBA) divulgaram hoje (10/10) um comunicado ao setor avícola, no qual pedem às empresas que controlem os seus alojamentos de aves (sem aumentar o plantel) para poder programar uma produção equilibrada de carne de frango para o início de 2009. Veja a íntegra do comunicado:
“Preparada para atender uma demanda 15% maior, a avicultura de corte entra em 2009 com a economia (e o consumo) mundial em recessão. Deve enfrentar, talvez, seu maior desafio de todos os tempos. Mas isso pode ser minimizado. De forma praticamente natural. E absolutamente indolor para as empresas.
Desde o ano passado, com a retomada das exportações (+21% no ano) e a substancial melhora do mercado interno, a avicultura de corte investe pesadamente no aumento da produção. O resultado é que entra em 2009 com uma capacidade de produção de carne de frango 15% maior que a deste ano ou quase 25% superior à de 2007. Só o alojamento de matrizes de corte aumentou 19% neste ano. É o suficiente para ofertar, em média, perto de 1,1 milhão de toneladas mensais de carne de frango, contra 920 mil toneladas mensais em 2008.
Mas o consumo (interno e externo) não comporta essa produção, como se verá a seguir.
Tendência das exportações
Devem, neste ano, obter um dos melhores resultados de todos os tempos e aproximar-se dos 4 milhões de toneladas, 20% a mais que em 2007. Mas, conforme a ABEF, não têm chances de manter esse ritmo em 2009.
Porque há poucos novos mercados a conquistar, porque há importadores (como a Rússia) aumentando a produção interna, porque há exportadores (como a Tailândia) retornando ao mercado externo, mas sobretudo porque há uma crise econômica mundial cujas dimensões ninguém consegue ainda precisar. Como resultado, o melhor que se pode esperar é um aumento (no volume embarcado, não no preço) da ordem de 10%. Ainda assim, com grandes problemas no início de 2009, pois o trauma atual deve afetar profundamente as vendas do primeiro trimestre do ano.
Isso concretizado, as exportações de 2009 devem, no máximo, alcançar os 4,4 milhões de toneladas, média mensal em torno de 365 mil toneladas. E, quase com certeza, não alcançarão – no trimestre inicial do novo ano – as 330 mil toneladas dos últimos meses.
Notar que, embora possam crescer até 20% neste ano, há seis meses as exportações estão estabilizadas em pouco mais de 320 mil toneladas mensais (as 361 mil/t de maio resultam de “sobras” não contabilizadas em abril). Tudo isso – ressalte-se – antes da crise. E daqui para frente, como será?
Tendência do consumo interno
Após crescer significativamente em 2007 (+5,7%), teve uma expansão apenas vegetativo no primeiro semestre de 2008 (+1,5%) e não oferece perspectivas de crescer além desse nível no ano, o que significa que não haverá aumento expressivo no consumo per capita em 2008 (mais ou menos 38,7 kg per capita, contra 38,1 kg em 2007). Independente, porém, de qual seja o volume consumido, o setor produtivo tem tido um bom indicador dos limites que pode alcançar. Pois sempre que a oferta interna ultrapassa as 600 mil toneladas mensais há problemas com a comercialização do frango. E esse, parece, é um limite difícil de superar. Pelo menos enquanto não for equacionada a crise que aí está e cujos efeitos permanecem até agora imponderáveis.
Em 2008, o frango enfrentou problemas de comercialização sempre que a disponibilidade interna alcançou a marca das 600 mil toneladas. Com a crise atual e exportações restritas, essa marca será continuamente superada se medidas de contenção não forem imediatamente adotadas. E aumentar o consumo per capita de 38 kg para 46 kg é impossível.
Uma operação que, infelizmente, deixa grandes sobras
Com esses números têm-se os ingredientes necessários para avaliar as perspectivas do setor. Ou seja:
– Exportação: média mensal de 365 mil toneladas;
– Consumo interno: média mensal de 600 mil toneladas;
– Produção total: potencial para alcançar perto de 1,1 milhão de toneladas mensais;
– Resultado: produção excedente de 135 mil toneladas – 12% da produção total prevista, mais de 20% do consumo interno previsto ou, ainda, quase 40% das exportações previstas.
É PRECISO IMPEDIR QUE ESSE EXCEDENTE SE TORNE REALIDADE!
Em especial, porque tal produção vai exigir um consumo per capita da ordem de 44 kg a 46 kg.
Mas não só isso: é preciso que a oferta seja ainda menor no início de 2009, época de menor consumo interno e de menor exportação do ano. E, dentro desse objetivo, as medidas pertinentes precisam ser adotadas imediatamente, pois já em outubro começam a ser produzidos os primeiros frangos do ano que vem (incubação dos pintos). O que fazer?
Como foi dito, o processo de ajuste pode ser absolutamente natural e totalmente indolor para as empresas. Desde que se adotem de imediato as medidas cabíveis. Entre elas:
-Descarte das matrizes mais velhas e, sobretudo, daquelas que (inadvertidamente, pois o processo não se justifica na atual conjuntura) foram submetidas a muda forçada;
-Maior pressão de seleção nas matrizes em produção, com descarte das menos produtivas (poupar recursos na atual fase é essencial);
-Estreitamento da faixa de peso dos ovos incubáveis;
-Máxima pressão de seleção sobre os ovos incubáveis;
-Postergar incubações (o Brasil está incubando, neste instante, mais de 480 milhões de pintos de corte; se todos os incubatórios “saltassem” um dia de incubação, seriam cerca de 20 milhões de pintos a menos no mês);
-No alojamento dos pintos, aumentar o vazio sanitário dos galpões (nas circunstâncias presentes, dois, quatro, sete dias a menos de criação fazem brutal diferença).
-PRINCIPALMENTE: Não ofertar no mercado o que não for incubado ou alojado. Todo o seu esforço será nulo. E o prejuízo ainda maior.
A primeira indicação foi dada linhas atrás, quando se mencionou que a produção excedente corresponde a 12% da produção total prevista. Mas esse é um corte geral, linear. Porque, na prática, a redução necessária está diretamente atrelada aos níveis de participação de cada empresa nos mercados interno e externo, condição que, conforme o caso, pode solicitar um nível de redução ainda mais elevado. E a ação precisa ser imediata, começar hoje!
O certo é que, diante do momento econômico enfrentado, quanto menos for produzido menor será o risco enfrentado. E reduzir, neste instante, não é manipular mercado, é tentar garantir a sobrevivência.
Portanto, se as exportações irão alcançar, no máximo, 365 mil toneladas mensais (lembrete: no início do ano esse volume dificilmente será alcançado) e a disponibilidade interna não deverá ser superior a 600 mil toneladas, o setor deverá produzir não mais que 965 mil toneladas.
Essa é a meta do momento e, temos certeza, todos cumprirão com sua parte, fazendo com que os problemas se tornem apenas passageiros. Nossa convicção é de que serão. Sobretudo porque produzimos alimentos que, além de essenciais, são também os mais acessíveis em situações de dificuldade econômica como as atuais. Só não podemos, por inércia no momento, prejudicar todo o nosso futuro”.