Redação (06/10/2008)- A crise que atacou o sistema financeiro já passa como um rolo compressor no preço das commodities, que na semana passada registraram sua maior queda semanal em 50 anos pelo Índice Reuters/Jefferies CRB de 19 matérias-primas. No entanto, o setor de insumos ainda aproveita o aquecimento do mercado no primeiro semestre e investe em diversificação para driblar o cenário baixista dos próximos meses.
O setor de máquinas e implementos agrícolas é um dos que ainda são capazes de projetar uma expansão mesmo diante da crise e da limitação do crédito. Com uma aceleração de quase 50% das vendas internas no atacado até agosto, os departamentos comerciais de algumas das maiores empresas do setor apostam na continuidade da demanda. Isso porque muitos pedidos foram antecipados e a maioria das empresas já estão com boa parte da produção do restante do ano vendida.
O gerente de vendas da Cummins, Flavio Maleman, afirmou que a companhia ainda não observou nenhum queda nos volumes. "Até o fim do ano estamos com a nossa produção totalmente vendida. No curto prazo não estamos vendo impacto nem queda nos volumes".
Maleman disse ainda que há uma série de segmentos atrelados ao setor de máquinas agrícolas, como o de caminhões e energia, e nenhum deles está mostrando redução até o final do ano.
Em relação a 2009, a empresa já está conversando com alguns clientes, mas ainda considera o mercado obscuro. Mesmo assim continua mantendo todos os investimentos no País para o próximo ano. "Conversando com unidades de outros países a gente percebe que alguns mercados já estão caindo, mas devido a esse movimento de inércia a gente acredita que aqui será um dos últimos mercados a serem atingidos, se for", avaliou Maleman.
O diretor comercial da Marchesan Tatu, Francisco Maturo, também demonstra otimismo. Na sua avaliação, crédito para o setor não será um problema já que os recursos do Moderfrota e de outras programas do governo já foram repassados e serão aplicados na temporada 2008/2009. "O setor de máquinas deve demorar um pouco mais para sentir os efeitos da crise porque os recursos para o crédito já foram disponibilizados pelo governo e o crédito para custeio antecipado", destacou Maleman.
Para ele, o grande problema é que o agricultor pode não se sentir seguro suficiente para tomar esse crédito. "Para que o produtor se sentisse seguro para investir as tradings já teriam que estar negociando com o câmbio nesse patamar atual, o que ainda não está acontecendo", disse.
Maleman, que também é presidente da Câmara setorial de máquinas e implementos agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), avalia o cenário de 2008 para o setor como um momento de recuperação e retomada de patamares alcançados no passado. "Em 2009, o setor deve continuar recuperando firme porque as máquinas que estão no mercado já estão velhas e ultrapassadas, resultado de três anos em que o produtor ficou sem investir", afirmou.
Fertilizantes
Capitalizadas com o recorde de vendas do primeiro semestre e pela elevação dos preços dos seus produtos, as multinacionais do setor de fertilizantes agora passam a investir em outras áreas, antecipando-se a retração na demanda de adubo.
A Bunge e a Itochu, uma das principais tradings globais do Japão, anunciaram duas joint ventures para produção de açúcar e álcool no Brasil e a Cargill, outra gigante do setor, anunciou o investimento de R$ 190 milhões para dobrar a capacidade de moagem e iniciar a produção de açúcar até 2010 na Companhia Energética Vale do Sapucaí.
Mesmo rentabilizadas, a crise tem fragilizado essas empresas e o momento é de cautela. As ações de companhias americanas produtoras de fertilizantes registraram forte queda na última semana, influenciada pela divulgação de um relatório em que a Merrill Lynch reduziu a recomendação de compra dos papéis dessas empresas devido a incertezas sobre os faturamentos futuros. As ações da Mosaic, uma das líderes do setor, chegaram a cair mais de 30% e outras empresas sofreram perdas de aproximadamente 20%.