Redação (08/11/2007)- Produtores e exportadores de aves, suínos e outros integrantes da cadeia de carnes se reúnem hoje para discutir o abastecimento de milho no Brasil. O consenso até agora é de que daqui até o final de janeiro a oferta estará muito crítica. O setor avícola considera até a possibilidade de reduzir a produção, alojando menos aves, para ajustar o consumo das granjas à oferta de milho disponível, segundo Clóvis Puperi, diretor- executivo da União Brasileira de Avicultura (UBA).
Puperi estima que até o final de fevereiro o Brasil precisará de cerca de 15 milhões de toneladas para atender a demanda de toda produção animal e do consumo humano. Neste momento, os estoques públicos são de 1,019 milhão de toneladas, segundo informa o Departamento de Controle de Estoques da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). "Agora em novembro a oferta já está mais acirrada, pois o preço está subindo forte. Nos últimos 20 dias, a saca ficou R$ 5 mais cara em Campinas (SP)", diz Leonardo Sologuren, da consultoria Céleres.
Segundo Sologuren, o Brasil pode ter problema, sim, de abastecimento, principalmente, por causa do atraso no plantio de milho, que fará com que a oferta da nova safra só entre a partir de fevereiro. "No segundo mês de 2008, a estimativa é de que 8,89 milhões de toneladas sejam ofertados da nova safra, das quais 6,75 milhões de toneladas nos estados do Sul do País. Mas isso, com condições normais de clima. Nesse cenário, o mais difícil será passar daqui até o final de janeiro", acrescenta Sologuren.
Para o diretor-executivo da UBA, a angústia do setor se deve ao fato de a Conab não informar com precisão o real volume estocado. "A cada consulta nos é informado um número diferente", lamenta.
Um pouco mais otimista, o presidente-executivo interino da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef), Christian Lohbauer, aposta em uma adaptação entre a demanda e oferta até março, quando entra o forte da safra nova.
"Acredito em fortes altas no preço, mas não em desabastecimento", acrescenta. Como plano "B", segundo ele, pode-se considerar a importação de milho. Essa possibilidade é pouco considerada por analistas, pois outros países potenciais exportadores ao Brasil, como Argentina e Estados Unidos, produzem milho trangênico – cuja importação possui restrições na lei brasileira – e também pelo fato de a oferta de milho argentino também estar apertada, segundo Sologuren.
O "enxugamento" do milho do mercado interno se deve à forte procura internacional, sobretudo da União Européia, pelo milho brasileiro. As exportações, que até outubro foram de 8,4 milhões de toneladas, devem superar os 10 milhões de toneladas até o fim do ano, com grandes chances de atingir 10,5 milhões de toneladas, segundo a consultoria Céleres.
Com exceção da Bahia, que produz milho, a avicultura nordestina é abastecida com milho do Centro-Oeste e dos leilões da Conab e é considerada a região com oferta mais crítica no País. A granja Mauricéia, que produz 2 milhões de frangos por mês em Pernambuco, está se abastecendo neste semestre de estoques públicos. "Temos consumo total de 8 mil toneladas por mês. Basicamente arrematamos dos leilões ofertados em Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul", diz Marcondes Farias, diretor da Mauricéia.
"Contamos com a oferta de milho baiano", completa. O problema passa pelas indústrias de alimentação. Segundo o diretor da São Braz Alimentos, Rosenvaldo Costa. "O governo privilegia o abastecimento de milho para ração animal".