Alexandre Furtado da Rosa, diretor de Mercado da Agroceres PIC |
Redação SI (06/08/07) – A suinocultura brasileira passa por um momento de ajustes. O forte aumento de produção registrado no ano passado trouxe reflexos amargos para os suinocultores ao longo de todo o primeiro semestre de 2007.
Com exceção de janeiro, mês em que as cotações do suíno estiveram melhores, o preço pago pelo suíno manteve-se em patamares pouco remuneradores. “O setor suinícola brasileiro ainda se ressente dos efeitos do expressivo aumento de produção registrado em 2006, que ao contrário do divulgado no início do ano, não foi de apenas 4% e sim entre 6,5% e 7%”, afirma Alexandre Furtado da Rosa, diretor de Mercado da Agroceres PIC. “Com um crescimento dessa magnitude já era de se esperar preços pouco atrativos no primeiro semestre deste ano”, avalia o especialista.
De olho na crise, o setor suinícola colocou o pé no freio. Neste ano não foram registrados grandes alojamentos e poucas empresas têm investido na atividade. “Os alojamentos foram adiados ou suspensos, principalmente pelo recuo das exportações em 2006”, afirma o diretor da Agroceres PIC.
Custos de produção – Mas o primeiro semestre não foi apenas de más notícias para os produtores. Se por um lado o excesso de oferta tem comprometido a rentabilidade dos suinocultores, o preço dos insumos (sobretudo do milho), a exemplo do ano passado, tem os ajudado a contornar o momento de instabilidade vivido pelo setor.
Ao contrário do que se previa na virada do ano, o milho não vem exercendo o papel de vilão do setor em 2007. Com a crescente demanda de milho para a produção do etanol nos EUA, imaginava-se no início do ano, que a conseqüente elevação da cotação do insumo no mercado brasileiro (e aumento das exportações brasileiras do grão), impactaria fortemente os custos de produção do setor suinícola.
Felizmente, isso não vem acontecendo. Apesar de mais elevados quando comparados ao mesmo período do ano passado, os preços do milho e da soja ainda estão em patamares considerados ajustados à realidade do setor. “A boa safra brasileira e a valorização do real frente ao dólar – que inibiu as exportações brasileiras de milho – fizeram com que o preço dos grãos permanecesse em níveis satisfatórios ao produtor”, explica Furtado da Rosa. “Isso tem sido fundamental para dar fôlego aos suinocultores, uma vez que o preço do milho não onerou os custos de produção do suinocultor como se esperava”. Mesmo assim, acredita Furtado da Rosa, o Brasil deve encerrar o ano com uma exportação de milho na casa dos oito milhões de toneladas.
As exportações brasileiras de carne suína, mesmo que ainda num volume ligeiramente superior aos verificados no ano passado, também têm ajudado a reequilibrar o quadro de oferta e demanda, afirma o especialista. “A novela da Rússia continua, mas a suinocultura brasileira tem conseguido manter seus embarques no mercado internacional”, afirma Furtado da Rosa. “Tudo indica que, ao seguir a velocidade de exportação registrada no primeiro semestre, encerraremos o ano com uma exportação superior a registrada no ano passado”, prevê.
Dias melhores – As perspectivas para a suinocultura brasileira neste segundo semestre são, ao menos, mais animadoras. Há tendência de aumento no consumo de carne suína no mercado interno, a cotação dos grãos deve manter-se estável e as exportações do setor devem encerrar o ano com um volume superior a 600 mil toneladas. “Tradicionalmente o segundo semestre é melhor para os suinocultores, com uma oferta menor de animais no mercado”, afirma Furtado da Rosa.
Segundo ele, o consumo de carne suína é maior em períodos de baixas temperaturas, fato que por si só ajuda a enxugar a oferta de animais no mercado e, por extensão, melhorar os preços pagos aos suinocultores. “Já a partir de outubro as empresas começam a formar estoques para as festas de final de ano, aumentando a procura por animais”, afirma Furtado da Rosa. “Portanto acredito que o segundo semestre seja melhor que os primeiros seis meses do ano. Com uma oferta menor de animais no mercado e preços do milho e da soja em patamares condizentes com a realidade do produtor”, conclui o diretor da Agroceres PIC.
Eficiência produtiva e planejamento estratégico Organização e planejamento são atributos imprescindíveis para o suinocultor moderno. Num mercado altamente competitivo e com margens de lucro cada vez mais apertadas, o suinocultor precisa, necessariamente, ter uma visão global de seu negócio. Focar-se apenas na eficiência produtiva de seus animais é pouco nos dias de hoje. “A suinocultura exige cada vez mais preparo do produtor, principalmente no que se refere à gestão dos custos da atividade”, afirma Alexandre Furtado da Rosa, diretor de Mercado da Agroceres PIC. “A alimentação dos animais representa 70% dos custos de produção da atividade e, portanto, o planejamento nessa área é fundamental”, completa. Segundo Furtado da Rosa, nos dias de hoje a rentabilidade na suinocultura pode ser avaliada por “vários prismas”. “Um deles, obviamente, é o preço pago ao suinocultor, mas outro, não menos importante, é o custo de produção de cada produtor”, argumenta. Segundo o diretor da Agroceres PIC, cada vez mais é possível verificar contrastes nos custos de produção nas diversas regiões do País. “Existem no Brasil produtores muito eficientes, não só do ponto de vista produtivo, mas também e principalmente, pelo cuidado com que gerem seu principal custo que é a alimentação dos animais”, explica. “São suinocultores que planejam cuidadosamente a compra desses insumos, sua estocagem, acompanham de perto as nuances desse mercado [de grãos]”, complementa Furtado da Rosa. Segundo o diretor da Agroceres PIC, o planejamento na aquisição de insumos para alimentação dos animais pode representar uma redução de até 30% nos custos de produção. “Produtores com custos de produção mais ajustados seguem ganhando dinheiro, os outros não. Eficiência produtiva é hoje uma questão básica. Não há mais espaço na suinocultura para produtores ineficientes do ponto de vista produtivo”, comenta. “Hoje mais do que nunca é preciso estar preparado para ser competitivo num mercado disputado, com tendência de concentração de players e com margens cada vez mais apertadas”, adverte Furtado da Rosa. |