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Campo deixou de ganhar R$ 1 trilhão em dez anos

<p>Nos últimos dez anos, os produtores brasileiros deixaram de ganhar R$ 1 trilhão, devido à queda real nos preços das commodities agrícolas.</p>

Redação (30/11/06) – Revelado por estudo feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). Cálculo dos preços agrícolas deflacionados pelo Índice Geral de Preços (IGP) medido pela Fundação Getúlio Vargas aponta uma queda real de 40% nos últimos dez anos.

“A queda nos preços agrícolas favoreceu os consumidores, que ganharam com isso”, afirmou Geraldo Barros, coordenador geral do Cepea. Ele observa que, no ano passado, essa “transferência” de ganhos para outros elos da cadeia (atacadistas, varejistas e consumidor final) foi de R$ 150 bilhões.

Para Barros, a redução de ganhos no campo foi maior no Brasil que em outros países devido a fatores locais. Um deles é o fato de o índice de crescimento do consumo ter sido inferior à queda nos preços – o valor dos produtos recuou e não houve compensação em volume de vendas. “O mercado interno fraco motivou o aumento das exportações, que também tiveram seus preços prejudicados pela valorização do real”, disse Barros.

Marcos Sawaya Jank, presidente do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), acrescentou que o superávit da balança comercial agrícola brasileira é alto (de US$ 25 bilhões) e que esse saldo funciona como fator de valorização do real sobre o dólar. “O real valorizado é uma situação sine qua non. Não vai mudar. É preciso pensar estratégias que tornem a cadeia mais competitiva dentro do cenário atual.”

Jank defende o aumento de investimentos governamentais no que classifica como “bens públicos” – ações que beneficiam toda a cadeia produtiva, como gastos com defesa sanitária, pesquisa e desenvolvimento e extensão rural.

Ele também sugere que seja feito um monitoramento do uso de verbas públicas nos programas voltados ao setor agrícola e mudança no foco de gastos, com redirecionamento dos desembolsos para cadeias específicas que demandam recursos, como a fruticultura do Vale do São Francisco.

Jank defende ainda uma posição mais agressiva nas negociações internacionais, o desenvolvimento de sistemas de rastreabilidade e certificação e respeito às leis de proteção de contratos e direitos de propriedade. Para os produtores ele sugere a adoção de mecanismos de gestão de risco (seguro rural e operações de hedge cambial). Félix Schouchana, diretor de derivativos agropecuários da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) sugere uma flexibilização na liberação de recursos pelos bancos para estimular as operações de hegde, como o oferecimento de juros mais baixos a produtores que adotem mecanismos de gestão de risco de preço e seguro rural.