Redação AI (10/07/06)- Um apelo para que a cadeia produtiva da avicultura industrial reduza a produção para adequar a oferta de carne de frango às demandas interna e externa foi feito pelo presidente da Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina (Faesc), José Zeferino Pedrozo. O dirigente assevera que a crise sem precedentes que vive a avicultura industrial brasileira assinalada atualmente pelo excesso de oferta e queda geral de preços tem como um de seus principais fatores complicadores o excesso de produção, ao lado das políticas macroeconômicas adotadas pelo Brasil.
Pedrozo enfatiza que a crise decorre da associação de quatro fatores: o câmbio sobrevalorizado, o grande excedente de produção, recuo nas exportações e a demanda interna estável e sem expansão. O quadro foi agravado pelo embargo russo às carnes brasileiras, o que aumentou a disponibilidade de proteína animal no mercado doméstico, fazendo os preços caírem.
O presidente da Faesc enfatiza que o maior pecado da avicultura foi ampliar exageradamente a produção em mais 100 mil toneladas mensais, passando a uma oferta de 850.000 toneladas por mês. O excessivo e desnecessário aumento da produção representou 300 mil toneladas a mais só no primeiro trimestre de 2006.
Reconhece que o surgimento da gripe aviária em três continentes provocou queda geral no consumo da carne de frango em muitos mercados internacionais, mas esse fenômeno tem peso relativo para o Brasil. Não culpem a gripe aviária pela crise da avicultura, culpem o aumento da produção industrial e as políticas que o governo adotou.
Zeferino Pedrozo lembra que as exportações de carne cresceram 100% em apenas dois anos e, atualmente, a metade dos US$ 7,1 bilhões de dólares de vendas externas de produtos cárneos é representada pelo frango. Para tornar-se o maior exportador de carne de frango, o Brasil aumentou em 50% a produção nos últimos cinco anos, ampliou suas vendas externas em 194% (num período em que o mundo cresceu 27%) e atualmente responde por 39% da produção mundial. As exportações do último ano fecharam em 2 milhões 875 mil toneladas e US$ 3,5 bilhões de dólares em receitas.
O empresário reclama da falta de disciplina do setor e mostra que, em janeiro, quando o alojamento nacional de aves estava na estratosférica posição de 408 milhões de pintos, as indústrias definiram uma redução geral e vertical de 25%. Seguindo essa orientação, em fevereiro o alojamento caiu para 355 milhões, em março para 345 milhões e em abril para 340 milhões. Quando o mercado começava a se regular, veio a surpresa: o alojamento em maio pulou para 375 milhões de pintos e, em junho, para 386 milhões.
ALERTA Acendeu a luz vermelha, sintetizou Pedrozo, que defende uma redução na produção pintos da ordem de 10% em relação ao que foi produzido em maio (376,4 milhões). Essa meta pode ser obtida sem problemas através da antecipação dos descartes de matrizes de corte, seleção de ovos incubáveis mais rigorosa, ampliação do período de vazio sanitário nas criações de frango e, entre outras medidas, a redução da densidade dos galpões e antecipação no abate de lotes.
A carne de frango tornou-se uma das mais acessíveis do Brasil e o consumo per capita chegou a 34 kg. A produção média mensal, neste ano, ficou em 748 mil toneladas mensais. As exportações consomem cerca de 200 mil toneladas/mês e, para o mercado doméstico, fica um grande volume de 528 mil toneladas/mês.
Pedrozo lembra que o setor representa 1,5% do PIB, gera aproximadamente quatro milhões de empregos diretos e indiretos e rende ao Brasil US$ 3,5 bilhões de dólares decorrentes de exportações. Mostra que, em razão da amplitude da cadeia produtiva, os problemas da avicultura influenciarão toda a economia brasileira.