Redação SI (24/05/06)- Os preços da carne suína em Mato Grosso estão em queda livre e poderão sofrer novas pressões de baixa caso o embargo russo às carnes brasileiras se prolongue por mais dois ou três meses. Os preços pagos ao produtor de Mato Grosso giram atualmente em torno de R$ 1 – a pior cotação do ano – contra R$ 1,70 pago ao criador de São Paulo. Este valor comparado às cifras pagas pelo quilo do suíno vivo em janeiro, no Estado (R$ 1,73), a queda é de 57,80%.
O alerta foi feito ontem pelo presidente da Associação dos Criadores de Suíno do Estado (Acrismat), Raulino Teixeira Machado, lembrando que o cenário é extremamente preocupante para o setor em função da paralisação das exportações à Rússia, principal parceiro comercial de Mato Grosso. Chegamos ao fundo do poço, exclama Machado, apontando o embargo às exportações ao mercado russo, como o principal vilão da crise que atinge atualmente toda a cadeia pecuária do Estado.
Levantamento realizado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada (Imea) aponta que o preço médio por quilo de suíno pago ao produtor vem apresentando curva descendente desde o começo do ano. Em janeiro, por exemplo, o preço médio ao produtor era de R$ 1,73/kg (suíno vivo). Em fevereiro a cotação caiu para R$ 1,58/kg e, no mês seguinte, para R$ 1,46/kg. Em abril o preço sofreu nova baixa (R$ 1,32/kg) e, em meados deste mês, estava cotado em R$ 1,25/kg.
Segundo ele, sem o mercado russo os preços caíram drasticamente devido ao aumento da oferta de carne para o mercado interno. Dados do Imea indicam que o volume de abates de suínos sob inspeção federal em Mato Grosso também reduziu. Em janeiro, os abates ficaram em torno de 70,8 mil cabeças, em fevereiro caíram para 58,82 mil cabeças e, em março, para 50,24 mil cabeças. A redução nas exportações dos principais estados produtores de carne para o principal comprador, Rússia, em quase 29% no primeiro trimestre, aumentou a oferta de animais no país, o que pressionou os preços no mercado interno, avalia o Imea, acrescentando que as exportações de suínos do Estado também sofreram redução, cerca de 52% nos primeiros quatro meses do ano.
Bloqueio:
O presidente da Acrismat diz que o bloqueio das estradas dificultou a saída de animais para outras regiões do país. Houve um represamento de carne e de suínos em pé em torno de 50% nos últimos 20 dias, aponta. Com isso, os animais que eram abatidos com 100 quilos, em média, chegaram a ser abatidos com até 130 quilos. Isso não é bom, pois o excesso de peso desclassifica o suíno e, quem perde com isso é o produtor. Em média, há uma desvalorização de 30% no preço da carne, explica Machado.
Ele diz que o produtor está trabalhando no vermelho há vários meses. Estamos tendo um prejuízo de aproximadamente R$ 0,40 por quilo de suíno. Desta forma, os preços não chegam a cobrir os custos de produção e a situação está cada vez mais insustentável para o produtor, frisa o presidente da Acrismat.
Indústria
Única planta industrial de Mato Grosso a exportar carne suína para a Rússia, a Intercoop (Integração das Cooperativas do Médio Norte de Mato Grosso), de Nova Mutum (269 quilômetros ao Norte de Cuiabá), reduziu drasticamente o volume de suas vendas para o exterior, mas manteve o volume de abates. Não há como reduzirmos a produção mesmo com o fechamento do mercado russo, pois temos despesas fixas e não queremos demitir funcionários, explica o diretor comercial da Intercoop, Vasco Bedin Bernardes. Segundo ele, 70% das exportações de carne suína da cooperativa tinham como destino a Rússia. Em 2005, a Intercoop chegou a exportar R$ 10 milhões para aquele país e outros R$ 3 milhões para China, Ucrânia, Argentina e Uruguai.