Redação (08/05/06)- O cenário do terceiro dia de protesto de produtores rurais em Goiás contra a crise no campo não ganhou nenhum novo personagem. No entanto, os trabalhadores que participam da manifestação por mudanças na política agrícola brasileira aguardam com expectativa possíveis adesões ao movimento durante esta semana. São aguardadas definições por parte de ruralistas de Catalão, Itumbiara, Rio Verde, Palmeiras de Goiás, dentre outros municípios. Até ontem, três cidades goianas haviam aderido às interdições parciais de rodovias (e às outras atividades): Jataí, Chapadão do Céu e Quirinópolis.
O presidente do Sindicato Rural jataiense (pioneiro das reivindicações no Estado), Mozart Carvalho, está animado com a possibilidade de ganhar novos parceiros. O movimento está cada dia mais forte, comemora. Além de parar caminhões que transportam alimentos não-perecíveis, em Jataí está sendo implementada a estratégia de impedir o tráfego de veículos com animais (apenas gado até o momento) a fim de atingir os frigoríficos. Naquela cidade, os estabelecimentos comerciais já sentem o reflexo da tática, disse ontem o presidente em entrevista por telefone ao Diário da Manhã.
Pontos
Nos nove pontos distribuídos pelas cinco GOs e duas BRs que sofrem o chamado estreitamento de rodovia, a operação libera carros e ônibus logo após entrega de folhetos que explicam o objetivo da mesma. Queremos a opinião pública do nosso lado, afirma Mozart Carvalho.
Outra experiência dos manifestantes é o bloqueio aos acessos a armazéns. Ontem, produtores de Quirinópolis dispuseram máquinas ao longo da entrada e saída de caminhões do armazém Selecta. A ação foi bem-sucedida sob a ótica dos produtores e, de acordo com o presidente do Sindicato Rural local, José Eduardo Fleury, se repete hoje em frente a outras três unidades de receptação de grãos na cidade: Caramuru, Coimbra e também a cooperativa Agrovale.
As festas agropecuárias são outro alvo para pressão. De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), o cancelamento dos eventos está confirmado em seis municípios: Jataí, Goiatuba, Itumbiara, Sanclerlândia, Joviânia e Mineiros.
Em Catalão, a festividade pode ter o mesmo destino. Os produtores decidem em assembléia hoje, às 19 horas, qual posicionamento terão sobre esse assunto e também acerca da aplicação de outros protestos. A estimativa da Federação é de que entre quatro e cinco mil produtores estejam participando da manifestação em Goiás (cálculo feito de adesões registradas até a tarde de ontem).
Motivos na safra
A crise do setor agrícola é resultado direto das duas últimas safras no Brasil, que não obtiveram o sucesso esperado. O assessor técnico da Faeg, Claudinei Rigonatto, calcula que o prejuízo no campo no Brasil gire em torno de R$ 30 bilhões. Diante desse quadro, os produtores reclamam que estão descapitalizados e endividados. Querem mais oportunidades de crédito para fugir de dificuldades financeiras e poder investir e lucrar na próxima colheita (são pedidos ao governo federal R$ 60 bilhões de créditos, a juros fixos de 8,75%). Além de dinheiro para investimento, pedem a implementação do seguro agrícola, que aguarda regulamentação para entrar em vigor, e a garantia de preços dos produtos equivalentes aos custos de produção.
As manifestações observadas em Goiás e em outros Estados brasileiros foram desencadeadas após início de ações, como fechamento de estradas, na cidade de Ipiranga do Norte (MT). Por causa do nome, foi denominado Grito do Ipiranga. Está marcado encontro para definir um rumo sobre a questão para o próximo dia 16 em Brasília (DF). Lideranças rurais e políticas estarão envolvidas nas negociações que visam a adoção de medidas emergenciais para amenizar os problemas no campo.