Redação (03/05/06)- Tecnologias que visam dar maior durabilidade aos produtos a partir do acondicionamento em embalagens com atmosferas modificadas estão chegando ao Brasil com a promessa de um aumento de 50% a até 400% de vida na prateleira, com os produtos sob refrigeração. A afirmação é do médico veterinário e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Edvaldo Sampaio de Almeida Filho. Ele acaba de concluir o doutorado, cuja tese trata do uso de atmosferas modificadas na conservação de alimentos, com enfoque para pescados.
O professor Edvaldo Sampaio é um dos palestrantes da 33 edição do Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária (Conbravet), que acontece de 9 a 12 de maio, em Cuiabá (MT), num evento conjunto com o Enipec 2006 – Encontro Internacional de Pecuária. Sampaio irá apresentar o painel Tecnologia de atmosferas modificadas na conservação de alimentos.
De acordo com o professor, países do continente europeu já adotam comercialmente esse tipo de tecnologia desde a década de 1970. Na Noruega, por exemplo, 60% dos alimentos de origem animal são comercializados com o uso das tecnologias de atmosferas modificadas. Na prática, a nova tecnologia representa um ganho real tanto para produtores que buscam agregar valor à sua produção, como para o comerciante, que passa a dispor de mais tempo para comercializar o produto.
A tecnologia de atmosferas modificadas substitui o ar atmosférico das embalagens a partir de um tipo de combinação dos gases nitrogênio, oxigênio e gás carbônico, garantindo uma maior durabilidade dos produtos, uma vez que pode diminuir o desenvolvimento da microbiótica (bactérias, fungos e leveduras). Sampaio vê no Brasil um importante mercado para o uso desse tipo de tecnologia, já que o país é o maior produtor mundial de carne. O Brasil ainda exporta muito in natura, com exceção do frango e do suíno. É necessário agregar valor a essa produção, afirma.
O alto custo de investimento para o uso dessa tecnologia é visto com uma barreira, mas o professor afirma que os custos são cobertos pelo aumento da vida de prateleira do produto e garante que há espaço para a novidade no mercado brasileiro. O mercado está aberto para esse tipo de tecnologia. A população é um pouco avessa à novidades, mas com um bom programa de esclarecimento tudo se resolve. Ele cita o Rio de Janeiro como exemplo. Lá, uma grande rede de supermercados (Rede Sendas) já comercializa a carne moída bovina e de frango com o uso da tecnologia modificada.
A aposta agora está nos investimentos em pesquisa, para que a tecnologia possa ser estudada com rigor e difundida no país. Sampaio pretende implantar uma linha de pesquisa sobre o tema na UFMT. Atualmente, apenas quatro universidades no país desenvolvem pesquisas nesse setor. A tecnologia de atmosferas modificadas precisa ganhar mais espaço na academia, para poder chegar ao mercado com resultados mais concretos, enfatiza.