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Gripe Aviária não é causa da atual crise da avicultura brasileira

<p>A crise está assinalada atualmente em excesso de oferta e queda geral de preços.</p>

Redação AI (05/04/06)- A crise sem precedentes que vive a avicultura industrial brasileira assinalada atualmente em excesso de oferta e queda geral de preços não tem nada a ver com a eclosão da influenza aviária (gripe aviária) na África, Ásia e Europa. Ela é conseqüência das políticas macroeconômicas adotadas pelo Brasil.

Essa avaliação foi defendida pelo economista Paulo Roberto Molinari, analista sênior do grupo Safras & Mercado, na abertura do VII Simpósio Brasil Sul de Avicultura, que se encerra nesta quinta-feira, dia 6, em Chapecó. A crise decorre da associação de quatro fatores: o câmbio sobrevalorizado, o grande excedente de produção, as exportações não crescendo como esperava o setor e a demanda interna normal e sem expansão. O quadro foi agravado pelo embargo russo às carnes brasileiras, o que aumentou a disponibilidade do proteína animal no mercado doméstico, fazendo os preços caírem.

Mas o maior pecado da avicultura foi ampliar exageradamente a produção em mais 100 mil toneladas mensais, passando a uma oferta de 850.000 toneladas por mês. O excessivo e desnecessário aumento da produção representou 300 mil toneladas a mais neste primeiro trimestre de 2006. Molinari expôs que, apesar de todos esses problemas, as exportações brasileiras do trimestre deste ano em comparação a 2005 foram 1,4% inferiores em volume embarcado e 11,9% superiores em receitas cambiais.

A conclusão do consultor é de que o surgimento da gripe aviária em três continentes provocou queda geral no consumo da carne de frango em muitos mercados internacionais, mas esse fenômeno ainda não prejudicou o Brasil. Não culpem a gripe aviária pela crise da avicultura, culpem o aumento da produção industrial e as políticas que o governo adotou, enfatizou Paulo Molinari.

Outro palestrante do Simpósio Brasil Sul de Avicultura, o recém-empossado Secretário da Agricultura de Santa Catarina, Alfredo Felipe da Luz Sobrinho, focalizou o grande crescimento da produção e das exportações de carnes como fator predominante. As exportações de carne cresceram 100% em apenas dois anos e, atualmente, a metade dos US$ 7,1 bilhões de dólares de vendas externas de produtos cárneos é representada pelo frango. Profundo conhecedor do mercado (trabalhou 37 anos na Sadia), o secretário mostrou que, para tornar-se o maior exportador de carne de frango, o Brasil aumentou em 50% a produção nos últimos cinco anos, ampliou suas vendas externas em 194% (num período em que o mundo cresceu 27%) e atualmente responde por 39% da produção mundial. As exportações do último ano fecharam em 2 milhões 875 mil toneladas e US$ 3,5 bilhões de dólares em receitas.

Felipe da Luz destacou as privilegiadas condições sanitárias de Santa Catarina e considerou injustas as restrições que sofre em razão da ocorrência de febre aftosa no Paraná e no Mato Grosso especialmente durante o embargo russo. Disse que o Estado precisa capitalizar melhor os 14 anos sem febre aftosa e seis anos de área livre sem vacinação.

A coordenadora geral do Simpósio, Luciane Surdi, destacou que a avicultura requer mais atenção e prioridade federal porque representa 1,5% do PIB brasileiro, gera quatro milhões de empregos diretos e indiretos e rende ao Brasil US$ 3,5 bilhões decorrentes de exportações.

Paulo Molinari, Felipe da Luz e Luciane Surdi insistiram na urgência da implantação do programa de regionalização sanitária da avicultura e criticaram a lentidão do governo e a escassez de recursos para defesa sanitária animal e vegetal.