Redação SI 29/03/06 – “A despeito de todo o sucesso técnico da suinocultura brasileira, a carne de suíno enfrenta sérias restrições dos consumidores brasileiros. Seu consumo está, há anos, estagnado em torno de 11 / 12 kg per capita ano e o crescimento da produção vem sendo escoado para o mercado externo. Mas nas exportações, também, encontramos sérias dificuldades, pois temos um importador principal que absorve mais de 60% de nossas exportações: a Rússia.
Os altos e baixos dos preços dos suínos no Brasil refletem o baixo consumo doméstico, concentrado em produtos industrializados, e a dependência da concentração das exportações. Diante das graves falhas cometidas pelas autoridades brasileiras no trato das ocorrências recentes de febre aftosa, nada mais previsível que a suspensão das importações por inúmeros países, especialmente a Rússia. E, como no dizer do caboclo desgraça pouca é bobagem, sobrevêm a influenza aviária e suas gravíssimas conseqüências sobre as nossas exportações de carne de frango: desgraça total! Os preços dos nossos suínos despencaram dramaticamente. E quem nos garante que já atingimos o fundo do poço? Estamos, os produtores de suínos, na desesperante situação de fazer dinheiro com aquilo que nos resta, e acabamos aceitando qualquer preço para cumprir os compromissos prementes.
Qual a saída? A curto prazo, é difícil dizer. Certamente, porém, de nada nos adianta sair atirando e atingindo amigos, parceiros e colaboradores. A crise, afinal, atinge a todos e a demolição das pontes que nos ligam ao restante da cadeia da suinocultura só nos tornará mais solitários. E, possivelmente, fortalecerá a convicção daqueles que não vêem futuro na suinocultura independente.
Melhor faríamos se parássemos para refletir e avaliar nossas estratégias de trabalho. É convicção da ABCS, expressa nos seus documentos e ações recentes, que o melhor caminho é o de integrar a cadeia e compartilhar o trabalho de desenvolvimento do mercado interno e das adaptações de qualidade necessárias, nas esferas pública e privada, para alcançarmos a diversificação de nossos mercados externos, culminando com a conquista do mercado japonês. Artilharia verbal tem pouco alcance e, não raro, estoura sobre nossas próprias cabeças.
Respeita-se que produtores, desesperados com o momento, manifestem-se de forma emocional. Mas é legítimo esperar que as lideranças, mesmo frustradas com o enfraquecimento de sua credibilidade, mantenham a serenidade. E, na medida de sua humildade, procurem a força da união. A suinocultura brasileira, tão competente e tão maltratada, necessita de horizontes largos, tão largos como o Brasil”.
Rubens Valentini é presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS).