Redação AI (27/03/06)- As indústrias de Mato Grosso do Sul devem diminuir em 10% a quantidade de frangos alojados nas granjas dos avicultores integrados, o que reduz a produção mensal do Estado em aproximadamente 1,4 milhões de animais.
Hoje, de acordo com o secretário-executivo da Câmara Setorial da Avicultura e Estrutiocultura, Rubens Mello Corrêa, Mato Grosso do Sul possui cinco grandes pólos de produção e industrialização de frangos. As indústrias, que juntas abatem pouco mais de 13 milhões de aves por mês, estão localizadas em Campo Grande (Comaves Frango Vit), Dourados (Avipal), Sidrolândia (Seara), Aparecida do Tabuado (Frango Ouro) e Caarapó (Frango Sul). Entre elas, a Comaves Frango Vit e a Frango Ouro atendem o em maior escala o mercado interno. A Avipal, Seara, e Frango Ouro direcionam praticamente 90% de seus produtos para exportação.
A média de animais alojados no Estado pelas cinco empresas até março se mantém em 14 milhões de aves por mês, porém o cenário negativo leva as indústrias a reformular suas escalas de produção.
A medida é uma das alternativas encontradas pelos empresários para contornar a crise gerada a partir do excesso na oferta de frango no mercado interno. O temor da gripe aviária levou diversos países consumidores do frango brasileiro a restringir as importações de produtos avícolas como forma de minimizar os riscos de contaminação da doença. Os embargos elevaram os estoques nacionais de frango, forçaram queda nos preços finais dos produtos aos consumidores e, consequentemente, reduziram os ganhos das indústrias, que passam a adotar medidas para viabilizar as atividades.
Segundo a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef), as exportações nacionais de frango caíram 7% em fevereiro na comparação com janeiro. Com reflexo, os preços do quilo do frango nos supermercados campo-grandenses, que em janeiro chegavam a R$ 2,70, agora podem ser encontrados a R$ 1,45. No País, algumas redes chegam a comercializar o quilo por até R$ 0,99.
Rubens Corrêa explica que os principais mercados compradores dos frangos sul-mato-grossenses são países da Europa, além de Rússia e Japão. Com os vetos anunciados pelos europeus e pela Rússia às carnes de frango, o Japão passou a ser a principal alternativa de mercado para as indústrias do Estado. Segundo Corrêa, diferentemente da pecuária de corte, a avicultura atua com ciclos de produção que variam em aproximadamente 45 dias período desde o alojamento dos pintinhos até o abate -, o que possibilita maior dinâmica ao setor para adequar os produtos à necessidade dos consumidores. Neste sentido, o secretário-executivo afirma que o Japão, que não restringiu as compras de frango brasileiro, tem sido o alvo das exportações das indústrias locais. “Os japoneses não querem comprar a carcaça de frango e preferem alguns cortes especiais, que as indústrias já passam a produzir em maior escala para atender àquele mercado”, disse. Corrêa garante que as empresas do Estado promoveram alterações nas linhas de produção no intuito de destinar parte dos frangos excedentes no mercado interno ao Japão. “Os cortes permitem que os empresários agreguem valor aos produtos, o que contribui para a superação desta crise”, frisou.
Os industriais afirmam que estão apreensivos com o cenário mundial da avicultura, mas ressaltam que os impactos negativos ocorrem, principalmente, pelo impacto psicológico da doença entre os consumidores. Alguns, que preferem não se identificar, exemplificam que o consumo de carne de frango na Itália, por exemplo, caiu 70% desde o surgimento da gripe aviária, devido ao temor da população pela doença das aves. Muitos industriais ressaltam que o Brasil está fora da rota das aves migratórias, que podem transmitir a doença quando infectadas, o que minimiza os riscos de o País registrar focos de gripe aviária. Assim, as indústrias esperam que os consumidores possam aproveitar a queda nos preços do frango para elevar as compras do produto de forma que o aumento no consumo, aliado à redução na produção, possa regular oferta e demanda no mercado interno e promover a recuperação dos preços.
Crise na avicultura brasileira já atinge produtores do Estado
A redução no volume de alojamentos de pintinhos nas granjas produtoras de frango em Mato Grosso do Sul deve estender a crise enfrentada pelas indústrias também aos avicultores. Hoje, cerca de 1,1 mil produtores de frango trabalham como integrados das cinco grandes indústrias abatedoras do Estado. Eles representam 1,5 mil aviários.
Segundo o secretário-executivo da Câmara Setorial da Avicultura e Estrutiocultura, Rubens Mello Corrêa, cada indústria está elaborando estratégias diferentes para minimizar os impactos da super-oferta de frango no mercado interno e das restrições dos importadores ao produto brasileiros, em decorrência da gripe aviária. Ele cita o anúncio de paralisação nas operações da Avipal de Dourados a partir de abril como exemplo. “A avicultura é desenvolvida num sistema de cadeia produtiva em que cada avicultor é ligado a uma indústria. A crise deve afetar toda a cadeia produtiva com redução nos ganhos de todos os elos envolvidos, porém, as indústrias de MS garantem que não pensam em demissões”, tranquilizou. O sistema de integração prevê o fornecimento dos pintinhos, ração e assistência técnica pela indústria aos produtores.
Diante da apreensão no setor, Rubens Corrêa ressalta a importância de os produtores continuarem em busca de bons índices de produção para que o rendimento final obtido a partir dos lotes não seja afetado. “O manejo é muito importante para o sucesso da avicultura e os produtores são fundamentais neste processo”, frisou.
O ex-secretário estadual de produção e turismo e representante da Cooperativa Agrícola Várzea Alegre, Natal Baglioni Meira Barros, ressalta que a atividade da avicultura só não está completamente inviabilizada, pela “feliz coincidência de os preços dos insumos do setor estarem com os custos reduzidos”. Segundo Meira Barros, os preços do milho e do farelo de soja, utilizados para a ração animal, acompanharam a queda nos preços do frango. “Caso os preços da ração estivessem elevados, as indústrias sofreriam perdas incalculáveis e muito mais preocupantes”, disse.
Na outra ponta da cadeia produtiva da avicultura, os produtores, diante da crise, ficam reféns das políticas implantadas pelas indústrias e sentem os impactos da crise. Na última semana, alguns avicultores se manifestaram sobre atrasos na entrega de rações por parte da indústria, demora na reposição dos alojamentos das aves após as entregas dos lotes prontos para abates e atrasos de até 70 dias nos pagamentos referentes aos animais produzidos. Os industriais garantem que a situação é reflexo da dificuldade de todo o setor.
O avicultor Antônio Ferreira Moraes, proprietário de dois aviários localizados no município de Jaraguari, que produzem 30 mil frangos a cada 45 dias sob o sistema de integração, salienta que os atrasos na alimentação dos animais comprometem o desempenho da conversão alimentar dos frangos, o que reduz a renda dos produtores, uma vez que no final do alojamento dos lotes a indústria abatedora compra as aves com preços que variam de acordo com o peso dos animais.
Antônio Moraes conta que entregou 28 mil frangos para a indústria no dia 2 de fevereiro e ainda não recebeu, sendo que os contratos firmados entre produtores e empresa prevêem, segundo ele, pagamentos em até cinco dias após a captação das aves. “Estamos numa situação crítica, pois estamos trabalhando com prejuízo”, disse. O avicultor lembra que, enquanto as dificuldades levam as empresas a atrasar os pagamentos pelos frangos, as contas de energia elétrica, água, funcionários e as parcelas de financiamento realizado no Banco do Brasil para a construção dos aviários continuam vencendo e pesando aos produtores. “A cada dois meses eu pago uma parcela de R$ 2,8 mil para o Banco do Brasil e, sem os valores referentes aos frangos, não conseguirei quitar o compromisso, que aumenta devido aos juros”, explica. O avicultor fez financiamento no valor de R$ 157 mil para construção dos aviários com a indústria como fiadora e deve pagar parcelas bimestrais nos próximos 10 anos.