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Grãos

Margem da soja pode aumentar em 2023/24 com queda de custos

Itaú BBA e Rabobank confirmam a tendência de recuperação

Margem da soja pode aumentar em 2023/24 com queda de custos

Sem novas surpresas relacionadas ao clima ou à geopolítica no horizonte, tudo indica que o produtor brasileiro de grãos poderá colher lucros maiores na próxima safra de verão (2023/24), que será cultivada a partir de setembro.

Instituições financeiras como o Itaú BBA e o holandês Rabobank elaboraram projeções positivas com base em redução de custos agrícolas, sobretudo em adubos, e observando os preços dos grãos. Soja, o carro-chefe do agro no país, também tem tendência de baixa, devido a uma esperada produção global elevada, mas a queda deverá ser menor que a dos insumos.

Levantamento do Itaú BBA que considera o custo direto da produção da oleaginosa indica que as margens operacionais poderão se reaproximar de patamares históricos em 2023/24, embora menores que em ciclos recentes. “As safras 2020/21 e 2021/22 é que foram espetaculares”, diz Guilherme Bellotti, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA.

Pelas contas do banco, a margem agrícola para produzir um hectare de soja poderá aumentar perto de 8% ante 2022/23, para R$ 4.159 por hectare. Por outro lado, continua o analista, subiram custos como o de arrendamentos e do dinheiro. “Há, portanto, um “colchão” menor. Mas, consideradas as margens operacionais, é um retorno às médias históricas”, reforça.

Mesmo que as margens voltem aos patamares históricos – após a safra atual, que é a “mais cara da história”, nas palavras de um empresário do setor -, há desafios no cenário macroeconômico que podem tornar a equação de custos um pouco mais “apertada” para os produtores neste ano.

“Os juros estão altos para o produtor que não é capitalizado e precisa de crédito para a compra de insumos – que é a realidade da maioria”, disse o empresário. “As margens vão ser melhores, perto de 20%, 25%, mas ainda apertadas”. Segundo ele, a margem da safra atual caiu para 15%, e no que considera que foram os dois melhores ciclos (2020/21 e 21/22), alcançaram 35%. O Itaú BBA leva em conta que os produtores de Mato Grosso, que lidera a colheita nacional, e do Sudeste poderão vender a saca de soja em 2023/24 por R$ 141, em média, 4% menos que na safra atual. Já o custo agrícola, que inclui adubos, defensivos, sementes e gasto operacional (mão de obra e maquinário), poderá recuar 13% no próximo ciclo, para R$ 4.160 por hectare cultivado.

Queda do adubo

A queda de preços do adubo é o principal fator para a mudança esperada, dizem as fontes ouvidas pelo Valor. A alta dos fertilizantes foi a que mais pesou para o encarecimento do cultivo em 2022, e contribuiu para a queda de margens em cerca de 30% entre as safras 2021/22 e 2022/23, segundo o Itaú BBA. Os fertilizantes vêm recuando mês a mês desde o segundo semestre de 2022, à medida que o setor “acomodou” os efeitos da guerra na Ucrânia.

O conflito envolve importantes origens fornecedoras de nitrogenados, fosfatados e potássicos (NPK), como Rússia e Belarus. Os preços cederam cerca de 30% desde 2022, disse um produtor. A tonelada de uma fórmula conhecida como “supersimples”, à base de fósforo, caiu de R$ 2,6 mil para R$ 1,4 mil. Já o potássio recuou de R$ 5 mil para R$ 2,6 mil. Annelise Izumi, analista do Itaú BBA, lembra que os produtores de EUA e Europa começam as compras de insumos agora, e este é o momento de observar demanda e comportamento de preços.

Os custos dos defensivos também devem melhorar. “Estamos observando se é um momento de calmaria ou o dia seguinte de fatores que impactaram o setor. Mas vemos uma normalização dos químicos, com melhora do custo real”, diz Fonseca. Mudanças na matriz energética chinesa e a política de covid zero no país, importante origem de matérias-primas, afetaram o segmento.

O Rabobank projeta, por ora, margem sobre o custo operacional de 45% na próxima safra, ante 38% em 2022/23. Ainda é cedo para projeções sobre o milho safrinha, diz. Fora adubos e defensivos, o clima é sempre um ponto de atenção para as margens, acrescenta Francisco Queiroz, analista do Itaú BBA. Segundo ele, os modelos começam a indicar possibilidade de algum impacto do El Niño no Nordeste.