Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Incertezas

<p>Laudo que descarta aftosa no Paraná gera desconfiança. Fontes do setor admitem que será difícil explicar o resultado aos países importadores.</p>

Redação SI 11/11/2005 – Envolvido em explicações oficiais que vêm sendo questionadas por fontes do mercado de carnes, o diagnóstico negativo sobre a febre aftosa no Paraná afetou a credibilidade da Defesa Agropecuária do país e complicou as explicações preparadas pelo Ministério da Agricultura para convencer os importadores a reabrir as portas à carne bovina brasileira.

Descartada a hipótese de aftosa, sobraram as alternativas de ocorrência de estomatite vesicular ou rinotraqueíte infecciosa nos bovinos de pelo menos quatro municípios do Paraná. Ocorre que as doenças são parecidas e o Laboratório Nacional Agropecuário de Belém não foi capaz de afastar as demais hipóteses ao analisar mais de 600 amostras de material enviadas pelo Paraná.

Ao contrário da aftosa, a estomatite afeta cavalos, tem incidência esporádica no gado, apresenta lesões mais discretas e é menos severa em animais jovens. A rinotraqueíte infecciosa também tem lesões mais discretas que a aftosa. “Tinha afta e sintomas clínicos. Mas se não é aftosa, então o que é? Não soubemos definir porque só temos condição de diagnosticar a aftosa”, disse Airton Nogueira, coordenador do Lanagro.

Os sintomas diagnosticados no gado poderiam ser atribuídos a uma “virose inespecífica”, dizem especialistas em comércio exterior. Mas o vaivém de versões e as suspeitas sobre os focos de aftosa nos bovinos complicaram a situação do Departamento de Saúde Animal. Parece ser difícil convencer com outra versão. “Se não havia nada, porque foi anunciado? Isso acabou com a credibilidade do país”, afirmou o senador Osmar Dias (PDT-PR), ex-secretário da Agricultura do Estado por oito anos.

O vice-governador do Paraná, Orlando Pessuti, tentou explicar a precipitação em torno do anúncio das suspeitas. “Pode ser outra febre, um ferimento provocado por uma pedra no meio do casco do gado ou uma rinotraqueíte”, disse. “Acredito na seriedade do laboratório do ministério e dos técnicos do Estado”.

Missões veterinárias dos EUA e União Européia desconfiaram da seriedade e da credibilidade do sistema de defesa agropecuária em recentes visitas ao país. E cobraram o governo em dois casos concretos no Mato Grosso do Sul: uma suspeita de aftosa em Paranhos, na fronteira com o Paraguai, e um caso de newcastle em Jaraguari, a 50 quilômetros da capital Campo Grande.

Em 22 de dezembro de 2004, o secretário estadual de Produção, Dagoberto Nogueira, anunciou que um exame do Centro Panamericano de Febre Aftosa (Panaftosa) havia constatado a doença em 23 cabeças de um rebanho de 50. Em 5 de janeiro deste ano, o ministério comunicou que o exame deu negativo e acusou a reatividade sorológica causada pela vacinação de novembro. Como nos 23 focos encontrados em outubro em Eldorado, Japorã e Mundo Novo, também suspeitava-se de contrabando de gado do Paraguai.

Outro caso também entrou nessa categoria. Em 12 de maio, 17 mil aves foram sacrificadas em Jaraguari (MS) por suspeitas da doença de newcastle. Em 8 de junho, o ministério afirmou ter identificado um tipo de vírus “não patogênico” – ou seja, incapaz de produzir essa infecção aguda. Para minimizar o caso, o laudo indicou que o índice para determinar o potencial de provocar a doença chegou a 0,41 e as regras internacionais só consideram a doença como emergência acima de 0,7.

Antenor Nogueira, presidente do Fórum de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), admitiu que o resultado no Paraná pode não ser bom no exterior. “Não sei o que a União Européia vai pensar”.

Desconfiadas do laudo, autoridades de Santa Catarina não voltaram atrás na assinatura de um acordo com o Exército para reforço da fiscalização de suas barreiras sanitárias na fronteira com o Paraná. “Enquanto estivermos em dúvida, o exército vai continuar”, disse Moacir Sopelsa, secretário de Agricultura catarinense. “Onde há fumaça, há fogo”, disse. O governo gaúcho, em contrapartida, comemorou o resultado negativo e reabriu as fronteiras com o Paraná