Da Redação 04/07/2005 – O expressivo crescimento dos embarques brasileiros de carnes ao exterior elevou a demanda por contêineres no país e já provoca alta nos custos de exportação, de acordo com indústrias e tradings consultadas pelo Valor.
A maior procura deve-se principalmente ao aumento no fluxo de vendas para a Rússia desde março passado. É que naquele mês os russos reabriram seu mercado às carnes brasileiras após seis meses de portas fechadas em decorrência de um caso de aftosa no Amazonas.
Outro estímulo à maior demanda por contêineres foi o salto dos embarques de frango ao Japão por conta da gripe aviária em concorrentes brasileiros como Tailândia e China.
Com a maior procura, o frete de um contêiner refrigerado saiu de US$ 4.500 para US$ 5.000 no caso de cargas que deixam o Brasil com destino a São Petesburgo, na Rússia.
“Com a reabertura do mercado russo, houve corrida por contêineres para exportar aves e carne bovina”, afirma Jerry O”Callaghan, diretor da unidade de carnes da Coimex Trading Company.
Essa maior movimentação está sobrecarregando portos de transbordo como Antuérpia, na Bélgica, e Hamburgo e Bremen, na Alemanha. Nesses portos, as cargas em contêineres são redistribuídas para vários destinos, mas boa parte do volume atualmente está sendo direcionada a São Petesburgo devido à demanda russa por carnes.
Conforme O”Callaghan, falta estrutura no porto russo – como tomadas de eletricidade, por exemplo – para receber tantos contêineres. Por conta disso, parte das cargas estão tendo de esperar nos portos de transbordo para a redistribuição. Isso atrasa o retorno dos contêineres vazios ao Brasil.
Além do maior custo do frete por contêiner, os exportadores brasileiros também têm de enfrentar maiores custos com armazenagem. Como em alguns casos não conseguem embarcar as cargas na data inicialmente prevista, as empresas têm de recorrer à estocagem em armazéns de terceiros até que seja possível realizar a operação.
Foi o que ocorreu com a cooperativa paranaense Coopavel, que teve de estocar uma carga de frango destinada à Rússia em um armazém geral em Cascavel por indisponibilidade de contêineres.
O gerente de frigoríficos da Coopavel, Carlos Alberto Cruz, explica que sem contêiner não é possível nomear navios, e que por isso é necessário recorrer à armazenagem em terceiros. Segundo ele, a entrada de novos exportadores no mercado também elevou a demanda por contêineres. Além disso, diz, o Brasil ampliou muito sua participação em mercados como o Japão, que compra do país cerca de 90% da carne de frango que importa.
Os sinais da forte demanda por contêineres para cargas frigorificadas também podem ser vistos no porto de Itajaí, em Santa Catarina, o principal do país em movimentação de cargas congeladas.
O diretor de logística do porto, Héder Moritz, afirma que houve acréscimo no movimento de cargas frigorificadas neste semestre, e como isso ocorreu em um momento em que a safra de maçãs também está sendo embarcada, ficou mais difícil conseguir contêineres.
Por conta disso, o cais comercial e a retroárea do porto estão completamente tomados por cargas que precisam ser embarcadas.
Segundo a administração do porto, até maio deste ano os embarques de frango por Itajaí cresceram 56% em relação a igual período de 2004. Os embarques de suínos e bovinos subiram 20%, enquanto o de pescados e outros produtos como ova de tainha, 106%. Apesar do quadro atual, Moritz acredita que a falta de contêineres é pontual e que a situação voltará ao normal com o fim da época de exportações de maçã.
A catarinense Aurora também enfrenta alta de custos por ter de estocar cargas em armazéns de terceiros à espera de contêineres. A cooperativa deixou de armazenar as cargas na sua sede em Chapecó (SC) para colocá-las em um porto seco em Itajaí, para poder aproveitar todo e qualquer espaço de última hora que surja em navios.
Segundo José Zeferino Pedrozo, presidente da Aurora, o grupo está negociando diretamente com armadores internacionais para que possa ter preferência na hora do embarque e agilidade nas exportações.
Para Eclésio da Silva, presidente do Sindicato dos Agentes de Navegação de Santa Catarina, o caos que se viu em 2004 em relação aos embarques não se repete hoje em Itajaí, mas, assim como no ano passado, há dificuldade dos retornos dos contêineres para congelados.
Segundo ele, como as importações do Brasil são de outra natureza, os contêineres que chegam não são apropriados. E como os operadores internacionais precisam de um espaço de tempo entre os envios de contêineres, a volta dos contêineres para cargas refrigeradas acaba sendo atrasada. Até porque eles voltam vazios, sendo menos interessantes comercialmente.
A demora no embarque também tem afetado a Brasfrigo, um dos principais portos secos para cargas congeladas em Itajaí. Segundo Odilon Fehlauer, superintendente do porto, o problema reapareceu depois que a Rússia voltou a comprar carnes do Brasil. Ele diz que isso afeta diretamente a empresa porque caiu a rotatividade na Brasfrigo, de 85 mil para 82 mil toneladas por mês.