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O híbrido certo

Tolerância a doenças, alto teor energético e maior quantidade de aminoácidos essenciais são algumas das características que devem ser observadas durante a escolha de sementes de milho destinada à alimentação animal.

Redação SI (Edição 179 – No. 05) – A importância do valor nutricional do grão de milho na alimentação animal é indiscutível, sobretudo como fonte de energia. Na atividade suinícola, o milho representa entre 60% e 75% dos ingredientes que constituem a dieta de suínos e é considerado inigualável quando comparado a outros cereais, no que diz respeito ao seu valor nutricional.

Diante de tamanha importância é preciso que o produtor esteja atento durante a escolha do híbrido a ser plantado em sua propriedade. A tolerância ao ataque de fungos produtores de micotoxinas, por exemplo, é um dos fatores que deve ser observado na escolha da semente a ser plantada quando o objetivo é a alimentação animal. Além desse quesito, os teores de óleo e proteínas são características importantes que também devem ser consideradas na escolha do híbrido. A proteína contida no milho também merece especial atenção, uma vez que representa em torno de 25% da proteína bruta consumida pelos suínos.

Os híbridos de milho possuem diferentes níveis de óleo, proteína e aminoácidos (veja tabela). Os suínos, por sua vez, necessitam dos componentes individuais, ou subunidades que compõem a proteína, os aminoácidos. As proteínas são compostas de várias combinações diferentes de aproximadamente 20 aminoácidos. Durante o processo de digestão, as proteínas são quebradas em aminoácidos individuais que são absorvidos pela corrente sangüínea. Esses aminoácidos são então incorporados em novas moléculas de proteínas. “Desta forma, a qualidade da proteína pode ser definida verificando-se se os aminoácidos essenciais contidos na fonte de proteína são suficientes para suprir a necessidade dos suínos”, explica Cláudio Peixoto, engenheiro agrônomo e gerente de Produtos da Pioneer Sementes. Os dez aminoácidos essenciais que devem ser fornecidos aos suínos, segundo Peixoto, são: lisina, treonina, triptofano, metionina (e cistina), isoleucina, histidina, valina, arginina, e fenilalanina (e tirosina). “Assim, ao avaliar-se os ingredientes da ração, esses aminoácidos, especialmente a lisina, são os mais importantes para se determinar a qualidade da proteína”.

Desenvolvendo tecnologia – Ciente de tais exigências, o setor de sementes há anos vem implementando programas de melhoramento genético, desenvolvimento e seleção de híbridos, avaliando a capacidade de adaptação de seus híbridos às diversas regiões e condições climáticas, como também quanto aos níveis nutricionais e de sanidade de grãos. Através desse minucioso trabalho, visa-se obter híbridos de milho com elevada produtividade, estabilidade e com características especiais, como maior teor de proteína, óleo, menor presença de fungos e produção de micotoxinas e, conseqüentemente, maior resposta animal. “Também é importante desenvolver, nessa linha, trabalhos de tecnologia de manejo, executando uma extensa rede de ensaios, avaliando o desempenho dos produtos quanto à redução de espaçamento, aumento de população de plantas, qualidade da silagem de planta inteira sob diferentes alturas e determinação da curva de perda de água nos grãos, avaliação da qualidade de grãos, dentre outras, visando obter informações úteis que possam auxiliar os produtores em seus processos operacionais para uma maior produtividade, qualidade e rentabilidade em seus negócios”, acrescenta Peixoto. 

Alguns trabalhos preliminares realizados a campo, revela o pesquisador, demostram que a inibição do crescimento dos fungos e a produção de micotoxinas estão relacionadas com os teores de gordura do grão, mais precisamente de ácido linoleico e a capacidade de expressão gênica da enzima lipoxigenaze. “Além da produtividade, a melhoria da qualidade de grãos faz parte do foco de todas as cadeias de produção animal. Alterar a composição média do grão de milho, sem perder produtividade, estabilidade e tolerância às doenças é o desafio que as empresas de semente vêm enfrentando nesses últimos anos e vêm obtendo excelentes resultados”, diz Peixoto. Segundo ele, em média, o endosperma de um grão convencional pesa 82,6% do total do grão e nele estão contidos cerca de 87,6% do amido, 7,9% da proteína e 0,83% do óleo. Nos 11,2% restantes, que se referem ao embrião, estão contidos 8,0% do amido, 18,3% da proteína e 33,5% do óleo. “As melhorias que vêm sendo incorporadas, por meio dos programas de melhoramento, ao longo desses anos, estão direcionadasbasicamente ao aumento da participação do embrião em relação ao endosperma”, explica o pesquisador da Pioneer. “Assim, os níveis de óleo e de proteína de alta qualidade têm aumentado sensivelmente”.

Os híbridos comerciais com teor diferenciado de óleo e proteína vêm recebendo, explica Peixoto, a preferência de suinocultores em várias regiões do Brasil. Alguns desses híbridos, por apresentarem características adicionais como ciclo precoce, elevada produtividade, alta tolerância a doenças e fácil debulha com elevada umidade, são plantados também para a produção de silagem de grão úmido. “No caso específico da silagem de grão úmido, há produtores que abrem mão de características especiais como o maior teor de óleo e proteína e fazem a opção pela hiper-precocidade, uma vez que necessitam liberar as áreas mais cedo para outros plantios”, explica.

Manejo – Após a escolha do híbrido, é fundamental que o produtor realize o manejo adequado das sementes sabendo, por exemplo, quando plantar, como preparar o solo adequadamente e quais os cuidados essenciais para promover o bom desenvolvimento das plantas. “Após a seleção do híbrido, é necessário que o produtor verifique junto à empresa produtora de sementes quais são as recomendações de plantio como, por exemplo, população, espaçamento e época de plantio”, explica Peixoto. De acordo com ele, a calagem e a adubação devem ser feitas com base na análise de solo, e fornecendo os nutrientes necessários e compatíveis com a produtividade esperada. Para que haja um bom desenvolvimento das plantas, diz o especialista, é necessário que estas tenham disponibilidade de luz, água e nutrientes, e que seja feito o manejo correto de pragas, doenças e plantas daninhas. Já a colheita deve ser feita com umidade ao redor de 25%. “Colheitas com umidade abaixo de 20%, via de regra, comprometem a qualidade, pois expõem os grãos contidos na espiga a uma série de adversidades como chuvas e insetos, fazendo com que os grãos apresentem fungos e, posteriormente, possam produzir micotoxinas”, diz.
Um outro aspecto importante se refere à secagem dos grãos. Segundo Peixoto, a secagem com altas temperaturas pode provocar perda da qualidade física e nutricional dos grãos. “Na secagem com a alta temperatura, a água do interior do grão se movimenta rapidamente para a superfície para então efetuar a troca com meio ambiente e assim perder umidade. Quando esse processo ocorre rapidamente surgem rupturas no interior dos grãos, criando fissuras que podem abrir portas para a entrada de fungos”, explica. “A alta temperatura no processo de secagem também pode deixar indisponíveis as proteínas fazendo com que esse grão fique pobre em termos nutricionais. Recomenda-se, portanto, cuidado com a secagem e que ela seja feita de maneira lenta e gradual”. 

Silagem de grãos úmido – Uma boa opção para os produtores que plantam milho e são suinocultores, avalia Peixoto, é a utilização da silagem de grão úmido. Para a silagem de grão úmido, os grãos de milho são colhidos com umidade entre 30% e 40% com colheitadeiras convencionais, e posteriormente, compactados e armazenados em silos. “Esse processo oferece redução de custos e conseqüentemente maior rentabilidade devido a menores descontos com umidade, impurezas, transportes, maior resposta animal, menor mortalidade dos leitões, menores gastos com medicamentos e abate precoce”, diz Peixoto. “Uma outra grande vantagem é a melhor qualidade sanitária e nutricional, uma vez que o milho colhido com alta umidade, entre 30% e 40%, não apresenta fungos e nem mi-cotoxinas, mantendo estáveis os teo-res nutricionais durante todo o ano”.

O mesmo não ocorre quando o suinocultor armazena grãos secos ou compra grãos secos de terceiros, adverte o pesquisador, pois a qualidade nutricional (óleo, proteína, etc.) cai ao longo do período de armazenamento em decorrência do ataque de fungos de armazenagem, que usam esses nutrientes como fonte de energia para se desenvolver. “Suinocultores que utilizam silagem de grão úmido afirmam que os melhores resultados são obtidos quando o milho estiver entre 32% e 35% de umidade”, diz Peixoto. “Para se evitar a colheita com o grão muito seco, é fundamental a seleção de híbridos com ciclos diferentes e que permitam o escalonamento de plantio, para que se possa realizar um adequado planejamento da colheita”.
Após a colheita, os grãos são moídos, quebrados ou laminados e são imediatamente compactados e armazenados em silos hermeticamente vedados. Em média, armazena-se entre 1.000 a 1.300 kg/m3. “A compactação pode ser feita com tratores e tem papel fundamental na qualidade da silagem. Quanto mais seco os grãos maiores serão os cuidados durante a compactação”, diz Peixoto.
Já o tamanho do silo depende diretamente do número de animais e da quantidade de alimentos que o suinocultor deverá fornecer aos animais. “Esses cálculos poderão ser realizados com base no número e no consumo de criadeiras, cachaços e leitões”.