Redação SI (Edição 166/2003) – Parecia uma meta audaciosa quando, em 1999, a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs) e a Agência de Promoção à Exportação (Apex), fixaram uma meta de 450 mil toneladas de carne suína brasileira para o exterior, atingindo uma receita de US$ 500 milhões, para o ano de 2002. E não é que o Brasil conseguiu. Exportou 475 mil toneladas em 2002 e chegou bem perto de atingir a receita pré-fixada três anos atrás (fechou o ano com um faturamento de US$ 481 milhões). “Naquela época, as exportações de carne suína brasileira estavam começando a tomar corpo e sua melhor cota chegou a 87.282 toneladas com faturamento de US$ 122 mil”, diz Cláudio Martins, diretor executivo da Abipecs.
Como diz o ditado “de grão em grão a galinha enche o bico”, neste caso o suíno brasileiro mostrou que é preciso muito mais do que “torcer o rabo”. É preciso ter qualidade e preço competitivo. “Estas são as grandes vantagens da carne suína brasileira: a sua qualidade, garantia sanitária e preço bastante competitivo no mercado internacional”. A meta e o trabalho de promoção da carne suína brasileira realizados pela Abipecs e pela Apex começaram a dar resultados já em 2000, quando o volume exportado saltou para 127.883 toneladas (e receita de US$ 171,8 mil) e surpreendeu os mais pessimistas ( por causa do episódio da febre aftosa no Rio Grande do Sul), exportando 265.165 mil toneladas da carne em 2001 (um faturamento de US$ 358,9 mil).
2002 – De acordo com a Abipecs, as exportações de carne suína em 2002 cresceram 80% sobre os volumes embarcados em 2001. O crescimento na receita foi de 34%. Boa parte da carne suína exportada pelo Brasil em 2002, cerca de 80%, foi para o mercado russo, que comprou 377 mil toneladas. Isto representa 30% da demanda russa por carne suína.
De acordo com Martins, a alta do dólar no ano de 2002 foi positiva para as exportações suínas. “O câmbio ajudou, mas não foi o ideal. O interessante seria uma cotação de R$ 3,20 por US$ 1”. Outro ponto positivo citado pelo diretor sobre o bom desempenho do setor foi a parceria da Abipecs com a Apex na contínua promoção da carne suína brasileira. “Não podemos deixar de ressaltar a agressividade natural das empresas brasileiras em exercer a competitividade nos mercados interno e externo”, diz. “Também foi muito favorável a atuação do ex-ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, junto ao agronegócio e às relações internacionais”.
Mercados – O setor suinícola brasileiro tem plena capacidade de produção para sustentar os planos de exportação, afirma Cláudio Martins. Segundo ele, é com o crescimento das exportações que a suinocultura brasileira conseguirá atingir a sua maturidade. “O Brasil tem a qualidade que o mercado internacional exige”.
De acordo com Cláudio Martins, o Brasil deverá ampliar seu mercado com a abertura da China, Filipinas e Europa em 2003 |
Hoje, o maior comprador de carne suína do Brasil é a Rússia. Porém, o país deixou-se influenciar por medidas protecionistas, aplicadas por outros países, e anunciou limites para as importações de carnes em 2003, independente da origem. “A Abipecs está acompanhando todas essas manobras junto ao governo federal”. Outros compradores significativos da carne suína brasileira são Hong Kong e Uruguai.
China – A China é um mercado muito interessante para o Brasil. “Isto pode representar embarques entre 8 e 10 mil toneladas por mês”, diz Martins. As negociações entre os dois países estão muito adiantadas. Segundo o diretor, falta definir um importador e a aceitação do Certificado Sanitário brasileiro pelas autoridades chinesas. “Acredito que em breve teremos boas notícias da China”.
Filipinas e Chile – Outros mercados que estão de olho na carne suína brasileira são as Filipinas (que devem fechar negócios de 50 mil toneladas por ano) e o Chile. “Com o Chile estamos no processo de fechar um acordo sanitário para a exportação”.
Argentina – Importante comprador da carne suína brasileira, o mercado argentino suspendeu as importações em 2002 sob a acusação de dumping. Em 2001, a Argentina comprou 38.665 toneladas de carne suína do Brasil e em 2002, as compras foram de aproximadamente 8 mil toneladas. “O mercado argentino está estagnado. Para voltar a ser como antes será muito difícil”, desabafa Martins. “O Brasil precisa ajudar a recriar o Mercosul. É preciso que este novo governo tenha atenção especial para o comércio exterior”. Porém, Martins não deixa de ser otimista e acredita que em 2003 a Argentina voltará a comprar carne suína brasileira, pois não é um grande produtor de suínos.
Europa e Japão – No primeiro semestre de 2002, o Brasil recebeu uma missão européia para vistoriar a produção e o processamento de suínos. O objetivo da missão seria habilitar ou não os frigoríficos brasileiros para firmar um acordo comercial da carne. Para a frustração das empresas brasileiras e da Abipecs, os europeus deram um parecer negativo e deixaram uma série de recomendações ao Brasil. “Estas exigências, como controle da parte burocrática e rastreabilidade, atrasou em um ano as negociações entre o Brasil e a Europa”, explica Martins. “O Brasil deve concluir essas recomendações até fevereiro de 2003 e a nossa previsão é que uma nova missão européia venha ao País até o final deste semestre”.
Uma vez aberta as comercializações entre o Brasil e a Europa para a carne suína, o Japão, maior importador mundial do produto, poderá também firmar acordos para comprar o suíno brasileiro. “A Europa é um mercado muito exigente e o seu aval representaria para nós a abertura de novos mercados como o Japão (muito exigente), EUA e Canadá”.
Destaque – A suinocultura foi o maior destaque nas exportações pecuárias de 2002, de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). De dezembro de 2001 a novembro de 2002, as vendas externas de carne suína in natura totalizaram US$ 458,5 milhões, com um crescimento de 35,6% em comparação com os 12 meses anteriores, quando somaram US$ 338,1 milhões. Hoje, o segmento é responsável por 15% das exportações do complexo carnes.
Aujeszky barra exportações de Santa Catarina Desde o último dia 23 de dezembro, a Rússia cancelou os embarques de carne suína de Santa Catarina devido a surtos da Doença de Aujeszky em algumas granjas do Estado. A vigilância sanitária estadual e federal estão agindo com rapidez e pretendem até o final de janeiro eliminar 100% dos animais atingidos e retomar as negociações com a Rússia. Inclusive, com uma visita do novo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e uma missão brasileira às autoridades russas. |