Da Redação 02/04/2003 – Apesar da chegada ao mercado das safras recordes de soja de Brasil e Argentina, que devem somar mais de 80 milhões de toneladas em 2002/03, os preços internacionais da oleaginosa podem atingir novos picos entre abril e junho. “A safra monstruosa da América do Sul pode ser apenas suficiente para evitar uma grande falta de produto nos próximos meses”, disse Thomas Mielke, editor da publicação alemã Oil World, durante o 73o. Congresso Mundial da Associação Internacional dos Esmagadores de Soja, no Rio de Janeiro.
Dois fatores explicam a previsão: os baixos estoques americanos e a firme demanda mundial, principalmente da China. “Caminhamos numa corda bamba e ainda existe o risco de uma forte alta de preços da soja e de outras oleaginosas. Isso pode levar a variações amplas de preços nos próximos meses”, diz Mielke.
“A estrutura de preços pode dar um notável incentivo para que os produtores da América do Sul não retenham seus estoques. Mas se eles se derem conta que virtualmente não terão competição de outras origens ou oleaginosas nos próximos quatro meses, uma ””greve de vendas”” irá imediatamente assegurar um mercado firme”, acredita.
Mielke lembra que as dificuldades de logística no Brasil podem acarretar atraso nos embarques, mantendo elevadas as exportações americanas por mais tempo e pressionando os estoques do país. Com a greve e as filas no porto de Paranaguá (PR), importadores chineses têm cancelado navios de soja brasileira para adquirir o grão americano. “Os esmagadores estão pagando prêmio de US$ 13 a US$ 14 por tonelada pela soja americana para ter garantia de entrega”, diz.
De acordo com o especialista, a deficiente infra-estrutura de escoamento do Brasil pode frear a expansão da cultura no país – que tem um dos maiores potenciais de expansão de área plantada do mundo. Assim, ao contrário da alta de 17% – cerca de 7 milhões de toneladas – prevista para essa safra, a produção brasileira deve crescer entre 2 milhões e 3 milhões de toneladas por ano na próxima década, prevê.
Apesar dos altos preços previstos para os próximos meses, o ciclo de alta da soja pode estar chegando ao fim. A tendência pode ser revertida a partir do segundo semestre deste ano, graças à recuperação da área plantada de outras oleaginosas, como a canola e o amendoim. “Mas tudo depende do clima”, ressalta Mielke. Nos Estados Unidos, 2003 começou com uma forte seca, que na safra passada prejudicou as lavouras de soja do país.