A maior parte da soja certificada como não geneticamente modificada tem saído de estados do Centro Oeste. “Os projetos começaram no Sul e foram para o Centro Oeste porque quanto maior o risco, mais caro o processo”, afirma Pablo Molly, gerente de projetos da Gene Scan Europa AG.
Prêmio pago
Poucas empresas se arriscam a trabalhar com o grão gaúcho, uma vez que as estimativas extra-oficiais indicam que entre 70% e 80% da soja daquele estado, cuja produção é de 8,6 milhões de toneladas, seja geneticamente modificada.
Há cinco anos, a Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai Ltda. (Cotrimaio) é uma das únicas daquela região que trabalha com soja não geneticamente modificada. Este ano, a cooperativa deve produzir 120 mil toneladas de soja certificada como não transgênica (75% do total recebido).
Para o gerente de produção da Cotrimaio, Onairo Sanches, o programa de cooperativa, que paga um prêmio de 4% sobre o grão não identificado, é que tem permitido que a região noroeste do estado não seja contaminada pela soja transgênica. Ele acredita que ali, apenas 20% da área tenha a semente ilegal.
Outra empresa do ramo que já faz a rastreabilidade do grão é a Caramuru. Segundo o presidente da empresa César Borges de Sousa, quase 90% da produção é certificada para atender ao mercado externo. O índice é alto porque a Caramuru trabalha basicamente com o produto goiano – não existem estimativas de soja transgênica naquele estado. Segundo ele, hoje o prêmio pago ao produtor e também o recebido nas exportações é pequeno, suficiente apenas para custear o processo de segregação. Sousa acredita que, com a MP, o controle será facilitado, uma vez que o plantio de OGMs está proibido.
Quase todas as empresas que hoje realizam testes de transgenia e a certificação do grão têm capacidade de aumentar o serviço se a exigência da MP for cumprida. Mas o mercado não aposta que o setor siga a lei. “É muito mais fácil dizer que toda a soja do Rio Grande do Sul é transgênica”, disse uma fonte das certificadoras. No Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento também existe esta idéia, de apenas classificar os estados, sem a necessidade de todo o procedimento burocrático.
Testes de transgenia – A Genetic ID, que realiza os testes para a Cert ID, hoje tem um laboratório em Porto Alegre (RS), cuja capacidade, parte ociosa, é de mil testes/mês. Augusto Freire, gerente de desenvolvimento de projetos de empresa, diz que se houver excesso de demanda, será expandido o laboratório. Este ano, a empresa deve certificar 2,3 milhões de toneladas do grão, parte destinado ao consumo interno (lecitina ou proteína) e o restante para União Européia e Ásia.
Na SGS do Brasil a expectativa é de que, com a nova lei, os pedidos de testes dobrem, mas haveria dificuldade na certificação, uma vez que não foi acompanhado o processo desde o plantio do grão. Este ano, a empresa deve certificar 5 milhões de grãos e 3,45 milhões de farelo, 68% a mais em relação a 2002. Em Viçosa (MG), a empresa incubada Laboratório de Análises Genéticas realiza 120 testes de transgenia/mês. Maurílio Alves Moreira, sócio da empresa, acredita que com a MP possa chegar a 300 exames/mês.
kicker: As previsões são de que até 80% da produção do Rio Grande do Sul seja alterada geneticamente.