Redação SI 26/05/2003 – O suinocultor goiano gasta entre R$ 1,75 a R$ 1,90 para produzir um quilo de suíno vivo e comercializa o produto a R$ 1,80. A informação é do presidente da Associação Goiana de Suinocultores (AGS), Eugênio Arantes Pires, para quem a suinocultura goiana vem atravessando nos últimos 16 meses a pior crise de sua história. Segundo ele, a atual correlação entre custo de produção e preço pago ao produtor significa prejuízo certo para os produtores independente, especialmente nos casos de granjas menos tecnificadas.
Diante dessa situação, Eugênio Arantes apela ao Ministério da Agricultura para que utilize critérios rigorosos na remoção de estoques de milho produzidos em Goiás, para que o produto não venha a se tornar escasso no Estado, agravando ainda mais a situação das granjas no período da entressafra. Ele admite que depois do início da colheita, uma substancial redução na cotação do milho aliviou a pressão de custos sobre a suinocultura, mas reclama que outros insumos, como as vitaminas, embora dolarizados, não tiveram seus preços reduzidos com a desvalorização do câmbio.
Exportações
Conforme o presidente da AGS a crise teve início em dezembro de 2002, com o veto da Rússia às importações de carne suína de Santa Catarina, que respondia por 75% das exportações brasileiras para aquele país. Com essa perda de exportações, as granjas catarinenses dirigiram praticamente toda a sua produção para o mercado interno, provocando superoferta do produto e a conseqüente redução de preços. Segundo o dirigente da AGS, o agravamento da situação levou ao abate de 300 mil matrizes ao longo do ano passado, com o plantel reduzindo-se de 2,8 milhões para 2,5 milhões de cabeças, o que gerou um prejuízo estimado de US$ 200 milhões (cerca de R$ 600 milhões) para os suinocultores de todo o País.
De acordo com Eugênio Arantes, esses abates indiscriminados de matrizes em função da crise são altamente prejudiciais ao setor, porque se trata de excelente material genético, que envolve elevados investimentos dos produtores. Segundo ele, um dos componentes da crise da suinocultura é o baixo consumo do produto pelo mercado interno, que no ano passado era de 13,5 quilos pessoa/ano, e que este ano já caiu para 12,9 quilos. “Só para se ter uma idéia, o consumo de carne suína na Dinamarca é de 76 quilos pessoa/ano”, informa o presidente da AGS. Conforme Eugênio Arantes, a maioria dos consumidores mantém uma atitude preconceituosa em relação ao produto, por não saber que de 1980 para cá o suíno brasileiro perdeu 31% de gordura, 10% de colesterol e 14% de calorias.
Para tentar colocar a crise do setor na ordem do dia, os suinocultores de todo o País realizam uma audiência pública no Congresso Nacional, no próximo dia 3, quando pretendem convencer os parlamentares a apoiarem as suas reivindicações. O setor reivindica do governo uma política mais agressiva para abertura de novos mercados para a carne suína no exterior, a prorrogação das dívidas de custeio por 5 anos e as de investimento por 20 anos. Além disso, os suinocultores querem que o Conselho Monetário Nacional (CMN) avalie as distorções de preços e margens de lucro ao longo de toda a cadeia produtiva.