Da Redação 06/08/2003 – Apesar da recente queda dos preços internacionais do grão, do aumento dos custos de produção e do câmbio menos atrativo, a soja segue concentrando as apostas dos agricultores brasileiros. Levantamentos de consultorias privadas especializadas indicam que a área plantada com a oleaginosa na safra 2003/04 deve se aproximar ou até quebrar a marca de 20 milhões de hectares, o que pode significar produção de 57 milhões de toneladas.
Em sua expansão, a soja abre novas fronteiras e toma espaço de áreas de pecuária e de milho. Assustados com a queda de quase 40% nos preços do milho desde fevereiro, provocada pelo bom desempenho da safra de verão e por uma “super-safrinha”, os agricultores devem reduzir em 5% o plantio de milho, segundo estimativa preliminar da Céleres/M.Prado.
De acordo com Leonardo Sologuren, da Céleres, nem a ferrugem asiática da soja, doença que afeta algumas regiões de cultivo, deve mudar o ânimo do produtor em semear a oleaginosa. Rosemeire dos Santos, da Federação de Agricultura do Mato Grosso – Famato – , concorda e diz que o produtor prefere investir em fungicidas – que elevam os custos de produção – , mas garantir um produto de maior liquidez que o milho.
`Não há o que fazer com o milho`. Se nem a safrinha nós conseguimos vender”, justifica o agricultor Inácio Weber que irá plantar 10 mil hectares de soja em Sapezal, no Mato Grosso.
Segundo a Safras & Mercado, a área de soja pode avançar 8% em 2003/04, atingindo 19,58 milhões de hectares, resultando em produção de 56,9 milhões de toneladas. A estimativa é superior às 56 milhões de toneladas projetadas pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.
Ainda mais otimista, a Céleres/MPrado indica área de 20,254 milhões de hectares e produção de 57,386 milhões de toneladas. Já a Agroconsult estima um aumento de área de soja de 1,7 milhões de hectares, para 20,1 milhões. A consultoria não divulga estimativa de produção.
`Não tem nada melhor que soja`, constata Anderson Galvão, da Céleres. Apesar das recentes quedas, os preços da oleaginosa ainda são muito superiores aos do milho. No Paraná, por exemplo, a saca de milho está em R$ 13,50 no disponível. A soja está em R$ 35, segundo a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
Conforme a Safras, a maior expansão da soja continua no Centro-Oeste, com destaque para a alta de 11% no Mato Grosso.
O ritmo de expansão, contudo, não é o mesmo de 2002/03, quando a área de soja chegou a crescer 2 milhões de hectares. Para André Pessôa, da Agroconsult, a desaceleração é resultado do maior custo de produção, conseqüência da desvalorização cambial, e do encarecimento da terra. `O fôlego financeiro diminuiu`.
Para o professor Fernando Homem de Melo, da Universidade de São Paulo, a área de soja deve crescer, mas a euforia vista nos últimos anos não deve se repetir, já que o cenário mudou. Na safra passada, os preços internacionais estavam em alta e o câmbio desvalorizado, observa.
Ainda assim, segundo a Ocepar, a área de soja no Paraná deve crescer 6% sobre os 3,6 milhões de hectares de 2002/03. `A soja tem mais liquidez, vira dinheiro na hora`, justifica Nelson Costa, gerente da área econômica da Ocepar. No Estado, o Deral – órgão da Secretaria de Agricultura – estima uma queda de 8% na área de plantio de verão, para 1,34 milhão de hectares. `Os consumidores ficarão cada vez mais dependentes da safrinha`, afirma Vera Zardo, especialista do Deral.
Pela estimativa da Safras & Mercado, a área plantada com milho no país na safra de verão deve cair 1,3%, para 11,72 milhões de hectares, e a produção pode ceder 4%, para 39,3 milhões de toneladas. Para Paulo Molinari, analista da Safras, a nova política agrícola do governo, que aumentou o limite de custeio do milho, deve preservar um pouco a área. `Mas o investimento em tecnologia irá cair. O produtor vai adubar menos e optar por sementes mais baratas`, diz.
Molinari pode estar otimista. No próprio governo há quem fale em queda de 5% na área de milho de verão, que foi de 12,9 milhão de hectares em 2002/03.