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Produtor de suíno reclama de redução das margens

A margem dos supermercados, porém, avança para 53% e 57% nos embutidos e outros produtos suínos.

Redação SI 18/08/2003 – Ainda sequer recuperou-se da crise do ano passado, a suinocultura nacional ameaça mergulhar outra vez num turbilhão de dificuldades. Agora, em que pese a insegurança em relação ao fornecimento de milho, é o preço pago pela carne o principal risco de desestabilização da atividade, segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), José Adão Braun.

“Nunca o País produziu tanto e tão bem, jamais exportou tanto e, no entanto, nunca o produtor foi tão mal remunerado”, observa José Braun. De acordo com a ABCS, até o ano passado, o pecuarista era contemplado com R$ 1,15 pelo quilo da carne; a indústria (frigoríficos) repassava o produto a R$ 3,05; e o varejo (supermercados) o fazia chegar ao consumidor ao custo final de R$ 5,55. “Há uma distorção na cadeia: o consumidor paga muito e o produtor não ganha nada”.

Essa relação, na prática, remunerava o produtor e a indústria com 55% do custo final, enquanto o varejo ficava com 45% – em “embutidos” e “outros produtos suínos”. A margem dos supermercados avança para 53% e 57%, respectivamente. Em junho último, o produtor tinha prejuízo de R$ 50 por animal”, relata o deputado estadual Jerônimo Goergen (PP), presidente da comissão parlamentar de inquérito (CPI) instaurada para investigar o mercado de carne no Rio Grande do Sul.

Segundo ele, o funcionamento da CPI já produziu resultados – o prejuízo do produtor recuou para R$ 18 por animal- mas persistem outros problemas. “A montagem da estrutura dos tributos no Rio Grande do Sul, por exemplo, faz a carne bovina e suína de outras regiões entrar no Estado com preço 17% inferior à nossa”, afirma. No ano passado, os gaúchos responderam por 22% do abate de suínos no País – que chegou a 21,82 milhões de cabeças, conforme a ABCS.

A questão do fornecimento do milho, por sua vez, causa apreensão para criadores de todo país – entre abril de 2001 e 2003, o produto acumulou alta de 132%, ante 14,7% da carne suína. O descompasso jogou o setor em crise, resultando no abate precoce de cerca de 300 mil matrizes, capazes de produzir 3 milhões de animais. “Segundo o próprio Ministério da Agricultura, foi a maior queima de material genético da história do país”, assinala José Braun.

Embora a safra 2002/2003 tenha resultado em oferta adequada de milho, não está descartado o risco de sobressaltos para o setor em 2004. Os suinocultores temem que a queda na cotação do grão, cuja saca recuou de cerca R$ 30 em meados do ano passado para R$ 16 atuais, desestimule os agricultores a renovar plantios – que seriam substituídos pela soja. “Podemos ficar sem milho nacional e impedidos de importar o grão transgênico, como já ocorreu”, adverte o presidente da ABCS.

Opção pela exportação

Outra preocupação é com a possibilidade de os produtores de milho buscarem preço mais satisfatório no mercado exterior – afinal no auge do desabastecimento nacional, em 2001 e 2002, o Brasil exportou 5,62 milhões e 2,74 milhões de toneladas do grãos. “Temos insistido para que o governo regule a questão do preço, adquirindo 4,5 milhões de toneladas do milho em regiões onde haja excedente, como o Centro Oeste. Mas parece que não há dinheiro para tanto”, afirma José Braun.

Ele avalia, no entanto, que removidos esses obstáculos – renda ao produtor de suínos e segurança no fornecimento do milho – o setor tem excelentes perspectivas de mercado, tanto no âmbito doméstico como internacional. Num ambiente mais favorável, até 2006 o país pode expandir em 15% o consumo da carne e elevar as exportações em 77,8% – o que exigiria um incremento de 25,6% sobre as 2,786 milhões de toneladas projetadas para 2003.