Redação SI 17/09/2003 – Boa genética, lavouras de grãos para alimentar os plantéis, estímulo do governo e proximidade com o mercado externo são os fatores que, reunidos, animam os suinocultores do Ceará a investirem e melhorarem cada vez mais os seus criatórios. Pensando na significativa melhoria dos plantéis, desenvolvidos a partir da utilização de uma boa genética, um bom manejo e um rigoroso controle sanitário – vermifugação, vacinas e controle de parasitas -, tudo controlado por computadores, os criadores investem pesado para assumirem a liderança do setor no Nordeste. Outro estímulo é o fato de terem no bolso o resultado de uma pesquisa mostrando que tanto o cearense como os nordestinos estão consumindo um pouco mais de carne suína. E mais: em recente encontro realizado em Fortaleza, empresários africanos demonstraram interesse em importar esta carne.
“Atravessamos um momento muito propício à suinocultura do Ceará, tendo em vista que determinados preconceitos contra o consumo de carne suína estão desaparecendo”, diz a médica veterinária Karine Cerqueira, que dá assistência à granja e abatedouro JMC, instalado no distrito de Croatá, no município de São Gonçalo do Amarante, a 70 quilômetros de Fortaleza. Ela garantiu que “a carne de porco produzida e ofertada às principais cadeias de supermercados é tão boa, saborosa e nutritiva quanto as carnes suínas produzidas em outros centros”.
Com instalações modernas, o abatedouro da JMC, recém-construído e funcionando em caráter experimental, é prova do otimismo do setor com o crescimento do mercado. “Teremos capacidade de abater até cem animais por dia, com certificação estadual e federal”, diz Karine.
“No momento estamos promovendo o treinamento de cortadores, com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na perspectiva de produzir o melhor corte”, diz.
Trabalhando com suínos há mais de 20 anos, o produtor José Maria Couto sonha em colocar pernis, filés, picanhas, costelas, carrés e embutidos feitos integralmente de carne de porco nas prateleiras dos supermercados de Fortaleza para, num momento seguinte, espalhá-los pelo Nordeste.
Consumo maior – Atualmente, o consumo de carne suína no Ceará gira em torno de 5 quilos/habitante/ano. A idéia dos produtores é promover um aumento para 8 a 10 quilos/ano a partir de uma campanha de divulgação das virtudes nutricionais e do preço mais baixo da carne suína, com muitas sessões gastronômicas e de degustação. “Não pretendemos mais do que isso”, observou o produtor, ao descartar qualquer hipótese de mandar seus produtos para o Sul.
Ele explicou que a perspectiva de exportação passou a existir pelo interesse de importadores africanos que estiveram no Ceará em junho, quando algumas negociações foram feitas. A Federação da Agricultura do Estado do Ceará e o Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae) vai mandar uma delegação para a África, em agosto, para identificar as melhores oportunidades.
Entre a opção de exportar ou mandar seus produtos para o Centro-Sul do País, Couto informou que prefere abastecer o mercado africano, um novo nicho de negócios. “No Centro-Sul já existem várias empresas que garantem o abastecimento”, diz ele, acrescentando que do Ceará para a África é mais fácil e relativamente mais perto: os embarques são feitos pelo Porto de Mucuripe, em Fortaleza. Os navios atravessam o Atlântico, chegam a Libéria, Ghana, República dos Camarões, Angola, Namíbia, Nigéria e cerca de 30 outros países, em viagens de no máximo uma semana. “Com uma diferença: eles pagam em dólar”, destaca o produtor.
A 120 quilômetros da JMC, na mesma região norte do Ceará, em Itarema, está a granja Sucasa, do produtor João Bosco Ferreira Gomes, especializada na comercialização de animais terminados, de até 100 quilos. “Vendemos todas as semanas para Teresina e São Luiz uma média de mil animais”, diz Ferreira Gomes. “Aqui temos uma preocupação especial em relação à saúde dos nossos animais.”
Assistida pelo médico veterinário chileno Plano Garcia Santoval, de 43 anos, dos quais 13 cuidando na Sucasa, ele ilustra o crescimento do interesse por carne suína com um fato: “Começamos a comercializar, no ano passado, menos de 500 animais/mês. Hoje vendemos mais de mil animais”, diz. Segundo Ferreira Gomes, o segredo está na atenção dada ao plantel, desde os cuidadosos processos de retirada do sêmen dos reprodutores até sua aplicação nas matrizes, por meio da inseminação artificial, partos, desmame até atingirem 100 quilos, num ambiente extremamente higiênico.