Da Redação 29/09/2003 – 0h50- Pesquisar, pesquisar e pesquisar. Com base neste caminho, os cientistas brasileiros ligados ao melhoramento genético defendem a desburocratização das pesquisas com os transgênicos, os organismos geneticamente modificados.
Trata-se de tecnologia que pode ser empregada em várias culturas, apesar de a soja ser a grande vedete do momento, ainda mais depois que o Governo Federal, por intermédio de uma medida provisória, resolveu liberar, na sexta-feira (26/9), o plantio de sementes modificadas geneticamente.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveu, nos últimos anos, linhas de pesquisas com transgênicos em várias frentes. Seja para a soja, milho, batata, feijão ou até mamão, a transferência de alguns genes poderá trazer benefícios importantes para produtores e consumidores.
Exatamente por ter cumprido a lei nos últimos anos é que os cientistas ainda não tiveram como trocar o tempo do verbo, do condicional para o afirmativo. A Embrapa e outros centros de pesquisa não conseguiram avançar muito com as pesquisas de campo, exatamente por causa dos entraves burocráticos.
Durante o Congresso Nacional de Genética, encerrado no último dia 19 em Águas de Lindóia (SP), a maioria dos geneticistas presentes defendeu que a flexibilização para que se possa estudar melhor os transgênicos seja feita o mais rápido possível – e não apenas para a soja. “No Brasil existe um grande atraso no caso das pesquisas com transgênicos”, disse Ernesto Paterniani, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo.
A Embrapa colocou sua posição em nota oficial. “O que se busca é o princípio da precaução. É preciso que se garanta que a liberação do organismo transgênico não traga efeitos negativos à saúde humana e ao meio ambiente. Não se libera um organismo para uso generalizado, enquanto não se tenha informações que garantam a sua biossegurança”, disse o comunicado.
Também presente no Congresso Nacional de Genética, Rubens Nodari, professor da Universidade Federal de Santa Catarina e hoje no Ministério do Meio Ambiente (MMA), concordou em parte com a posição oficial da Embrapa. “Não somos em hipótese alguma contrários à tecnologia”, disse ele. “O que precisamos é de estudos que garantam a segurança ao meio ambiente”. Nodari, que também recorreu ao princípio da precaução para defender a cautela que pautou as decisões do MMA até agora, lembrou os eventuais problemas que os transgênicos poderão causar ao meio ambiente, como a contaminação de outras populações.
O fato de até hoje não ter ocorrido nenhum problema com o consumo de alimentos transgênicos onde tais produtos estão liberados, como nos Estados Unidos, não é considerado prova de segurança total. Nodari lembrou, por exemplo, do caso do gás CFC. Apenas vários anos depois que a substância passou a ser empregada é que se descobriu que ela agredia, e bastante, o meio ambiente.