O Rio Grande do Sul é o segundo Estado que mais produz carne suína no Brasil e o maior exportador nacional. O plantel gaúcho está estimado em pouco mais de quatro milhões de cabeças. De janeiro a agosto de 2008, o Rio Grande do Sul exportou 155,86 mil toneladas de carne suína, valor equivalente à US$ 486,63 milhões. No mesmo período deste ano, foram exportadas 145,05 mil toneladas, valor equivalente à US$ 295,05 milhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Tamanha grandeza favorece o Estado e o setor está confiante. Está é a opinião do presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador. “O mercado vem melhorando e tem dado sinais de reação. Constatamos a melhora dos preços internos e externos, além do aumento do volume e das receitas das exportações”, afirma.
Folador também é otimista em relação ao mercado interno. “A carne suína é a proteína mais consumida do mundo, mas consumo per capita no Brasil ainda é baixo”, explica. “Precisamos enfocar o consumidor brasileiro, pois ele é o grande alicerce para que nos mantenhamos o escoamento da produção num momento de dificuldade perante o mercado externo”.
Suinocultura Industrial teve acesso a uma entrevista com Valdecir Folador, produzida pela Acsurs e cedida, com exclusividade, à nossa publicação. Nela, o presidente da entidade fala sobre as perspectivas do setor suinícola gaúcho e aborda o mercado de carne suína [interno e externo]. Folador cita também os custos de produção e acredita que o foco para a produção de alimentos no Brasil deve ser valorizado pelo suinocultor. Acompanhe!
Suinocultura Industrial- A suinocultura gaúcha continua sendo a mais expressiva no âmbito do Brasil, e quais são as suas perspectivas futuras?
Valdecir Folador- O Rio Grande do Sul continua sendo o 2º Estado que mais produz carne suína no Brasil e o maior exportador. Logo, a suinocultura gaúcha continua tendo uma condição bastante favorável e o Vale do Taquari tem grande participação neste quesito.
Quanto ao futuro, as perspectivas são favoráveis, pois o mercado vem melhorando e tem dado sinais de reação. Constatamos isso com a melhora dos preços internos e externos, além do aumento do volume e das receitas das exportações.
Esse quadro tem proporcionado ao suinocultor uma perspectiva positiva quanto à produção de suínos e também feito com que ele volte a ter rentabilidade com atividade, tendo em vista que já são onze meses de prejuízos que os produtores têm enfrentado, em função dos reflexos principalmente da crise econômica mundial, que iniciou em outubro de 2008 e apenas hoje começa a dar sinais de recuperação. Assim, o mercado está melhorando e trazendo de volta ao suinocultor a rentabilidade.
SI- A carne suína é a proteína animal mais consumida no mundo. O Brasil consegue atender a demanda, com exportações, há restrições, exigências dos compradores, e como está o mercado interno?
VF- A carne suína, realmente, é a carne mais consumida no mundo. O volume do consumo per capita no Brasil ainda é baixo, ficando atrás de vários países, principalmente os integrantes da União Européia, onde o consumo é de 40 a 60 kg per capita ao ano.
Atualmente, o Brasil consegue atender às demandas das exportações. Caso surjam novos países com interesse em importar a nossa carne, o que seria muito positivo, ainda temos capacidade de atender a uma parcela dessa demanda, em função do crescente aumento da produção interna. Já o consumo do mercado interno vem crescendo gradativamente. No entanto, esse crescimento é muito pouco, se compararmos com outros países.
Quantos às exportações, as principais dificuldades enfrentadas são as barreiras sanitárias impostas à carne suína brasileira. Estas ocorrem não porque nós não produzimos com qualidade ou competitividade, mas sim, porque o Brasil continua sendo um país livre de aftosa com vacinação.
Isso acaba sendo um dos fatores que faz com que os principais países importadores de carne suína no mundo (União Européia, Estados Unidos, Japão) imponham essa condição para não abrir mais a importação da carne suína brasileira. Assim, o fator sanitário é usado para impedir o acesso ainda maior do Brasil no mercado internacional de carnes.
Além disso, é necessário que tenhamos um entendimento que hoje o consumo e a produção mundial de carne suína está em certo patamar. Esse patamar não pode ser alterado do dia para a noite, ou seja, a produção ou o consumo não podem ser alterados rapidamente. Nós temos um determinado volume de produção e um determinado volume de consumo que precisa ser respeitado, pois engloba diversas variáveis.
Alguns países da União Européia e o próprio Estados Unidos também enfrentam crises nas suas suinoculturas, como reduções de plantel e redução de produção. Isso acaba abrindo novos mercados para o Brasil, tendo em vista que outros países também tem seus problemas internos, que influem nas suas produções de suínos.
Entretanto, acredito que nos próximos anos o Brasil vai continuar “agredindo” o mercado internacional, conquistando novos mercados e recuperando a quantidade das exportações para os países onde houve queda.
Acredito também que a grande saída para a carne suína produzida no Brasil é o nosso mercado interno, pois nós temos um mercado interno muito aberto para a carne suína, tendo em vista que o nosso consumo per capita é relativamente baixo, não chegando a 14 kg per capita por habitante ao ano. Por isso, nós temos um potencial muito grande de consumo no mercado interno, que precisa ser trabalhado, pois ele é o grande alicerce para que nos mantenhamos o escoamento da produção num momento de dificuldade perante o mercado externo.
Sempre o mercado interno é que vai resolver o problema da suinocultura e não o mercado externo. Se o mercado externo tiver problemas, para onde nós vamos direcionar a nossa produção? Para o mercado interno. Por isso é preciso que toda a cadeia produtiva tenha esse entendimento e invista cada vez mais no mercado interno, com campanhas e divulgações,
Para que a carne suína seja entendida e conhecida cada vez mais pelo nosso consumidor. O mercado interno é a grande saída e o grande pilar mestre de sustentação da cadeia produtiva de suínos do Brasil.
SI- Os produtores “autônomos” continuam pagando para produzir? Até quando vai persistir esta realidade?
VF- Hoje não existe produtor que seja independente. Existe o produtor que tem um contrato assinado com uma empresa e o produtor que não tem contrato de produção assinado com as indústrias. Hoje, os produtores têm destino certo para seus suínos, ninguém está “solto” no mercado, vendendo seus animais para um ou para outro, sem ter um destino certo.
Atualmente, o mercado apresenta melhoras, vem devolvendo a rentabilidade para os produtores, principalmente os produtores autônomos, sem contrato de integração, onde o mercado naturalmente melhora antes e devolve a rentabilidade para o produtor. Se nós fizermos uma avaliação como um todo, hoje, não tem suinocultor que esteja em situação favorável, mesmo os produtores com contrato de integração, com garantias de entrega de seu produto, ou que tenham contratos que produzam e recebam um valor determinado pela prestação de serviço que fazem para as agroindústrias ou nas produções de leitões, ou engordas dos animais. A rentabilidade desses produtores também caiu.
Se analisarmos seus custos de produção, veremos que eles enfrentam uma dificuldade muito grande. O mercado é franco e aberto, onde todos têm oportunidades de produzir. Além disso, o mercado vem se recuperando e todos os produtores, sejam eles integrados ou não integrados, com ou sem contrato de integração, terão uma melhora significativa na sua rentabilidade e conseguirão manter e levar adiante sua produção e a atividade da suinocultura.
SI- Considerações sobre políticas públicas que pudessem ajudar o setor…
VF- O Brasil evoluiu muito em relação à sua política agrícola, a nível nacional, e tem evoluído principalmente devido às grandes lideranças políticas que nós temos, como deputados estaduais e federais, além de lideranças de entidades representativas de setores, como a Acsurs, os quais atuam fortemente na defesa dos interesses dos agricultores e pecuaristas, não apenas dos suinocultores.
No que tange à suinocultura, esta está cada vez mais em evidência no cenário econômico da pecuária, do agronegócio, da agricultura, pela sua importância sócio-econômica.
Acredito que cada vez mais precisamos ter uma política agrícola que funcione de forma eficaz. A atual tem muitas falhas no decorrer do seu processo. Um exemplo é o seguro agrícola, que produtor é obrigado a contratar quando busca uma operação de crédito. Porém, esse seguro não garante ao produtor a cobertura dos custos de produção da lavoura. Ele garante apenas o financiamento do banco, não garantindo que o produtor tenha a sua rentabilidade mínima garantida.
Nós precisamos é de uma política agrícola mais efetiva nesse sentido. Os países de primeiro mundo protegem muito sua produção de alimentos, sua agricultura e seus agricultores, principalmente com grandes subsídios, sempre procurando viabilizar a produção primária e a produção de alimentos.
Na minha concepção, o Brasil se preocupa em demasia com que esses países reduzam seus subsídios aos seus produtores e não está preocupado em criar políticas agrícolas que garantam a sustentabilidade de seus produtores internamente.
Nós precisamos voltar o foco para a produção de alimentos no Brasil e criar políticas que realmente atendam às necessidades dos produtores. Felizmente, isso vem crescendo.
Em função disto, penso que a curto ou médio prazo nós teremos condições de ter políticas agrícolas que atendam as necessidades da pecuária e da agricultura brasileira, e em especial a suinocultura. Neste sentido, nós temos um longo caminho pela frente, temos muito a buscar ainda.