Diante do cenário de quebra de safra e perda de qualidade do trigo brasileiro, somado à retomada das exportações argentinas, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirmou ontem (21/10) que pretende proteger o mercado interno por meio de alterações nas regras de importação do cereal. O anúncio acontece logo após a liberação das primeiras licenças para exportação de trigo na Argentina, que ocorreu na última semana, após meses sem vendas externas. Um lote de 300 mil toneladas do produto argentino já foi negociado para o Mercosul, do qual o Brasil é o principal comprador.
Para controlar a entrada desregrada do trigo internacional, Stephanes quer suspender a licença de importação automática da Argentina, fazendo com que o produto entre no País “apenas no momento oportuno.” Além disso, o ministro também está insistindo junto à Câmara de Comércio Exterior (Camex) em aumentar a alíquota da Tarifa Externa Comum (TEC), de 10% para 35%. As informações foram dadas na audiência pública da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, na Câmara dos Deputados.
Como pano de fundo do enrijecimento no controle das exportações, também aparece a pressão pela transparência dos estoques da indústria moageira. Na última segunda-feira, em Curitiba, no lançamento da Expedição Safra RPC, Stephanes fez críticas à estratégia dos moinhos em manter seus estoques em sigilo, o que permite que forcem a redução dos preços na época da colheita.
Como paliativo dessa situação, o governo deve realizar uma intervenção direta no mercado por meio de leilões. É previsto o investimento de R$ 600 milhões para sustentar a diferença entre o preço mínimo fixado em R$ 530 a tonelada e o preço de mercado, hoje estipulado em R$ 480.
Segundo informações do ministério da Agricultura, cerca de 30% da safra nacional de trigo este ano terá problemas de qualidade e não poderá ser aproveitada pelos moinhos. O principal causador dos problemas da safra são as chuvas que se mantiveram acima do nível normal nos períodos de maturação e colheita. De acordo com o agrônomo da Secretaria Estadual da Agricultura (Seab), Otmar Hubner, as doenças fúngicas que atacam nestas condições aumentam o custo e mesmo assim as ferramentas de produtividade e qualidade se mantém pouco eficazes.