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Soja

Rastro da deficiência

"Vazamento" e más condições de trafegabilidade deixam pelas estradas cerca de 8,7% da produção de soja do Mato Grosso.

Rastro da deficiência

Os números podem parecer alarmantes, mas, a verdade é que um volume considerável da produção de soja – 8,7%, segundo estudos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) – se perdem nas rodovias durante as viagens dos caminhões até aos portos de exportação ou ao terminal de embarque ferroviário de Alto Araguaia, a cerca de 450 quilômetros ao sul de Cuiabá.

O percentual representa nada menos do que 1,54 milhão de toneladas de soja do Estado, considerando uma produção de 17,71 milhões de toneladas na safra 08/09. Transformando a perda em cifras, o volume é ainda mais assustador, cerca de R$ 1,09 bilhão literalmente jogado fora, desperdiçado ano a ano. A análise considerou o valor da saca em Rondonópolis (210 quilômetros ao sul de Cuiabá), praça de melhor remuneração em Mato Grosso e que teve a saca cotada a R$ 42,50 na última quinta-feira. A explicação para as perdas vão desde à má situação das rodovias até às condições inadequadas dos caminhões transportadores, provocando o “vazamento” de grãos pelas estradas.

Segundo o IBGE, o Brasil desperdiça anualmente cerca 7,6 milhões de toneladas de soja, milho, arroz, trigo e feijão. É o equivalente a 8,7% da produção nacional desses grãos que se extravia, na maioria dos casos, pelas estradas do país. Essas são as principais conclusões do primeiro levantamento de perdas agrícolas feito pelo IBGE.

O instituto constatou que, entre 1997 e 2003, foram perdidas 53,5 milhões de toneladas de grãos após a colheita, ou seja, no transporte e armazenagem. O volume equivale, por exemplo, a uma safra anual de soja do Brasil.

As falhas na logística e comercialização dos grãos provocam prejuízo de quase o dobro do registrado na pré-colheita, ou seja, no período em que o clima adverso ou o surgimento de pragas podem levar a uma quebra de safra. Na mesma pesquisa, o IBGE apurou, entre 1996 e 2002, perdas de 28 milhões de toneladas nos cinco principais grãos produzidos no país (soja, milho, arroz, trigo e feijão).

A situação é tão séria que levou o senador mato-grossense Carlos Bezerra (PMDB) a apresentar emenda à Lei 9.503/97 – que institui o Código de Trânsito Brasileiro para dispor sobre proteção de cargas de grãos transportadas em caminhões – determinando todos os caminhões transportadores a usar lonas internas nas carrocerias. “Dessa forma menos grãos cairiam nas estradas”, garante o senador.

Transportadores – A Associação dos Transportadores de Cargas do Estado (ATC) aplaude a idéia, lembrando que a utilização da lona evitaria o desperdício de cargas durante a viagem. De acordo com o senador Carlos Bezerra, 10% da safra de grãos de Mato Grosso ficam nas estradas.

Antes mesmo da aprovação da alteração da lei, as empresas transportadoras já estão procurando tomar providências, como fazer a vedação interna dos veículos para evitar o “vazamento” de produtos. Em todo o Estado são mais de 10 mil caminhões utilizados no transporte de grãos.

Segundo o diretor executivo da ATC, Miguel Mendes, a preocupação dos caminhoneiros é grande porque tudo o que é perdido ao longo do caminho é pago pelo transportador. “Notamos uma boa evolução nos últimos anos, pois na maioria das viagens a perda é zero”, lembra.

Ele diz que os transportadores devem dar boa manutenção às carretas, procurando, além do sistema próprio de vedação, fazer a tapagem com lonas, principalmente nos cantos e nas emendas das pontas.

Segundo Miguel Mendes, as condições da estrada influenciam, provocando trepidação e deslocamento das tampas da carreta, ocasionando o vazamento de produtos.

A inexistência de uma estrutura adequada para escoamento da produção, aliada à falta de uma logística de transporte consistente, acaba provocando desperdícios. “Isso deprime muito o preço da soja”, afirma o diretor executivo da Associação dos Transportadores de Cargas (ATC), Miguel Mendes. Segundo os estudos, o produtor paga metade do que ganha em frete.