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Meio Ambiente

Conferência climática começa hoje

Conferência do clima em Copenhague começa com propostas insuficientes. Lista de metas dos países é desigual.

Conferência climática começa hoje

A maior conferência climática da história começa hoje (07/12), em Copenhague, a capital da Dinamarca, com 20 mil delegados de 192 países, enorme expectativa e uma coleção de impasses. Os mais conhecidos pontos de tensão são as metas de redução de gases-estufa e a total falta de recursos financeiros sobre a mesa para que as nações mais pobres se adaptem aos efeitos da mudança do clima e criem economias de baixo carbono. A lista de metas é desigual, leva em conta pontos de partida diferentes e uma matemática de emissões pouco transparente. E o maior problema é que essas metas estão bem aquém do que os cientistas dizem ser necessário para evitar o aquecimento excessivo do planeta.

Os Estados Unidos, por exemplo, têm falado em cortes de emissão de 17% em 2020 em relação a 2005. O bloco da União Europeia, pioneiro na apresentação de números, promete 20% em 2020 em comparação a 1990 e 30% se ” outros ” os seguirem – os outros são certamente os EUA e, talvez, a China.

Mas os números americanos transportados para a mesma base indicam uma ambição bem menor que a europeia – o corte seria de 3% em relação ao que o país emitiu em 1990. Isso representa até menos do que os EUA fariam se tivessem ratificado o Protocolo de Kyoto e cumprido a meta da ocasião, de 7%.

Como cortes nas emissões têm um custo econômico, os europeus se irritam com a tímida promessa americana.

Outro ponto de atrito no mundo dos ricos é que a meta dos EUA não cobre todos os setores de sua economia – a agricultura, por exemplo, está de fora.

No front das grandes economias emergentes também há uma babel de percentuais. No mês passado, Brasil, China e Índia anunciaram sucessivamente suas propostas de redução de gases-estufa, o que faz com que suas delegações cheguem fortalecidas hoje a Copenhague.

O Brasil se antecipou prometendo de 38% a 42% de corte na tendência crescente de emissões até 2020. Isso significa 15% de redução, em 2020, em relação aos níveis de emissão de gases-estufa de 2005, e seria conseguido diminuindo radicalmente o desmatamento na Amazônia (em 80%) e no Cerrado (40%).

China e Índia indicaram outro parâmetro. Pequim prometeu 40% a 45% de corte na intensidade de emissões em 2020 em relação a 2005 – trata-se de uma medida que leva em conta o custo energético por unidade de PIB. Acontece que, se a China mantiver o ritmo de crescimento econômico da última década, suas emissões crescerão 130%, o que é uma catástrofe para o clima. ” Isso quer dizer que se trata de um esforço pequeno para a China? Certamente não ” , diz Tasso Azevedo, consultor do Ministério do Meio Ambiente do Brasil. ” Mas não é suficiente para o planeta. E, se não existirem metas mais ambiciosas, não vamos conseguir alcançar o que o mundo precisa ” , conclui ele.

Na semana passada, ao anunciar as metas indianas, o ministro do Meio Ambiente da Índia, Jairam Ramesh, traduziu parte do impasse que existe quando os países apresentam seus números. ” As emissões per capita indianas são muito baixas, as de vocês (os países ricos), muito altas ” , disse. Cada indiano, segundo dados do governo, emite 1,2 tonelada por ano. Isso é quase 25% da média mundial, o que explica a resistência do país em prometer metas, mesmo em base voluntária. A Índia anunciou uma redução na intensidade de carbono (uma medida que relaciona a emissão de gases-estufa por unidade de PIB) de 20% a 25% em 2020 sobre os níveis de 2005.

” A Índia não causou o problema do aquecimento global, mas em Copenhague queremos mostrar que somos parte da solução ” , disse Ramesh usando as mesmas palavras habituais aos membros do G-77, o heterogêneo grupo dos países em desenvolvimento mais a China. A Índia deve perseguir seu compromisso com padrões obrigatórios de emissões veiculares em 2011, um monitoramento constante do estado de suas florestas ( ” que absorvem atualmente 10% das nossas emissões ” , segundo o ministro) e reformar metade das suas usinas térmicas a carvão para que passem a usar ” tecnologias limpas ” .

A África do Sul anunciou ontem que quer cortar 34% de suas emissões, em 2020, em relação à tendência crescente de um país que ainda tem que se desenvolver para tirar sua população da pobreza em que se encontra.

Pelos industrializados, a maior promessa é a da Noruega, de 40%.

Mas todas as metas, em conjunto, são muito inferiores ao que a ciência diz ser necessário para combater as mudanças climáticas. Segundo o relatório do IPCC, o braço científico da ONU, divulgado em 2007, a redução de gases-estufa feita pelos países ricos deveria ser de 25% a 40% entre 2013 e 2020.

Como as previsões dos efeitos do aquecimento parecem estar acontecendo mais rápido do que o previsto, muitos cientistas, ambientalistas e também o grupo do G77 mais a China pressionam por reduções de 40%. Pelos cálculos do WRI, o World Resources Institute, uma espécie de think-tank das energias alternativas, as propostas apresentadas até agora indicam uma redução de apenas 10% a 24%.

” Ainda precisa ser avaliado o impacto das declarações dos países sobre a meta estabelecida em Áquila ” , diz Luis Gylvan Meira Filho, pesquisador-visitante do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Ele se refere ao compromisso assinado em julho deste ano por líderes do G8 e das grandes economias, na Itália. Ali, acertaram segurar a mudança do clima em 2º C em 2100, o que evitaria grandes catástrofes climáticas. ” Mas, pelos números que tenho visto, estamos indo na direção correta. “

” Trata-se do velho jogo de pôquer de sempre ” , avalia Marcelo Furtado, o diretor executivo do Greenpeace-Brasil.

Nos últimos movimentos dos países, o mais surpreendente, na sua avaliação, foi a promessa japonesa, que saltou de 8%, em junho, para 25% com o novo governo. ” É muito interessante para ilustrar como a política tem a ver com a questão climática. No Japão não foi a economia que mudou. Ali o que mudou foi a liderança ” , afirma ele.

Mais de 100 líderes são aguardados em Copenhague na semana que vem, para dois dias de cúpula. Espera-se que, com sua chegada, o clima esquente na gélida capital dinamarquesa.