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Manejo

Estudo busca alternativa para conforto térmico de leitões

Pesquisa usa piso de fibra de coco reciclado em recintos de suinocultura.

Estudo busca alternativa para conforto térmico de leitões

Pequisa experimental desenvolvida pelos alunos da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA), com a colaboração da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Unesp, Câmpus de Botucatu, verificou as propriedades de um piso de fibra de coco reciclado em instalações voltadas para a suinocultura.

O objetivo foi o potencial deste tipo de piso para oferecer conforto térmico aos leitões na fase de maternidade. “O leitão tem uma alta sensibilidade ao frio e dificuldade de ajustar sua temperatura corporal, pois seu aparelho termorregulador ainda está em desenvolvimento”, explica a professora Silvia Regina Lucas de Souza, do Departamento de Engenharia Rural da FCA e orientadora do trabalho. “Quanto menor a temperatura ambiente, mais ele tem que usar sua energia interna para manter sua temperatura corporal e esse gasto energético prejudica seu crescimento. Se o microclima lhe der conforto, ela vai devolver em produtividade, ou seja, ganhando mais peso”, complementa o professor Dirlei Antonio Berto, do Departamento de Produção Animal da FMVZ.

Se houver uma redução severa de temperatura, o leitão reduz sua atividade motora e entra em hipotermia. Pode haver também casos de esmagamento, acidente, quando o leitão busca o conforto térmico junto da mãe.

Problemas desse tipo têm sido amenizados com o uso de abrigos escamoteadores aquecidos por fontes artificiais de calor e, eventualmente, com piso de cimento protegido com algum tipo de material de proteção. A ideia de testar um novo tipo de piso, teve o objetivo de melhorar as condições térmicas dos abrigos. “Para adaptar qualquer material nas instalações dos animais ocorreu a necessidade de realizar um estudo de viabilidade técnica”, conta a professora. “O piso feito a partir de fibra de coco foi escolhido por ter a vantagem de não ser tóxico e não oferecer riscos se for ingerido pelos animais”.

O desenvolvimento da pesquisa utilizou uma baia coletiva na Área de Suinocultura da FMVZ, com capacidade para duas matrizes adultas com aproximadamente 18 leitões mestiços, das raças Large White e Landrace. Os abrigos eram dois escamoteadores, um com o piso convencional de concreto e outro com o piso de fibra de coco reciclado. Os dois escamoteadores contavam com lâmpadas incandescentes em suas paredes laterais.

Com a análise de imagens gravadas por câmeras de segurança, os pesquisadores notaram que, nos horários de observação, em média 56% dos leitões preferia o escamoteador com piso de fibra de coco reciclado. Os outros 44% dos animais encontravam-se exercendo outras atividades fora do escamoteador e o escamoteador com piso convencional permaneceu vazio, sem utilização pelos leitões.

Outra etapa do estudo media a temperatura superficial do piso dentro do escamoteador, usando um termômetro a laser. As temperaturas dentro do escamoteador ficaram entre 33,2 e 29,9 graus. “O leitão quando nasce tem seu conforto térmico por volta de 30 a 32 graus. À medida que vai ficando mais velho, vai tolerando temperaturas mais baixas”, explica o professor Dirlei. “Por volta de 21 dias de idade essa temperatura é na faixa dos 24 a 27 graus e assim vai até sua vida adulta”.

Essa primeira fase das pesquisas evidenciaram que o piso testado proporciona o conforto térmico de que os leitões necessitam. Adicionalmente, “a ideia será utilizar o piso em qualquer outra fase da suinocultura, e para isso será preciso outros estudos, uma vez que ele não foi desenvolvido para essa finalidade”, diz a professora Sílvia. “O próximo passo é saber quantos graus esse piso consegue reter em relação ao ambiente externo. Também precisamos testar a resistência do piso aos animais maiores e se ele não se deteriora por causa dos dejetos e uso contínuo”.

Ao oferecer novas soluções que atendem às exigências de bem estar animal, os pesquisadores pretendem colaborar para que o setor agregue valor à sua produção e se prepare para atender uma tendência real do mercado, mas que ainda não se refletiu na suinocultura brasileira. “Existe uma inegável preocupação da sociedade e do setor produtivo para tomar medidas que atendam o bem estar animal”, explica o professor Dirlei. “Quem reivindica precisa estar disposta a remunerar melhor aquele produto e isso ainda não ocorre no Brasil. No caso da exportação, os mercados que atendemos ainda não proporcionam uma remuneração diferenciada nesses casos”.

Mas, segundo o professor, o bem estar animal não é importante apenas para agregar valor ao produto exportado. Ele ressalta que, se as condições mínimas de conforto não estiverem presentes, a produtividade dos animais será afetada. “Os índices zootécnicos estarão abaixo do necessário e não haverá eficiência na produção. Para o animal atingir os índices mínimos de produtividade é preciso garantir boas condições em termos de instalações, manejo, nutrição e saúde. É uma exigência que é própria da atividade”.

A pesquisa teve início como Trabalho de Conclusão de Curso de Agronomia de Eduardo Trevisan Filho e teve prosseguimento com as alunas do primeiro ano de Agronomia, Ana Paula Oliveira Matusevicius e Mariana Pedutti Vicentini Sab, integrantes do Núcleo de Pesquisa e Otimização em Bem-estar Animal e Ambiência de Precisão, BAAP, sob a orientação da professora Silvia Regina Lucas de Souza.