Redação AI (26/01/06) – Especialistas do Comitê Estadual de Combate à Gripe Aviária descartaram ontem a possibilidade de ocorrer uma epidemia da doença durante o Carnaval da Bahia. A argumentação é baseada no próprio histórico da doença: dos cerca de 300 casos notificados no mundo, a transmissão foi feita do animal para o homem. No entanto, o infectologista Albert Ko, professor da Universidade de Cornwell, nos Estados Unidos, e pesquisador visitante da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), destacou que é preciso estar prevenido para a possibilidade de, no futuro, uma mutação do vírus possibilitar a transmissão entre humanos.
Segundo o infectologista, o Influenza aviária é a variante do vírus da gripe (Influenza), surgido por causa de mutações do microorganismo. Trata-se de uma espécie de maior agressividade, cuja taxa de letalidade pode chegar a 50%. Ao contrair o vírus, o indivíduo desenvolve uma infecção nos pulmões, que pode levar a uma infecção sistêmica, pneumonia ou mesmo a uma síndrome respiratória grave. Embora considere ser muito difícil o vírus chegar ao Brasil ainda este ano, Ko disse que, com a disseminação da ave, não sabe o que pode vir a ocorrer no futuro. Por isso, o especialista considera fundamental a prevenção desde já.
Embora não tenha sido notificado ainda nenhum caso da gripe aviária na América, uma comissão estadual já estuda estratégias de combate à doença. Reunidos ontem pela manhã no Laboratório Central (Lacen), representantes de diversos órgãos ligados à saúde, vigilância sanitária e fiscalização de animais discutiram o direcionamento das ações e, ao mesmo tempo, estão ajustando à realidade local o plano nacional de combate ao mal. O comitê ainda está em fase de mobilização e diagnóstico das necessidades com relação a recursos humanos e infra-estrutura. Entretanto, já foi definido que o Hospital Otávio Mangabeira, no Largo do Tamarineiro, será a referência na Bahia para o tratamento da gripe do frango.
A coordenadora em exercício do Programa de Imunizações do Estado da Bahia, Maria de Fátima Sá Guirra, falou sobre a importância de manter o controle de entrada de pessoas e animais no estado. Nos portos e aeroportos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já vem atuando. De acordo com a enfermeira sanitarista do Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães, Núria Gomes Silva, existe um plano de contingência baseado no do Ministério da Saúde, que funciona através da criação de uma barreira sanitária nos portos e aeroportos.
Controle – “É um controle para todas as doenças infecto-contagiosas. Já é uma rotina nossa. Com o comitê, passa a haver uma integração entre os diversos órgãos, para que todos falem a mesma língua, para que todos trabalhem na mesma vertente”, ressaltou Núria. Já a fiscalização dos animais, fica sob a responsabilidade da Defesa Sanitária Animal da Agência Estadual de Defesa Agropecuária (Adab). Diretor do setor, o veterinário Iram Ferrão informou que é uma atividade de rotina cumprir com as normas do Programa Nacional de Sanidade Avícola, que determina critérios de vigilância e atenção veterinária para as enfermidades e notificação obrigatória das aves.
Segundo Ferrão, a avicultura é a atividade do setor que mais cresceu nos últimos cinco anos na Bahia, somando hoje 30 milhões de aves alojadas em criatórios. Apesar de o estado ser quase auto-suficiente, ainda precisa importar grande quantidade de frangos. Entretanto, para a entrada das aves é obrigatório a apresentação de uma guia de trânsito livre de animais e qualidade sanitária. “A criação do comitê vai possibilitar um serviço de apoio à Vigilância Sanitária do estado”, avalia Ferrão.
O infectologista Albert Ko destacou ser essencial a existência de um comitê comprometido com o assunto. “Os primeiros casos foram na Ásia. Agora já vemos a Influenza aviária migrando para a Europa e África. As chances de termos uma epidemia é pouco provável, mas é fundamental estarmos preparados para isso”, avaliou.