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Milhos transgênicos e convencionais podem coexistir

Técnicas conhecidas dos agricultores para segregar lavouras de produtos híbridos também são eficientes no caso de organismos geneticamente modificados (OGMs).

Redação (03/01/06) – O milho geneticamente modificado (GM) tem despertado o interesse de agricultores e consumidores nos últimos meses. Antes mesmo da regulamentação da Lei de Biossegurança, em novembro do ano passado, cinco variedades de milho transgênico, resistentes a pragas e tolerantes a herbicidas, já aguardavam na longa fila de aprovação legal da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Uma das principais questões levantadas nesse período é se lavouras de milho transgênicas e convencionais poderiam coexistir sem que haja fluxo gênico entre as variedades, preservando-se, assim, o interesse de cada produtor.

O professor Ernesto Paterniani, especialista em genética do milho da Esalq/USP e um dos maiores nomes do agronegócio brasileiro, afirma que os dois tipos de cultivo podem coexistir sem que ocorra polinização cruzada. Basta, segundo ele, utilizar técnicas rotineiramente aplicadas em lavouras com sementes híbridas ou com melhoramento genético convencional. No caso do isolamento temporal, por exemplo, as plantas são cultivadas de forma que o seu florescimento seja alternado com o da outra lavoura. Isso impede que o pólen da primeira plantação fecunde a segunda.

No caso do isolamento espacial, estudos realizados em vários países comprovaram a eficiência do método que estabelece distâncias entre lavouras geneticamente modificadas e convencionais, respeitando fatores como distância da fonte de pólen, direção do vento e sincronização do florescimento das plantas.

Com relação à saúde humana, o professor Paterniani ressalta, ainda, que as avaliações científicas são muito mais rigorosas do que para os demais produtos comercializados. “Por isso, não é exagero afirmar que com o milho GM há maior segurança para a saúde humana pelo menor uso de inseticidas e pela menor infestação de fungos – resultantes dos ataques de pragas -, que produzem micotoxinas cancerígenas”, explica.

Economia

Em 2005, segundo levantamento do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), as lavouras de milho GM chegaram a 21,2 milhões de hectares mundo afora. Ou seja: cerca de 10% a mais do que no ano anterior. Já cultivam diversas variedades países como Estados Unidos, Argentina, Canadá, África do Sul, Espanha, França, Portugal, Alemanha, Honduras e República Tcheca.

Na avaliação de Leonardo Sologuren, diretor da consultoria em agronegócios Céleres, a adoção legalizada da biotecnologia representa um grande impulso à produção brasileira de milho, a terceira maior do planeta.

“A agricultura brasileira não é subsidiada. Restam aos produtores ganhos de competitividade por meio da redução de custos de produção, obtida com a melhor eficiência dos insumos utilizados”, explica Sologuren. No seu entender, a biotecnologia é fundamental para essa redução de custos porque diminui a necessidade de gastos com agrotóxicos. A Argentina, por exemplo, um dos nossos maiores concorrentes, já cultiva milho transgênico desde a safra 1996/97 e tem produtividade média de 7.222 kg/ha. A média brasileira, entretanto, é de apenas 3.177 kg/ha. Além disso, enfatiza o consultor, as safras GMs suportariam, no Brasil, o ataque de lepidópteros, praga que prejudica cerca de 7 milhões de hectares no País.