Redação (07/03/06) – O motivo são os elevados estoques do produto na Europa em decorrência da retração no consumo da proteína por causa do avanço da gripe aviária no continente.
Ontem, a Polônia confirmou que dois cisnes encontrados mortos semana passada tinham o vírus H5N1 da gripe, que já matou quase 100 pessoas, principalmente na Ásia. As aves foram encontradas em Torun, 200 quilômetros a noroeste de capital Varsóvia. Também ontem, três gatos de um abrigo de animais na Áustria tiveram resultado positivo para o H5N1. Segundo autoridades austríacas, os animais, que estão vivos, pegaram aves que estavam infectadas com o vírus. A Alemanha já havia detectado o H5N1 em um gato na semana passada.
Esse avanço do vírus levou pânico a consumidores europeus, que reduziram as compras temendo contaminação, apesar de não haver risco para a carne de frango cozida. Com isso, os estoques europeus, normalmente de 30 dias, são pelo menos o dobro disso hoje.
“Muitos contratos com prazo longo não estão sendo renovados lá fora”, diz Carlos Eduardo SantAnna, da área de carnes da Comexport. Segundo ele, compradores europeus têm condicionado a renovação dos contratos à renegociação dos preços, já em queda desde outubro por causa do avanço da doença. Sant”Anna explica que o importador quer renegociar os preços para reduzir seu risco de adquirir um produto para o qual não sabe se haverá demanda.
O diretor-geral da Doux Frangosul, Christophe Malik, reconhece que há tentativa, por parte dos importadores, de renegociar contratos para reduzir preços. “Tem de tudo”, afirma. Giovana Rosas, coordenadora de exportação de alimentos da cooperativa Lar, diz que não ouviu proposta de renegociação, mas que os clientes estão mais rigorosos em relação às datas de embarques. Segundo ela, os clientes querem ser avisados no casos de atrasos de embarques, alegando que poderiam perder vendas. Isso acaba funcionando como uma trava, reconhece Rosas.
O fato é que, antes mesmo da renegociação, o preço da carne de frango brasileira na exportação para a Europa já está bem abaixo das médias registradas no ano passado. SantAnna, da Comexport, e Rosas, da Lar, informam que a cotação do peito de frango é cerca de US$ 1.000 por tonelada inferior ao valor médio de 2005. Varia entre US$ 1.600 e US$ 1.800 CIF (custo e frete) hoje contra US$ 2.800, em média, em 2005.
Os preços não são os únicos afetados. As ações dos dois maiores frigoríficos, Sadia e Perdigão, registram forte queda na Bovepsa por causa da perspectiva de que seus resultados sejam contaminados pela queda das exportações de carne de frango. Ontem, as ações PN da Sadia caíram 5,44% e as da Perdigão, 7,30%. Para Rafael Weber, da Geração Futuro, a desvalorização já reflete a dúvida entre os investidores sobre se a gripe aviária irá chegar ao Brasil ou não.
A queda na demanda pelo produto brasileiro com o pânico europeu levou a Avipal a decidir paralisar três unidades. E em entrevista a um jornal da cidade de Montenegro, onde está sediada a Doux Frangosul, o diretor institucional Aristides Vogt, disse que a empresa poderia fazer demissões por causa da gripe.
A Doux Frangosul, que encerrou o ano passado com um lucro líquido de R$ 68,1 milhões, 34,4% menor que em 2005, espera um “contexto comercial externo mais tenso” em função do câmbio e do “quadro sanitário instável” no mercado internacional. Por conta disto, promete promover a “racionalização” dos custos operacionais e aumentar o valor agregado dos produtos. A Doux fechou 2005 com faturamento de R$ 1,679 bilhão, sendo 79,3% originários das exportações.
Na Argentina, o Senasa informou que mais de 500 aves que morreram em Comodoro Rivadavia não tinham nem gripe aviária nem doença de Newcastle. A Venezuela também informou que é improvável que as 40 galinhas encontradas mortas perto de Caracas tenham o vírus. Nas Bahamas, o governo disse que técnicos não conseguiram precisar a causa de morte de flamingos porque as carcaças estavam muito deterioradas. Mas afirmou que podem ter sido mortas por caçadores, segundo a Dow Jones Newswires.