Redação (09/01/2008)- O comércio internacional vem crescendo significativamente nas últimas décadas. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as exportações brasileiras apresentaram em 2007 um crescimento de 16,6% em relação a 2006. O agronegócio é responsável por 93% da balança comercial brasileira, ou seja, sozinho, registrou saldo de US$ 42,726 bilhões, com crescimento de 13,04% sobre o superávit (saldo positivo) do agronegócio em 2005.
A agricultura estará no centro das negociações internacionais e é parte essencial da economia de todos os países, incluindo as duas maiores potências mundiais, Estados Unidos e Japão.
Mas, se por um lado o crescimento dos setores de agricultura e alimentação depende de uma maior liberalização do comércio, por outro o incremento do comércio internacional possibilita o movimento de inimigos, quase sempre minúsculos, como insetos e microrganismos (bactérias, vírus, fungos, nematóides e ácaros), mas que podem causar danos irreversíveis a nossa agricultura, pecuária e florestas. Exemplo recente disso é a ferrugem da soja, que entrou no Brasil em 2001 e já causou perdas superiores a US$ 2 bilhões na safra de 2003.
Preocupados com esse estranho fenômeno, ao qual chamam de “bioglobalização”, ou seja, o deslocamento intencional ou não de organismos vivos entre países e mesmo entre diferentes regiões de um mesmo país, cientistas brasileiros da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e de outras instituições nacionais desenvolvem sistematicamente ações de quarentena vegetal para evitar a entrada de pragas no país.
Essas ações se baseiam na análise das plantas introduzidas no país para fins de pesquisa em laboratórios para verificar se estão contaminadas por insetos ou microrganismos que possam comprometer a agricultura brasileira. Quando a praga detectada é passível de erradicação, o material é tratado, mas quando a praga é exótica, ou seja, não ainda não ocorre no Brasil, as amostras vegetais são incineradas.
Pragas “barradas” poderiam ter prejudicado agricultura
Algumas das pragas interceptadas pelas equipes de quarentena vegetal poderiam ter resultado em danos severos para as nossas culturas agrícolas. Entre essas, destaca-se o vírus denominado Banana bunch top virus, detectado em um material oriundo da Ásia no final da década de 90.
Esse vírus nunca havia sido registrado na América do Sul e nem na América Central e não existem variedades de banana resistentes a ele, portanto, a sua entrada poderia devastar a bananicultura brasileira, que é a quarta cultura agrícola mais importante do planeta, atrás apenas do arroz, do trigo e do milho. Além disso, tem ainda enorme importância social, pois é uma fonte barata de energia, minerais e vitaminas. O Brasil é o segundo maior produtor mundial de banana, com uma produção de 6,47 milhões de toneladas por ano – mais de 9% da produção mundial. A fruta é a mais consumida no país – junto com a laranja – e fundamental para a complementação da dieta alimentar das populações de baixa renda. Prova disso é 99% da produção nacional é destinada ao mercado interno. A área plantada alcança mais de 500 mil hectares.
Outras inúmeras pragas exóticas poderiam ser citadas, como o fungo Tilletia indica, que ataca a cultura do trigo, detectado pelos pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, unidade da Embrapa localizada em Brasília, em plantas oriundas do México e do Uruguai. Ao contaminar a cultura do trigo, esse fungo impregna as plantas com um odor desagradável, similar ao de peixe, tornando-as imprestáveis ao consumo humano, podendo ser usadas apenas para fabricação de ração animal.
Várias pragas de oliveira foram também interceptadas pela equipe de quarentena da Unidade, como o ácaro Oxycenus maxwelli (Eriophyidae) e os fungos: Coniothyrum oleae, Cycoclonium oleaginum e Phyllosticta panizzei, Cercospora cladosporioides. Essa cultura ainda é incipiente, mas bastante promissora para o Brasil, especialmente nas regiões sul e nordeste do país (Petrolina, PE).
Recentemente, três novas espécies de ácaros, nunca antes descritas na literatura científica mundial, foram identificadas pela equipe de pesquisadores da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologias em plantas ornamentais em viveiros no Distrito Federal. As três espécies são da família Eriophyidae e pertencem aos gêneros: Acaricalus, encontrado em Ipomoea purpúrea, uma planta conhecida popularmente como campainha, corriola ou bom-dia; Aculops, detectado em flamboyant (Delonix regia); e Porcupinotus, coletado em uma planta nativa da região central do Brasil: Avarema cochliacarpos, cujo nome popular é casca-basão.
Conscientização da população: fundamental para preservar a agricultura
A conscientização da população brasileira para a importância da segurança biológica é fundamental para proteger a agricultura e a economia brasileira dos ataques dessas pragas.
Produtores, processadores, consumidores e ambientalistas precisam se unir para buscar maneiras de se proteger e se aprofundar nos assuntos de intercâmbio comercial, na cadeia alimentar e na sustentabilidade agropecuária e ambiental.
“Prevenir danos ambientais é muito mais barato do que tentar recuperá-los mais tarde, especialmente porque na maioria das vezes são irrecuperáveis”, alerta a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Maria Regina Vilarinho.
Para o pesquisador da área de floricultura do IAC e presidente da Sociedade Brasileira de Floricultura e Plantas Ornamentais – SBFPO, Antônio Fernando Caetano Tombolato, a defesa vegetal é essencial em um país de dimensão continental como o Brasil, especialmente por ser grande exportador de produtos agrícolas.
Os impactos econômicos causados pela entrada da ferrugem da soja, entre outras pragas, despertaram a atenção do governo e de diversos segmentos acadêmicos. Mas barreiras fitossanitárias e ações de fiscalização não são suficientes para “barrar” a entradas desses inimigos indesejáveis em nosso país. É fundamental que a população brasileira esteja atenta e consciente acerca dos perigos da introdução desses organismos no país.
É importante lembrar que uma inocente plantinha trazida como souvenir de uma viagem pode ser a porta de entrada de uma praga devastadora em nossa economia.