Redação (30/01/2008)- Divergências entre o Ministério da Agricultura brasileiro e a União Européia paralisaram o abate de bois para exportação à UE e, na prática, vão suspender a partir de sexta-feira as exportações de carne bovina para o mercado europeu. A UE não aceitou a lista feita pelo ministério com 2.681 propriedades produtoras de gado bovino que estariam aptas a exportar e recusou-se a publicá-la amanhã em seu diário oficial, como estava previsto no cronograma das negociações.
O Valor apurou que a UE insistiu numa lista com 300 fazendas e estranhou a rapidez com que as auditorias nas propriedades foram feitas pelas autoridades brasileiras. A lista foi exigência feita pela UE em dezembro, depois que uma missão técnica encontrou falhas no sistema de rastreabililidade do gado bovino, o Sisbov. Mas também teve o claro objetivo de restringir a entrada de carne bovina brasileira no mercado europeu, após forte pressão de pecuaristas irlandeses.
O número de 300 propriedades surgiu em carta enviada ao Ministério da Agricultura pela UE, na qual o bloco econômico lançou a idéia de limitar a lista a 3% das 10 mil propriedades até aquele momento certificadas pelo novo Sisbov. O número voltou a ser citado ontem, em Dublin, pela comissária européia da Agricultura, Mariann Fischer Boel.
Fontes do setor disseram que o bloco pretende enviar uma nova missão de veterinários ao país no próximo dia 25. Antes do impasse provocado pela rejeição da lista brasileira, previa-se que a missão viria em março para auditar as propriedades relacionadas.
Sem saber quais fazendas serão aprovadas pela UE, os frigoríficos que exportam para lá suspenderam ontem as compras de gado rastreado. "Só estamos comprando gado para mercado interno e exportação para Rússia e Egito", disse um proprietário de frigorífico. Uma circular da Secretaria de Defesa Agropecuária aumentou a incerteza ao alertar que não há garantias de que a carne de animais oriundos das 2.681 fazendas poderá ser exportada para a Europa.
As vendas para a União Européia atingiram US$ 1,15 bilhão no ano passado, 26% da exportação de carne bovina brasileira. A paralisação do abate deve provocar imediata queda de preços do gado no mercado interno e alta das cotações na Europa, onde o filé mignon já custa cerca de US$ 25 mil a tonelada.