Redação (20/02/2008)- Visão Geral
Nesta semana, foram liberadas várias estimativas sobre a situação de produção e de mercado de milho no mundo e no Brasil. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos liberou sua análise mensal sobre a situação mundial e a Conab também liberou suas estimativas sobre as perspectivas da safra brasileira. O mesmo foi feito por consultorias privadas do Brasil, como a Safras e Mercado e a Céleres. Este conjunto de informações permite uma atualização das análises e algumas inferências sobre as perspectivas para o milho no ano em curso.
Embora o ano de 2007 tenha se encerrado sem restrições no fornecimento de milho, os preços foram fortemente definidos pela incerteza sobre a capacidade de atender à necessidade adicional de milho gerada pela decisão do governo americano de incentivar a produção de etanol a partir do milho e, no decorrer do ano, pela quebra na produção de milho na Europa. Estas demandas foram atendidas com o milho produzido no decorrer do ano de 2007 nos diferentes países, mas a incerteza continua existindo e se renovando a cada safra, até que gradualmente vá diminuindo. Até lá, este patamar mais elevado nos preços mundiais continuará a existir, agravado ou atenuado pelas flutuações na produção colhida no planeta.
Situação Mundial
As informações do USDA, basicamente, fornecem um retrato do que foi a situação no ano passado em âmbito mundial. Porém, algumas informações de tendência podem ser retiradas como forma de servir de balizamento para os próximos anos.
A primeira delas diz respeito à situação da produção e do consumo de milho nos Estados Unidos. Os plantadores de milho deste país foram capazes de gerar a produção necessária para o abastecimento da demanda adicional representada pela produção de etanol a partir do milho, que cresceu em 7,11 milhões de toneladas de 2004/05 para 2005/06, em 13,06 milhões de toneladas entre este último ano e 2006/07 e é estimada em crescer 27,51 milhões de toneladas entre 2006/07 e 2007/08 (os dados do hemisfério Norte referem-se ao período de julho a junho e não ao ano civil), para cerca de 81 milhões de toneladas. Isto foi resultante do aumento da área plantada (cerca de 6 milhões de hectares entre as duas últimas safras) e da manutenção da produtividade crescente nas últimas três safras (ao redor de 9,5 t/ha). Este crescimento da produção permitiu, inclusive, um crescimento das exportações em cerca de 8 milhões de toneladas. Do lado do consumo, continua firme a tendência de aumento na utilização de milho para produção de álcool nos Estados Unidos.
A outra situação que afetou o mercado internacional foi o aumento das importações da Europa, que cresceram de 2,3 milhões de toneladas em 2005/06 para 7,0 milhões de toneladas em 2006/07 e são estimadas em 10 milhões de toneladas em 2007/08. Esta situação é resultado da manutenção do consumo interno europeu em cerca de 61 milhões de toneladas, porém acompanhada de uma redução na produção de 13,7 milhões de toneladas entre 2004/05 e 2007/08, para 47,5 milhões de toneladas de milho no último ano. Esta redução de produção tem se verificado de forma sistemática ano a ano, podendo constituir-se em um indício do menor interesse dos agricultores europeus na produção de milho.
O outro grande consumidor de milho no mundo, a China, tem conseguido aumentar a quantidade produzida deste cereal, porém não de forma suficiente para atender à sua crescente demanda (que cresceu cerca de 11 milhões de toneladas, para 148 milhões em 2007/08). O diferencial tem sido atendido pelo estoque disponível e pela retirada gradual do país do mercado exportador (o país exportou apenas 1 milhão de toneladas em 2007/08).
No hemisfério Sul, as lavouras de verão já vão mostrando seu potencial. Na Argentina, um dos grandes exportadores (ao lado dos EUA e do Brasil, recentemente), foi plantada uma área de milho 11,7% superior à do ano 2006/07. Entretanto, ocorreram problemas climáticos que provavelmente irão impactar negativamente os rendimentos, sinalizando então uma colheita pouco superior à do último ano.
Em resumo, a próxima grande definição ficará por conta do plantio nos Estados Unidos e se a produção será suficiente para atender às necessidades internas impulsionadas pelos constantes aumentos na produção de etanol (existem estimativas de um consumo de 100 milhões de toneladas de milho para esta finalidade no ano 2008/09). Além disso, como esta quantidade demandada adicional afetará a disponibilidade de milho para exportação pelos EUA.
No caso da Europa, a situação é um pouco mais complicada, já que ainda existem restrições às importações de produtos transgênicos em um mundo em que os principais países exportadores já plantam a maior parte de suas lavouras com sementes transgênicas e não mostram interesse em realizar a segregação dos produtos. Sobra o Brasil, que, pelo menos na próxima safra de verão, ainda terá produto não-transgênico disponível sem necessitar de segregação. A dependência de uma única fonte de abastecimento não é confortável para os europeus, que terão de se defrontar com um preço mais elevado (como aconteceu neste ano) ou reduzir as restrições aos produtos transgênicos, caso se confirme a tendência de redução da produção.
Situação Nacional
A safra de verão de milho no Brasil já está praticamente definida. A Conab e algumas consultorias estimam uma produção de milho na safra de verão superior à do ano passado, em que pese a ameaça de restrições climáticas nos estados do Sul do Brasil em anos do La Nia e de atraso do plantio nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Uma safra razoável nos estados do Sul possibilita maior garantia no abastecimento de uma região que é grande consumidora e se localiza distante de outras regiões produtoras. Em situações sem restrições à importação de grãos de milho transgênico, como as que ocorriam há alguns anos, situação de quebras drásticas na produção nos estados do Sul encontrava na importação de milho argentino a sua solução natural. Mais recentemente, o aquecimento das discussões sobre grãos transgênicos limitou esta opção. A liberação do plantio de cultivares transgênicas de milho poderá reduzir as restrições a estas operações (inclusive com operações de importações de grãos transgênicos para consumo interno e exportações de milho não-transgênico segregado para países dispostos a pagarem prêmios por esta característica).
Esta situação da safra de verão e as importações do Paraguai, que geralmente ocorrem no início do ano, de certa forma acalmam o mercado no que diz respeito ao abastecimento interno. Entretanto, o canal das exportações está aberto e, na medida em que os preços internos caem, mais interessantes estas se tornam. Tudo indica um ano como o anterior, com produção suficiente, mas com o mercado externo influenciando consideravelmente nos preços.
O outro componente da safra de milho no Brasil é o plantio da safrinha, que está apenas começando. As perspectivas com relação à safrinha são boas, com previsões de acréscimo da área plantada, principalmente na região Centro-Oeste. Quanto à produtividade, o que se tem são apenas estimativas, pois a produção das lavouras nesta época é muito afetada por variações climáticas. A grande novidade é que, com a viabilização das exportações, a produção no Mato Grosso tem um incentivo extra, pois a produção de milho no estado, que era destinada principalmente ao mercado interno, passou a ter uma nova alternativa de comercialização (o Mato Grasso já é o segundo maior exportador de milho, exportando mais da metade de sua produção). Em uma situação na qual os preços praticados pelo milho no MT eram muito baixos (tão baixos que foi considerada a possibilidade da produção de álcool no estado a partir do milho), esta nova opção de mercado serve de suporte aos preços e pode se constituir em incentivo para o aumento da área plantada e para o uso de maior quantidade de insumos nas lavouras. O resultado disso será melhor avaliado nos próximos meses.
O mercado interno aparenta estar firme, com os produtores de suínos e de aves um pouco aliviados com a queda no preço do milho. No caso dos produtores de aves, com uma demanda que se mostrou crescente durante todo o ano passado apesar dos preços elevados do milho (não se deve esquecer que o mercado externo de aves também foi afetado pelos preços altos do milho em todos os países).
Novos Fatos
As grandes novidades previstas para o próximo mês ficarão por conta da liberação do relatório do USDA sobre a primeira intenção de plantio nos EUA e informações mais concretas sobre o andamento do plantio da safrinha.