Redação (22/02/2008)- Os progressivos aumentos do preço da soja têm animado os produtores e deixado representantes da indústria em estado de alerta. Conforme a avaliação de especialistas em mercado agrícola, o preço do bushel não deve subir a patamares mais elevados do que os US$ 14,30 fechados para julho de 2008.
No entanto, a tendência é de que este valor se mantenha em níveis próximos a esta cotação por pelo menos mais três anos. "É possível, inclusive, se pensar em sanear as dívidas dos produtores, com a manutenção deste nível nos preços", avaliou o consultor da Safra & Cifras, José Ney Vinhas.
O diretor-presidente da Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai (Cotrimaio), Amilton José Dotto, diz que nem mesmo o câmbio desfavorável tem neutralizado os ganhos do produtor. Para o dirigente o setor vive um momento de otimismo, com a possibilidade de os produtores aumentarem a rentabilidade e se capitalizarem, situação não imaginada há bem pouco tempo, quando os preços não ultrapassavam os US$ 7 (bushel). "Os valores estão acima da média histórica", afirma.
Os motivos para a arrancada dos preços são o aumento da demanda mundial pela oleaginosa, acompanhada pela diminuição dos estoques, depois que os Estados Unidos passaram a optar pelo milho em detrimento da soja, em função da produção de etanol. "Os americanos deixaram de produzir 15 milhões de toneladas do grão e isso impactou o volume disponível em nível mundial", avaliou Vinhas. Além disso, a China aumentou as importações e, no Brasil, a soja tem cedido lugar às lavouras de cana. Para ele, a concorrência cada vez maior do petróleo com o biodiesel também tende a elevar os preços. "Com o barril cotado a US$ 100, se acirra a competição entre o setor de combustíveis."
No entanto, apesar do cenário positivo, o dirigente quer evitar euforia entre os produtores. "O mercado tem altos e baixos e não se deve fazer grandes investimentos sem ter garantias do que vamos colher no Estado. Não adianta o preço estar bom e termos quebra de safra". Segundo ele, os produtores precisam garantir os custos de produção com a realização de contratos futuros, especialmente em função do aumento dos preços dos insumos. "Estamos com bolsões de seca que podem comprometer a safra", completa Vinhas, da Safras & Cifras.
Apreensivas com a disparada da soja, a indústria espera uma reação do governo, no sentido de assegurar mecanismos de comercialização e garantir a permanência de programas que têm na soja a matéria-prima principal, como é o caso do biodiesel. Conforme o presidente da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), Odacir Klein, a expectativa é de que o programa não sofra interferências e continue crescendo. "Vivemos num momento de prejuízo momentâneo, que deve ser superado com a participação em leilões que trabalhem com preços melhores." Klein, no entanto, afirma que as indústrias do setor tinham noção do risco de trabalhar e depender de uma commodity cujos preços oscilam muito. "Esperamos agora uma abertura de mercado a partir do aumento do percentual do biodiesel na mistura com o diesel." O setor também aposta em um trabalho mais intenso do governo para estimular as exportações.