Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Carne opõe empresários e governo

O embargo da União Européia trouxe à tona as divergências entre pecuaristas, frigoríficos, empresas responsáveis pelo processo de certificação dos rebanhos e governo federal.

Redação (25/02/2008)- Começa os trabalhos de vistoria em fazendas espalhadas por seis Estados ,vai encontrar o País dividido e sem rumo definido sobre as medidas a adotar para garantir a qualidade da carne brasileira. Apesar dos esforços para dar credibilidade ao Sisbov, sistema de rastreabilidade que foi colocado em xeque pelas autoridades européias, os empresários e os parlamentares ruralistas envolvidos com a cadeia produtiva da carne não se entendem sobre como enfrentar as críticas dos importadores.

O embargo da União Européia trouxe à tona as divergências entre pecuaristas, frigoríficos, empresas responsáveis pelo processo de certificação dos rebanhos e governo federal. "Ninguém se entende", resumiu o deputado Waldemir Moka (PMDB-MS). Os fiscais da UE vão ficar no Brasil até o próximo dia 14 de março.

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, deu início ao fogo cruzado ao afirmar, no Senado, que a situação das certificadoras era um "escândalo" e que os frigoríficos precisavam assumir a liderança no processo de certificação. As certificadoras reagiram às críticas e reuniram-se com o ministro para propor a adoção de um modelo de certificação internacional, o que, na prática, reduzirá o número de empresas credenciadas pelo ministério para o trabalho de rastreamento dos rebanhos. No momento, mudanças no Sisbov estão descartadas, disse Stephanes.

Em ano de eleições municipais, o Congresso, com uma bancada em torno de duas centenas de deputados, também entrou forte no debate. Liderados pelo deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), parlamentares da bancada ruralista criaram um grupo de trabalho para discutir um projeto de lei que vai definir novas regras para o Sisbov. Caiado é autor de um projeto de decreto legislativo para derrubar as atuais regras do sistema de rastreamento e de um projeto de resolução para suspender os acordos bilaterais Brasil-UE enquanto durar o embargo à carne brasileira, decretado pelos europeus no início deste mês. Não há data para votação dos projetos no plenário da Câmara.

INIMIGOS UNIDOS

Em audiência no Senado, Stephanes também admitiu, para surpresa geral, que os frigoríficos venderam carne irregular, não-rastreada, para o bloco. A declaração do ministro pode ter arranhado a imagem da carne brasileira no exterior, mas conseguiu unir inimigos de longa data.

Pecuaristas e frigoríficos aproveitaram a deixa para colocar o governo contra a parede. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carnes (Abiec), Pratini de Moraes, ministro da Agricultura na época de implantação do Sisbov, disse que Stephanes tinha dado um "tiro no próprio pé" e cobrou fiscalização por parte do governo.

Já o presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte, Antenor Nogueira, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), disse que é "obrigação" do governo dizer o nome dos frigoríficos que exportaram produto irregular. Na avaliação do presidente da CNA, Fábio Meirelles, a principal falha na negociação com Bruxelas foi aceitar a exigência dos europeus para apresentação de uma lista de fazendas. "Da mesma forma que a União Européia não está interessada em rever as áreas não-habilitadas para exportar, considero que a lista pode ser uma forma de restringir permanentemente as exportações", disse ele.