Redação (26/02/2008)- As relações políticas entre o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e a bancada ruralista no Congresso continuam tensas. Ontem, Stephanes manteve acesa as divergências surgidas nos últimos dias com a defesa de uma lista de fazendas autorizadas a vender carne bovina à União Européia.
"Eu estive na Comissão de Agricultura [da Câmara], na Comissão do Senado também, e não houve nenhum problema. São determinadas pessoas, membros da bancada. Isso não tomo conhecimento", afirmou.
Os ruralistas são contra o governo aceitar uma lista restrita de fazendas como exigido pela UE. Na última sexta-feita, o ministério enviou à UE uma relação com 150 propriedades aptas a exportar carne – os europeus insistiam em um máximo de 300 fazendas. "Temos duas linhas separadas, somos fiscais do Executivo. O ministro tem que convencer que essa lista é boa para o Brasil", disse o deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR).
Mesmo com a reação conjunta de parlamentares da base ruralista contra a lista, inclusive de deputados de seu partido (PMDB), o ministro insistiu em negar a existência de um consenso na bancada ruralista. "Gente, isso não é da bancada. Até agora ninguém da bancada me procurou", afirmou ele.
Em defesa da proposta de decreto legislativo contra as regras atuais do sistema de rastreamento de bovinos do governo (Sisbov), os parlamentares afirmam que o Congresso deve ter uma atuação independente do Executivo. "Apoiamos o projeto de decreto legislativo contra as regras do Sisbov. É algo suprapartidário, é uma iniciativa da bancada toda", afirmou Micheletto.
Autor da proposta polêmica, que funcionaria como um veto ao trabalho do ministro Stephanes, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) reforçou ontem a intenção de insistir na votação da proposta, por meio de acordo de líderes, direto no plenário do Câmara. "Todos os deputados, inclusive do PMDB, foram ao ministério e deixaram claro que não respaldariam essa lista", afirmou. E negou uma posição pessoal contra o ministro.
"Não é um gesto pessoal, mas da bancada em defesa da classe produtora. Até porque quem apresentou o ministro à classe fomos nós da bancada. Hoje, infelizmente, ele [Stephanes] só representa os exportadores de carne e as certificadoras que ganharam dinheiro com as regras do Sisbov", atacou Caiado.
Na ofensiva por uma ação mais enérgica do governo contra as exigências da UE, os parlamentares deve reunir-se amanhã com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para tratar dos argumentos de uma eventual ação na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os europeus. "Vamos cobrar do governo uma postura mais agressiva", afirmou Moacir Micheletto.