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Embrapa é convidada a participar do maior banco genético do mundo

Banco de sementes na Noruega tem capacidade para conservar quatro milhões e meio de amostras a longo prazo.

Redação (28/02/2008)- A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa foi uma das instituições brasileiras convidadas a participar do Banco Global de Sementes de Svalbard, na Noruega, enviando amostras de sementes para conservação a longo prazo. O banco genético da Empresa, localizado em uma de suas unidades de pesquisa, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, DF, é hoje o maior do Brasil com mais de 100 mil amostras de cerca de 400 espécies vegetais de importância sócio-econômica.
O convite do governo do Reino da Noruega foi feito em outubro de 2007 e, segundo o Chefe-Geral da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, José Manuel Cabral, há interesse da Embrapa em participar da iniciativa européia, especialmente por questões de segurança. "O banco norueguês é o mais seguro em termos físicos e ambientais", explica Cabral. Além de estar situado dentro de uma montanha na cidade de Longyearbyen, o Banco foi construído com total segurança para resistir a catástrofes climáticas (enchentes terremotos, aquecimento gradual, etc..) e até mesmo a uma explosão nuclear.
Por isso, é uma oportunidade muito positiva para a Embrapa manter uma cópia de algumas de suas amostras de sementes. Hoje, as sementes conservadas pela Empresa estão armazenadas em câmaras frias a 20ºC abaixo de zero na Unidade de Brasília. "A possibilidade de duplicá-las e enviá-las ao banco de Svalbard é mais uma garantia de segurança de que as espécies não serão perdidas", afirma o Chefe-Geral.
Definição para selecionar o material a ser enviado
No momento, a Embrapa está analisando as condições legais do contrato de cooperação com o governo da Noruega, especialmente no que se refere ao acesso ao patrimônio genético brasileiro. Um dos maiores interesses é enviar para o banco sementes de espécies nativas do Brasil embora haja interesse, também, em enviar amostras de espécies que não sejam nativas, mas que foram adaptadas às condições brasileiras e que vêm sendo cultivadas há muito tempo, as chamadas variedades crioulas. "Mas essas são exatamente as que mais requerem cuidado em relação à legislação brasileira. Por isso, a questão precisa ser avaliada com cautela", explica Cabral.
Espécies de importância para a alimentação do povo brasileiro, como milho, feijão e arroz, entre outras, também serão enviadas ao banco nórdico, mas é preciso respeitar os requisitos exigidos pelo governo norueguês, como por exemplo, o fato de o banco não poder conter amostras repetidas. Por isso, antes de selecionar o material a ser encaminhado, é preciso saber o que os outros países já mandaram. É necessário, também, que as sementes tenham grande viabilidade e estejam livres de doenças e insetos e que tenham a capacidade de manter o nível de germinação por, pelo menos, dez anos.

O Chefe-Geral acredita que até o final deste ano, a Embrapa consiga enviar o material para a Noruega. "Temos todo o interesse nessa cooperação, já que representa mais segurança para a conservação da diversidade genética vegetal, mas primeiro temos que analisar com cuidado as condições do contrato, de acordo com o que prevê a legislação brasileira", explica Cabral. Além disso, as sementes terão que ser replicadas e embaladas, o que também demanda tempo.
O novo banco de sementes
A nova caixa forte norueguesa tem capacidade para quatro milhões e quinhentas mil amostras de sementes. O conjunto arquitetônico tem concepção única e foi feito para garantir a segurança física dos materiais armazenados. O Banco Global de Sementes conta com três câmaras de segurança máxima situadas ao final de um túnel de 125 metros dentro de uma montanha em uma pequena ilha do arquipélago de Svalbard.
As sementes serão armazenadas a 18 graus Celsius abaixo de zero em embalagens hermeticamente fechadas, guardadas em caixas armazenadas em prateleiras. O depósito está rodeado pelo clima glacial do Ártico, o que assegura que a temperatura permanecerá muito baixa, mesmo no caso de falha no suprimento de energia elétrica. As baixas temperatura e umidade garantem a baixa atividade metabólica, mantendo a viabilidade das sementes por um milênio ou mais. Por exemplo, as de cevada podem durar 2.000 anos; de trigo 1.700 anos e de sorgo cerca de 20 mil anos.
Segundo informações oficiais dos responsáveis pelo Banco, no dia da inauguração, já estavam depositadas 676 caixas contendo 268 mil amostras provenientes de vários países da Europa, Ásia, África e América do Sul. Como o Banco não deseja receber amostras repetidas, as amostras depositadas podem ser consideradas "únicas", e essa característica torna cada amostra importante para da conservação futura da variabilidade das espécies vegetais.
Importância da conservação
Para ilustrar a importância da conservação de sementes a longo prazo, o banco genético da Embrapa já ajudou no enriquecimento alimentar de povos indígenas e pequenos agricultores no Brasil.
Das câmaras geladas de conservação saíram, por exemplo, sementes de milho e amendoim que foram devolvidas ao povo indígena Krahô, no Tocantins, em 1995. Eles não tinham mais as sementes primitivas e não estavam se adaptando às variedades comerciais. Essa interação levou a uma parceria que dura até hoje.
Da mesma forma, no início dos anos 2000, pequenos agricultores de Alto Paraíso, em Goiás, procuraram a Embrapa em busca de sementes de uma variedade de trigo altamente produtiva à região e que já havia desaparecido. As sementes de trigo veadeiro foram entregues ao grupo e hoje já são amplamente plantadas por produtores locais.