Redação (29/02/2008)- Nos dias 21 e 22 de fevereiro foi realizado, pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o 84o Agricultural Outlook Forum, que reuniu especialistas para discutirem previsões para o futuro da agricultura americana, com estimativas sobre o ambiente das principais explorações agrícolas e pecuárias para o ano de 2008/09.
No que diz respeito ao milho, algumas previsões que certamente influenciarão o mercado deste produto são as seguintes:
a) A produção de etanol a partir do milho, nos EUA, continuará a crescer no próximo ano.
b) Espera-se uma pequena redução na área plantada com milho nos EUA, que será compensada com o aumento nos rendimentos agrícolas.
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c) Espera-se uma redução no consumo animal e nas exportações de milho pelos EUA.
d) Espera-se uma elevação dos preços a serem recebidos pelos agricultores nos EUA.
Embora estas previsões sejam ainda muito preliminares, principalmente as referentes à área plantada e aos rendimentos (que são fortemente afetados pelas condições climáticas), algumas delas, tais como o crescimento da capacidade instalada de produção de etanol, são bastante confiáveis. Por outro lado, a redução esperada na importação da Comunidade Européia ainda ficará por conta das condições climáticas da próxima safra no continente europeu.
No que diz respeito ao Brasil, a grande informação refere-se à possível redução nas exportações americanas, o que abre espaço para a colocação dos excedentes de produção da próxima safra (caso as condições de produção na safrinha sejam favoráveis) e serviria como suporte aos preços internos. O problema está no contínuo enfraquecimento do dólar, como moeda de referência de trocas internacionais, que afeta o piso de preços estabelecido pelas exportações no mercado interno brasileiro.
Segue, abaixo, a tradução de partes referentes ao milho em duas palestras apresentadas nesta reunião:
a) Prospects for the U.S. Farm Economy in 2008: por Joseph Glauber (economista-chefe do USDA).
b) Grains and Oilseeds Outlook For 2008: preparado por especialistas do Departamento de Agricultura dos EUA
Produção de etanol continua direcionando o mercado de milho
O mercado de milho norte-americano continuará sendo direcionado pela produção de etanol no próximo ano. A projeção de aumento do uso de milho para produção de etanol em 2008/09 é de 28% e corresponderá a 31% do uso total de milho, uma vez que a capacidade de produção de etanol continua a sua expansão sem precedentes, iniciada em 2006. Baseado em dados de produção mensais da Administração de Informação de Energia, a capacidade de produção de etanol excede 27,64 bilhões de litros por ano. Com construção ou expansão de usinas, que entrarão em operação nos próximos 18-24 meses, a capacidade total de produção alcançará 50,75 bilhões de litros.
A Lei de Segurança e Independência de Energia de 2007 definiu níveis de uso de combustível renovável em 34,0866 bilhões de litros para 2008 e em 39,76 bilhões de litros para 2009. Isto é sensivelmente maior do que o nível anterior, de 28,4 bilhões de litros previsto para 2012. O ritmo atual de construção e de expansão de usinas indica que a capacidade de produção de etanol ultrapassará 34,08 bilhões de litros antes deste verão e excederá 45,44 bilhões de litros no ano comercial de 2008/09. Os preços de milho previstos atualmente garantem a rentabilidade para o setor, mas as taxas de utilização das usinas serão crescentemente sensíveis com relação aos preços do etanol e dos co-produtos, além de serem fortemente influenciados pelos preços no setor de energia.
O baixo estoque de milho em 2008/09, combinado com prêmios de risco elevados e com o investimento crescente em “commodities”, deverá suportar preços agrícolas em um patamar alto novamente em 2008/09. O preço médio recebido por fazendeiros é projetado em US$4,60 por buschel, US$0,60 acima da média da previsão para 2007/08.
Provisão de milho, demanda e perspectiva de preço para 2008/09
A oferta de milho é projetada em 362,29 milhões de toneladas para o ano civil de 2008/09 nos EUA. Este valor está 1% abaixo (ou 3,3 milhões de toneladas) do registro do ano atual, incluindo estoque de passagem deste ano.
Espera-se uma redução da área plantada, porém os rendimentos mais altos esperados em 2008 deverão limitar a redução na produção. A produção é projetada para 325,38 milhões de toneladas, 6,7 milhões de toneladas abaixo do verificado no ano passado, mas ainda é a segunda maior produção verificada nos EUA. Deduzindo-se as áreas perdidas e as destinadas à produção de silagem, espera-se que sejam colhidas 82,7 milhões de acres de grão. O rendimento médio nacional é projetado em 9.722,4 kg por hectare, baseado em na tendência de crescimento da média nacional dos rendimentos de milho entre 1990-2007.
É esperado que o consumo total de milho aumente só 0,5% em 2008/09, com a redução no consumo do milho como alimento animal e nas exportações mais do que compensando a elevação no uso do milho para produção de etanol.
A utilização do milho na alimentação animal para 2008/09 é projetada em 137,16 milhões de toneladas, 9% abaixo do verificado em 2007/08. Isto é decorrência de preços de milho mais elevados, aumento no uso de resíduos de destilarias de produção de etanol a partir do milho e uma diminuição no número de unidades animais no rebanho confinados.
O aumento na produção de etanol elevará a oferta de resíduos de destilarias, o que ajudará a moderar o impacto de preços mais elevados de milho, particularmente para bovinos de carne e de leite, reduzindo o uso de milho como alimento animal. A disponibilidade de glúten de milho, um subproduto de processamento úmido de milho para produção de etanol e outros produtos, também é crescente. Espera-se uma redução nas exportações deste subproduto. Como resultado, mais glúten de milho estará disponível para ser usado para alimentação animal.
A menor possibilidade de uso de resíduos de grãos de destilarias em alimentação de suínos e de aves limitará a habilidade de produtores destes animais em controlar custos de alimentação. Porém, o preço de aves estimado em 2007 foi mais alto do que em 2006, ajudando a compensar os custos mais altos dos alimentos.
Dada a expansão continuada em capacidade de produção de etanol, o uso de milho para este fim é projetado em 104,14 milhões de toneladas em 2008/09, 28% acima da projeção do ano atual. A este nível, a produção de etanol responderá por 31% de uso de milho total, acima de uma projeção de 25% para 2007/08.
É esperado que a capacidade de produção de etanol durante 2008/09 continue sua expansão sem precedentes começada em 2006, embora a um ritmo um pouco mais lento que no ano atual. Dados informados pela Associação de Combustíveis Renováveis (RFA), de 12 de fevereiro de 2008, estimam a capacidade de produção de etanol atualmente em 30,29 bilhões de litros anuais. A RFA informa que as novas usinas em construção e as expansões das usinas existentes adicionarão cerca de 20,45 bilhões de litros, levando a capacidade produtiva anual total para 50,75 bilhões de litros.
As exportações norte-americanas de milho são projetadas com uma redução de 7,62 milhões de toneladas em 2008/09, atingindo 54,61 milhões de toneladas. É esperado que a demanda de importação global para milho se estabilize, com o crescimento continuado das importações em países em desenvolvimento sendo compensado por uma redução significante em importações da União Européia. Com preços de milho altos, a exportação de milho pelo Brasil e pela Argentina reduzirá a parcela norte-americana de mercado no comércio internacional.
Os estoques finais de milho são projetados para recuar 14% em 2008/09. A relação estoque/demanda é projetada em 9,5%, apresentando o quarto ano seguido abaixo dos 11,1% projetados para 2007/08. O aperto gradual dos estoques em relação ao consumo reflete o crescimento da produção de etanol.
