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Inoculantes: fixação de nitrogênio pode reduzir uso de fertilizantes químicos na agricultura

A escolha da cultivar mais adequada à quantidade de nitrogênio disponível é fator de acréscimo na produtividade.

Redação (15/05/2008)- Uma das principais fontes de nutrientes para a fabricação de adubos, o nitrogênio, dependente das reservas de gás natural para se transformar em matéria-prima na agricultura, é um dos grandes vilões dos produtores no momento de fechar o balanço da produção agrícola. Em alta também, as duas outras principais fontes para a fabricação de adubos – o potássio e o fosfato, exigem do governo brasileiro a avaliação de estratégias para impedir a disparada de preços destes insumos, responsáveis, na visão dos produtores, pelo encarecimento global dos alimentos e como obstáculo na expansão da atividade.

Os cereais, incluindo o milho, o sorgo e o milheto, são altamente dependentes do nitrogênio, elemento componente de 70% dos fertilizantes importados. “O crescimento do agronegócio brasileiro está atrelado a este fator, que o torna vulnerável às oscilações de mercado. Daí a importância das pesquisas focadas em alternativas de agroquímicos para a obtenção desses nutrientes” explica o pesquisador Ivanildo Evódio Marriel, da área de eficiência de uso de nitrogênio da Embrapa Milho e Sorgo.

A Embrapa lançou no início de maio um inoculante à base de bactérias fixadoras de nitrogênio, substituindo o produto tradicional na cana-de-açúcar (leia matéria aqui). O uso de inoculantes, além de evitar a contaminação da água pelo nitrato existente nas fórmulas de adubo nitrogenado e contribuir para uma menor emissão de gases de efeito estufa, significa, na cultura da cana, uma economia de pelo menos 30 quilos de nitrogênio ao ano por hectare. Nas culturas do milho, do sorgo e do milheto, segundo Ivanildo, não se espera a substituição total dos adubos nitrogenados pela fixação biológica de nitrogênio, como ocorre na soja, por exemplo.

De acordo com ele, o processo biológico de fixação do nitrogênio nestas culturas sofre maior influência de fatores ambientais, o que reduz a eficiência de absorção do elemento pelas plantas. “Entretanto, em razão da extensa área cultivada com estas culturas, em especial o milho, e por agricultores que utilizam diferentes níveis tecnológicos, a substituição de 20% a 30% do nitrogênio aplicado, que nos parece possível, implicaria em elevados impactos econômicos, sociais e ambientais”, afirma. Além dos ganhos óbvios, o uso de inoculantes torna-se adequado para sistemas de produção em que a legislação não permite o uso de agroquímicos, como em sistemas orgânicos de produção.

Outra vantagem do uso de inoculantes é a otimização do processo no qual o nitrogênio atmosférico é transformado em amônio. Enquanto que na indústria química essa conversão demanda altas temperaturas, pressão e gás natural, a fixação biológica permite a realização do mesmo processo em temperatura ambiente usando a energia solar. A ação das bactérias fixadoras de nitrogênio sobre as plantas inclui mecanismos que agem ou não de maneira independente. Segundo o pesquisador, algumas dessas bactérias produzem hormônios que estimulam o crescimento e a produção, assim como outras favorecem o desenvolvimento do sistema radicular, o que resulta em maior capacidade de absorção de água e de nutrientes do solo.

Pesquisas priorizam cultivares eficientes no uso de nitrogênio

As pesquisas com o inoculante na cultura do milho apontam uma redução de até 50% na dose de fertilizante aplicado na cultura, sem perda de produtividade. De acordo com o pesquisador Ivanildo Marriel, a prática de rotação de culturas com leguminosas (foto acima) constitui uma das alternativas possíveis para que o agricultor reduza sua dependência de adubos nitrogenados, sem perda de produtividade. E ele adianta: além dos inoculantes, a médio prazo, poderão ser disponibilizados cultivares próprios para ambientes pobres em nitrogênio. “A Embrapa Milho e Sorgo possui trabalhos em andamento que incluem linhagens, híbridos e variedades sintéticas em estágios avançados de desenvolvimento que são eficientes no uso de nitrogênio”, revela.

Dos estágios iniciais – onde se procurou quantificar a fixação biológica de nitrogênio atmosférico nas culturas do milho, sorgo e milheto – foram definidas duas estratégias de trabalho: o desenvolvimento de genótipos produtivos mesmo em ambientes com baixa disponibilidade de nitrogênio mineral, mas também capazes de atender à adubação nitrogenada, e a implantação de um banco de bactérias obtidas de amostras de solo, raízes, seiva de plantas e grãos imaturos. Atualmente, segundo Ivanildo, o banco conta com mais de mil estirpes de bactérias testadas in vitro. “Estudos de taxonomia de parte desse grupo, através de métodos convencionais e de biologia avançada, mostram a presença de diferentes tipos de bactérias fixadoras associadas às culturas do milho, sorgo e milheto”, explica.

Os resultados obtidos até agora são altamente promissores, segundo o pesquisador. “No momento, temos ensaios sob condições controladas e de campo onde 60 estirpes pré-selecionadas estão sendo avaliadas como candidatas a inoculantes, além da participação da Embrapa Milho e Sorgo em rede de ensaios de testes de inoculantes formulados pela Embrapa Agrobiologia”, comenta o pesquisador. Cinco Unidades da Embrapa realizam pesquisas com o tema na cultura do milho: Agrobiologia (Seropédica-RJ), Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), Cerrados (Planaltina-DF), Roraima (Boa Vista-RR) e Embrapa Soja (Londrina-PR).

Mais informações podem ser obtidas junto à Área de Comunicação Empresarial (ACE) da Embrapa Milho e Sorgo: (31) 3779-1123 ou [email protected] .