O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,3% no terceiro trimestre deste ano em comparação com o segundo trimestre, segundo dados divulgados ontem (10/10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado mudou a avaliação sobre o ritmo do crescimento brasileiro e sua composição – o País está crescendo menos que o estimado, mas de uma forma melhor, com mais investimento. Na mesma comparação, o investimento cresceu 6,5%, bem acima da alta de 2% no consumo das famílias e da de 0,5% no consumo do governo. No lado da oferta, a indústria foi o grande destaque, aumentando 2,9% sobre o segundo trimestre, enquanto os serviços avançaram 1,6% e a agropecuária recuou 2,5%.
Os números indicam uma expansão mais equilibrada da economia, o que deve ajudar o País a atravessar 2010 sem pressões inflacionárias relevantes – com isso, diminuem os motivos para o Banco Central (BC) antecipar um eventual ciclo de alta dos juros.
Como costuma fazer ao divulgar o PIB do terceiro trimestre de cada ano, o IBGE anunciou ontem revisões das séries trimestrais do PIB, marcadas pela inclusão de novas informações sobre a atividade econômica pelas atualizações das estatísticas adotadas. O resultado do segundo trimestre foi revisto de uma alta de 1,9% para 1,1% em relação ao primeiro, na série livre de influências sazonais. A retração do quarto trimestre de 2008, por sua vez, foi menor do que se pensava: em vez de um tombo de 3,4%, houve uma queda de 2,9%. No acumulado de 2009, o PIB passou a somar um recuo de 1,7%, aumentando a probabilidade de que a economia brasileira encolha neste ano, o que não ocorre desde 1992, quando houve variação negativa de 0,5%.
O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, destaca o avanço forte do investimento, que “cresceu pelo segundo trimestre consecutivo a um ritmo superior ao do PIB”. Juros mais baixos, retomada do crédito e aposta no crescimento mais robusto nos próximos anos têm impulsionado o investimento, segundo analistas.
Entre abril e junho, a alta da Formação Bruta de Capital Fixo – que mede os gastos em máquinas e equipamentos e na construção civil e por isso sinaliza o investimento – tinha sido de 2%, mais que o 1,1% do PIB e o 1,8% registrado pelo conjunto do consumo (das famílias e do governo). No terceiro trimestre, a diferença foi ainda maior, com o investimento crescendo 6,5% e o consumo, 1,7%. “É uma composição mais favorável ao não surgimento de pressões inflacionárias, pelo menos para os próximos seis a nove meses”, avalia ele, observando que, em um quadro de câmbio valorizado, a oferta de produtos importados deve aumentar, ajudando a manter a inflação sob controle.
Para Borges, é provável que o consumo das famílias, que perdeu força do segundo para o terceiro trimestre, passando de uma variação de 2,4% para uma de 2%, se acomode em um ritmo um pouco mais fraco daqui para frente, perto de 1,5% por trimestre. É um ritmo ainda forte, mas não explosivo. Borges acredita que as reduções de impostos sobre produtos como automóveis e linha branca promoveram uma antecipação do consumo, o que pode enfraquecer em parte a demanda por esses bens nos próximos trimestres.
O economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria Integrada, também vê como um bom sinal a recuperação dos investimentos. Esse componente da demanda sofreu muito com a crise, mas, com a perspectiva de retomada da economia, uma parte das empresas já voltou a investir.
“Isso é positivo especialmente para 2011. Para maturar daqui a dois anos e aumentar a capacidade produtiva, os investimentos têm que começar a ser realizados desde já”, afirma ele, que ainda vê bastante capacidade ociosa na economia. Essa folga de recursos, segundo ele, não deve exigir aumento de juros tão cedo – como Borges, ele acredita em uma alta da taxa Selic a partir de setembro.
O analista Antônio Madeira, da MCM Consultores Associados, também diz que os números do PIB mostraram uma situação mais confortável do que se pensava do ponto de vista da ocupação da capacidade instalada na economia. Antes da divulgação do PIB do terceiro trimestre, ele esperava que a folga de recursos se esgotasse na virada do ano. Agora, a tendência é que isso demore mais tempo para ocorrer. Madeira também saúda o avanço da FBCF, mas lembra que se leva tempo razoável até o investimento maturar e se transformar em maior capacidade de oferta. Outro ponto importante é que o investimento havia caído com força no quarto trimestre de 2008 (-9,9% em relação ao anterior) e no primeiro de 2009 (-11%), mostrando que a base de comparação era bastante fraca. “A reação do investimento, porém, é muito positiva, por mostrar o aumento da confiança dos empresários na capacidade de crescimento da economia”, diz Madeira.
O crescimento expressivo da indústria foi outra boa notícia do resultado do PIB no terceiro trimestre. O setor avançou 2,9% em relação ao anterior, quando já havia sido registrada uma alta de 2,6% sobre os primeiros três meses do ano. “Em relação ao trimestre anterior, o país está crescendo. Já é a segunda taxa positiva, depois de duas negativas, e o que se vê é que tanto a indústria quanto os investimentos estão crescendo”, diz Rebeca Palis, gerente de contas trimestrais do IBGE, lembrando que o PIB voltou ao nível registrado no fim de 2007 e começo de 2008.
O desempenho da economia foi bem menos favorável quando comparado ao mesmo período de 2008. O PIB caiu 1,2% em relação ao terceiro trimestre do ano passado, enquanto o investimento amargou perda de 12,5%. O Brasil crescia a um ritmo muito forte naquele período de 2008, quando a quebra do Lehman Brothers derrubou a economia global e também a brasileira. A despeito da forte base de comparação, o consumo das famílias cresceu 3,9% sobre o terceiro trimestre de 2008, registrando o 24º trimestre seguido de alta. Do lado da oferta, o setor de serviços foi o único a apresentar crescimento sobre o período de julho a setembro de 2008, de 2,1%. A indústria caiu 6,9% e a agropecuária recuou 9%. “Os setores industriais que mais sofreram foram os ligados à produção de bens de capital”, ressalta Rebeca.
O economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, tem uma visão um pouco diferente sobre o resultado do PIB. Ele avalia que os números não devem alterar o eventual início do ciclo de alta de juros, que deve ocorrer em março ou abril do ano que vem. Montero chama a atenção para o efeito negativo da variação de estoques, que tirou 2,3 pontos percentuais do crescimento do PIB no terceiro trimestre, na comparação com o mesmo período de 2008. Ele deve revisar para baixo o crescimento esperado para 2009, de 0,4% para algo ligeiramente negativo, mas diz que o cenário para 2010 não deve mudar. “O que a variação de estoques tira num período ela devolve no outro”, afirma Montero, que deve revisar para cima a estimativa de crescimento de 5,5% para o ano que vem.